‘Cadê Manchester, Real e Barcelona? Estamos acima’, diz Gobbi ao L!Net
- Matéria
- Mais Notícias
"Estou convencido de que há de se seguir dizendo não, ainda que se trate de uma voz predicando no deserto.”
O Corinthians deixou a Série B, em 2008, para decidir o Mundial de Clubes com o poderoso Chelsea (ING) quatro anos depois - joga neste domingo, às 8h30 (de Brasília). No período, foi o melhor time do Brasil. E o maior da América. Marca forte, tem um dos CTs mais modernos do país, contratos lucrativos de patrocínio e terá o estádio da abertura da Copa de 2014. Seria natural perder a humildade, não?
Talvez por isso a frase do poeta José Saramago (Prêmio Nobel de Literatura de 1998) esteja pendurada em uma das paredes da espaçosa sala da presidência do clube, onde Mário Gobbi Filho atendeu a reportagem do LANCE!Net dias antes de viajar com o time para o Japão.
Atento para não tropeçar na soberba, o mandatário admite que o grande desafio é manter o clube em ascensão na próxima temporada:
– Quando se perde a humildade e a consciência de que sem trabalho não se ganha nada, é um indício de que vai começar a cair – afirma.
Religioso fervoroso, o presidente falou sobre o desejo do título mundial e sobre o futuro do Timão:
LANCE!NET: Como o presidente é antes de uma final? Consegue dormir?
MÁRIO GOBBI: Lembrando da Libertadores, não dá para dizer que você dorme um sono em paz, profundo, descansado. Há uma agitação e inquietação, você vive uma ansiedade. Procuro meditar muito para ter muita paz e, com isso, vou focando no jogo. É um momento muito especial para cada um de nós, um momento raro, que talvez nunca mais vamos ter. Temos de viver isso intensamente.
L!: O que passará pela sua cabeça no palanque, com o troféu, caso o título seja conquistado?
M.G: Não penso nisso, tenho os pés bem no chão, sei das dificuldades. São os maiores times do mundo, só desejo que façamos um campeonato brilhante e à altura das tradições. Claro que ser campeão é um sonho que gostaria de realizar, mas não consigo projetar sem acontecer.
L!: No fim de outubro, você reuniu o elenco no CT e, segundo Tite, inflamou o grupo pelo título mundial...
M.G.: Falei com o grupo poucas vezes, acho que o presidente não deve passar por cima da diretoria, exceto quando todos acham que é o momento de uma conversa. Ali estávamos começando o trabalho para o Mundial, foi um marco para nós.
L!: E qual foi a mensagem?
M.G.: Disse: “Esqueçam o Brasileiro, virem a chave e foquem o Mundial”. Era salutar que eu passasse uma mensagem aos jogadores. Falei sobre o que representa tudo isso, onde chegamos, onde podemos chegar... Estar entre os quatro maiores do mundo, por si só, já é um privilégio, um orgulho. Cadê o Manchester? E o Real Madrid? E o Barcelona? Estamos acima deles, é que não dão valor a isso, à medalha de prata. Essa cultura é que mata o futebol. É gritante um time ser vice-campeão e entrar em crise. Às vezes, acho que sou um ser de outro planeta. Há quem diga: “Prefiro ser último do que segundo.” Acho medíocre. Tem de parar de dizer que, se não ganhou, tudo é porcaria, ninguém presta. Tem de valorizar o vice. Menosprezar um clube que foi ao Mundial e não ganhou? Queremos ganhar, temos um time forte que, na ponta dos cascos, compete de igual pra igual.
L!: A pressão pelo título do Mundial, então, não é nem de perto igual a da Libertadores, concorda?
M.G.: Primeiro porque já ganhamos um, vamos tentar o bi. É diferente. Sobre a Libertadores, criaram esse fantasma. O Corinthians é maior que a Libertadores, não é porque ganhei que vou mudar o que falei. O Corinthians tornou a Libertadores ainda maior. Foi o clube que mais arrecadou, a maior audiência da história do futebol. Mas claro que quero ganhar e faremos de tudo.
L!: Depois do tri brasileiro (2006/2007/2008), o São Paulo só voltou a ganhar neste ano. Para muitos, a soberba atrapalhou. Teme que o Timão suba no salto?
M.G.: Quando se atinge o topo é difícil se manter lá, porque na cultura do futebol você tem de vencer todas. Mas manter um time neste patamar, disputando todos os títulos, é um trabalho exaustivo. O segredo, na minha visão, é a prevenção.
L!: Prevenção em que sentido?
M.G.: Você tem um time que joga e já vai antevendo eventuais alterações que possam surgir com venda de jogadores, mantendo a qualidade. Mano Menezes tem uma frase fantástica: “O clube não cai naquele ano, ele vem caindo”. O ano que cai é só o tiro de misericórdia. E também não é campeão só naquele ano. Quando a Libertadores terminou, disse que era um trabalho de cinco anos, não podíamos ter soberba. Se o time vai mal, tem de resolver na mesma hora. Mas é impossível manter um time sempre vencedor. O futebol é cíclico. Tem de saber ganhar e saber viver o período de reciclagem que todos passam.
L!: Fizeram a prevenção?
M.G.: O livro “A bola não entra por acaso” fala da receita do Barcelona. Você não muda por temporada mais de um jogador por posição. Se pegar o Corinthians nos últimos cinco anos, vai encontrar jogadores de 2008, como Alessandro. Não renovamos com Liedson, no meio vendemos Alex e na defesa, Castán. O time é o mesmo e repusemos com gente que é preparada para entrar. Mesmo assim, é difícil. É mais fácil um camelo passar em um buraco do que fazer do seu time campeão.
L!: Já deu pitacos sobre contratação para a comissão técnica?
M.G.: Fui diretor de futebol por três anos e nos reuníamos para fazer a lista de reforços. O técnico dizia setor e nomes. Sempre foi assim. Uma vez coloquei um palpite e mandaram eu ficar quieto (risos). Nunca me meti na parte técnica. Contrato profissionais de peso para o futebol. Se um dia eu disser: “Quero esse!” estou tirando a responsabilidade deles e passando para mim. Contrato o que eles pedem. Só dou a última palavra em relação aos valores.
L!: Qual será a marca da sua gestão, que está prestes a terminar o primeiro ano de mandato?
M.G.: Eu preciso construir o CT da base. Não é que ele (Andrés Sanhchez, ex-presidente) deixou de lado, é que não dá para fazer tudo. Era muita coisa. O CT da base é a prioridade da minha gestão, eu preciso sair daqui entegando o CT da base pronto. Você está prometendo? Não, eu estou dizendo que vou trabalhar e vou fazer tudo para fazer o CT da base, que é uma prioridade. A prioridade era o estádio. E o estádio saiu.
L!: Com a receita que deve ultrapassar os R$ 300 milhões, acha que o Corinthians pode perder alguma contratação para algum rival?
M.G.: Somos um dos grandes do Brasil. Quando queremos um jogador, temos a estimativa de valor e até onde podemos chegar. Não posso levar como briga com outros clubes, penso no nosso interesse, na necessidade. Fui feliz em contratar jogadores difíceis, que outros queriam.
- Matéria
- Mais Notícias