Beckenbauer dá dicas de como se fazer uma Copa
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Presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, e considerado pela premiê Angela Merkel um dos maiores responsáveis pelo sucesso do evento, Franz Beckenbauer diz que abrigar o torneio deu um novo dinamismo ao futebol no país e trouxe um ganho de imagem imensurável.
Para o Brasil, o ex-zagueiro, campeão do mundo em 1974 como jogador e novamente em 1990, desta vez como treinador, dá um conselho. Que foque em seus objetivos e tire o maior proveito possível da oportunidade de abrigar uma Copa. Ao LANCENET!, por intermédio de sua assessoria, ele fez questão de frisar que tirar o maior proveito de um evento varia de país para país e, por isso, o Brasil tem de estabelecer suas prioridades.
Um dos principais dirigentes esportivos da Europa, Beckenbauer, 66 anos, lembra também a importância de gerir bem uma arena esportiva, tornando-a viável economicamente depois do Mundial.
Os grandes momentos da carreira de Beckenbauer
Quais foram as principais lições que a Alemanha tirou da Copa de 2006?
Talvez a principal tenha sido que o país-sede tem de saber o que quer do evento, trabalhar em sintonia com a Fifa sem deixar de lado seus objetivos enquanto nação. A partir do momento em que definimos qual seria o motor da Copa para a Alemanha, promover a amizade por meio do futebol, sabíamos que um dos objetivos seria unir os alemães diante de um projeto para melhorar a imagem do país. Melhorar a imagem para o mundo e para o próprio povo alemão. Era lindo você sair nas pequenas cidades e encontrar em cada casa uma bandeira alemã. Mexemos com a autoestima da nossa população, melhoramos nosso grau de confiança interna e soubemos receber muito bem os estrangeiros.
O COL teve lucro com a Copa da Alemanha? Por que o governo sul-africano diz ter perdido dinheiro com o Mundial, enquanto a Fifa teria tido lucro e os gregos ainda contabilizam os prejuízos com a Olimpíada de 2004?
Posso falar pela Alemanha, pois comandei o comitê organizador. Ele teve lucro, mais de 150 milhões de euros (R$ 354,2 milhões) na ocasião, dinheiro que foi usado para pagar impostos e reinvestido para fortalecer o esporte no país. A Alemanha tem hoje uma tremenda infraestrutura para a prática de futebol, ótimos estádios, clubes fortes, centros de treinamento de primeira, novos jogadores despontando. Não por acaso a seleção alemã está a potência que todos podem ver. Por isso o Brasil também tem muito a ganhar com a Copa. Pode melhorar muito sua infraestrutura esportiva, ficar com equipes ainda mais fortes e uma seleção poderosíssima.
A última Copa que o Brasil abrigou foi a de 1950, lá se vão mais de 60 anos. No caso da Alemanha, a situação era diferente, a última Copa havia sido em 1974. Como a experiência de 1974 ajudou na experiência de 2006?
Esqueçam 1950. Hoje a realidade é outra. Em 1974, também. A experiência de 2006 foi muito diferente. A primeira mudança foi no número de jogos, que quase dobrou, pois a Copa cresceu. A segunda foi que em 2006 a Alemanha não era mais dividida como em 1974. Tivemos de esquecer 1974, como vocês terão de esquecer 1950.
O Estado teve de colocar muito dinheiro na construção dos estádios ou ficou só com o trabalho de infraestrutura, como gastos para melhorar a mobilidade urbana?
O Estado entrou com recursos para construção de estádios, mas não teve prejuízo, porque teve o dinheiro de volta via impostos de estrangeiros e alemães que ficaram no país durante a Copa do Mundo gerando recursos para o país. O que o governo investiu teve retorno. Se não financeiro, no caso de ações culturais, em ganho de imagem, que é imensurável.
Os grandes momentos da carreira de Beckenbauer:
Para organizar a Copa, quantos funcionários são necessários para o Comitê Organizador Local (COL)?
Depende. Depende do país e do momento. Chegamos a ter 50, depois 100, 200 funcionários. O máximo foi de 279. Mas não serve como parâmetro para outros países. Foi o nosso caso.
Como atender a todas as exigências da Fifa? Afinal a Copa é da Fifa ou do pais-sede?
Dos dois. Por isso é importante um trabalho em parceria, com os dois lados contribuindo para fazer do evento o melhor possível. É interessante para ambos que a Copa seja um sucesso. As exigências da Fifa hoje não são como em 1974, em 1990 ou mesmo em 1994. São maiores. E o país-sede tem de tentar atendê-las. Quando se torna sede, o país e seu governo se comprometem com isso.
Quem mais ganha com a Copa são as empreiteiras?
Não. Se tudo der certo, são o país-sede e sua população. O setor de construção civil é um dos mais beneficiados por causa de reforma e construção de estádios, obras viárias, estações de metrô, novos hotéis. O turismo ganha muito, o comércio também ganha, mas os maiores beneficiários são o país-sede e quem vive lá.
MOMENTOS MARCANTES DA CARREIRA DE BECKENBAUER:

Como manter um estádio depois da Copa?
Isso tem de ser tratado o quanto antes. É necessário definir como ele será gerido. E tem de aproveitá-lo o ano todo, não só para futebol, mas para compras, gastronomia, festas de casamento, infantis, eventos ecumênicos, shows de música... Um estádio tem de ser usado.
A grande maioria do povo brasileiro terá de ver a Copa do Mundo pela TV. Isso não vai gerar enorme frustração?
Depende de como a questão for administrada. Um de nossos grandes
feitos foi organizar as FunFests, onde os torcedores podiam acompanhar os jogos em telões gigantescos, comprar lembranças da Copa, confraternizar, beber, paquerar. Participa de uma Copa não apenas quem vai ao estádio. Esse é o conceito que deu certo na Alemanha e serve para o Brasil, que é imbatível em festas populares.
Após a Copa vem a Olimpíada no Rio de Janeiro. A primeira pode ajudar a segunda?
Sem dúvidas, até para corrigir eventuais falhas cometidas, pois falhas podem ocorrer e fazem parte do percurso. Isso só mostra que o Brasil tem pela frente dois grandes desafios e duas grandes oportunidades de ouro.
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