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Correspondente do L! fala sobre acidente que levou Bianchi à morte

Dia 01/03/2016
03:38

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O pôr-do-sol no circuito de Suzuka no dia que antecedeu o GP do Japão do ano passado foi o mais intenso e bonito que eu já vi. Os últimos raios tingiram em tons de vermelho uma formação de nuvens ameaçadora. Algumas manchas brancas no céu denotavam uma atividade elétrica intensa. Era a aproximação anunciada do tufão Phanfone, que atingiria a região do circuito no dia seguinte.

Nesta altura, já se sabia que o horário da largada, 15 horas locais, seria mantido. Apesar de a previsão apontar um clima complicado, com chuva intensa e ventos fortes. Havia a opção de fazer a prova pela manhã, largando às 11 horas, quando os efeitos do tufão seriam amenos e o risco para os pilotos seria menor. Mas ninguém se dispôs a tomar uma decisão que mexesse com o contrato das televisões ou o deslocamento de quem pagou ingresso. A segurança foi deixada em segundo plano. Um claro erro.

O circuito de Suzuka é o preferido dos pilotos pelos seus desafios. Mas é também um de segurança mais complicada por sua própria natureza. Construído nos anos 60 em um terreno apertado próximo à sede da Honda, a pista possui áreas de escape apertadas. Correr ali com chuva forte acaba representando um risco maior. Isto ficou claro na apreensão demonstrada por muitos pilotos antes da corrida.

Chovia forte na hora da largada, que ocorreu com o Safety Car na pista. A prova foi interrompida após duas voltas. Vinte minutos depois, os carros voltaram à pista, ainda atrás do Safety Car. A largada propriamente dita ocorreu na nona volta, apesar de muitos pilotos reclamarem pelo rádio da falta de visibilidade.



A intensidade da chuva tinha diminuído e, com os carros se movimentando, um trilho mais seco foi se formando. Mas a água voltou a cair mais forte a quinze voltas do final. Para piorar, a luz natural começou a diminuir. Novamente, diversos pilotos voltaram a reclamar via rádio de uma visibilidade ruim.

A direção de prova nada fez. Quando Adrian Sutil rodou na curva Dunlop na volta 42, um trator entrou na área de escape para retirar seu carro. Ao invés de neutralizar a prova com  um Safety Car, a opção foi por sinalizar o local com bandeira amarela dupla. Na volta seguinte, com pneus desgastados e um carro com pouca pressão aerodinâmica, Jules Bianchi perdeu o controle do carro no mesmo ponto. Acabou acertando em cheio o trator, o impacto de seu capacete contra a máquina gerou lesões gravíssimas à sua cabeça, que acabaram custando sua vida.

A prova foi neutralizada em seguida para a entrada do carro médico e, pouco depois, interrompida. A noite já caía em Suzuka, o que inclusive impediu que o helicóptero que levasse Bianchi ao hospital decolasse. O clima no paddock era de caos e consternação. Conversei com Felipe Massa, um dos poucos que falou com franqueza sobre as condições.

- Tinha muita água na pista. Estava difícil enxergar alguma coisa, era muito perigoso. Para mim, demoraram demais para encerrar a corrida. Teve um acidente muito grave no final. Minha preocupação maior é com o Jules, um grande amigo e uma grande pessoal. Parece que ele bateu num trator. Isto é muito complicado e até inaceitável.

Diante deste testemunho de quem estava na pista, a conclusão do relatório da FIA sobre o acidente, colocando a culpa em Bianchi por não ter diminuído a velocidade o suficiente, é algo cínico, para dizer o mínimo.

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