OPINIÃO: ‘O tema doping exige mais embasamento e menos preconceito’

Confira o que foi publicado no especial de cinco de dias de reportagens exclusivas do L!

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Rafaela Silva aguarda decisão da federação internacional e já perdeu ouro no Pan (Arte: Marina Cardoso/Lance!)

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As revelações de casos de doping em 2019, em especial nos Jogos Pan-Americanos de Lima, colocaram o Brasil em estágio de atenção para um problema que incomoda o esporte há décadas, à medida que os mecanismos de controle são aprimorados, com o objetivo de garantir a competição justa.

Um dos maiores símbolos de superação no país, ao sair da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, para a glória do título olímpico na capital fluminense, em 2016, a judoca Rafaela Silva levou o tema a proporções ainda maiores, após ser flagrada com uma substância proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada) encontrada em remédios para asma. Ela, que acredita ter inalado fenoterol após deixar uma menina de sete meses chupar seu nariz, já perdeu o ouro conquistado no Peru, em agosto, e aguarda uma posição da Federação Internacional de Judô (IJF) sobre seu futuro. Perder Tóquio-2020 é um risco.

Com o objetivo de ampliar o debate sobre as razões para o quadro atual do doping no esporte brasileiro, o LANCE! ouviu atletas, equipes técnicas, dirigentes, advogados e membros da academia, em uma série de reportagens que durou cinco dias, entre a última terça-feira e sábado. Foram sete matérias, todas listadas abaixo, que levaram dois meses de apuração.

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O problema no ciclismo, esporte que mais acumula suspensões, foi o tema da primeira produção. Em seguida, estendemos o debate para todas as modalidades e mostramos, por exemplo, que a Wada registrou 55 casos de violação por consumo de substâncias proibidas no país em 2016. Em 2019, já foram tornados públicos pelo menos 12 casos de atletas de ponta.

A série também analisou o ainda "jovem" sistema antidopagem brasileiro, já que o país só passou a ter um Tribunal Único para julgar os casos no território nacional em 2017, após muita pressão. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, sem dúvidas, foram um impulso para a nação dar passos no setor. Mas, conforme o L! publicou, a realidade orçamentária de nossa Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) ainda está distante das principais potências no combate ao doping.

Como o problema não é só brasileiro e as discussões estão a todo vapor, mostramos o que a Wada planeja na nova versão de seu código, prevista para entrar em vigor em 2021. Enquanto endurece penas para casos intencionais, a entidade tende a agir com mais tolerância em situações de doping sem intenção de ganho de performance. Os legisladores encaram com preocupação, por exemplo, o veto a atletas dependentes químicos que, barrados do esporte, veem suas carreiras despencarem ladeira abaixo. Exemplos brasileiros, como Jobson, ajudaram a incrementar as discussões. O órgão acerta ao perceber a necessidade de compreender as questões mundo atual para aplicá-las em seus grupos de trabalho. Que as propostas sejam aprovadas, em novembro, para que o esporte preserve a essência de agregar, em vez de excluir.

Em meio a tanta dor de cabeça, grande parte dos profissionais martelam duas palavras-chave como soluções: educação e informação. O COB, preocupado com os casos, implementou um programa nesse sentido e há na entidade quem recomende aos atletas que não tomem suplementos, devido ao risco de contaminação. Este foi o tema da última reportagem da série.

Confederações também realizam palestras e colocam profissionais à disposição dos atletas. A ABCD faz o mesmo, não só com foco no alto rendimento, mas nas crianças e nos jovens. Ainda é pouco. A menos de um ano para os Jogos de Tóquio, o Brasil tem uma longa estrada a percorrer no combate ao doping. E precisa falar sobre o assunto, com embasamento e sem preconceitos.

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