Luiz Gomes: ‘A paixão e o irracional nas doações do torcedor no futebol’

O que chama a atenção na doação para Rodinei entrar em campo neste domingo é o gesto em si, a paixão que o futebol desperta e a irracionalidade que é capaz de proporcionar

Rodinei - Internacional
Doação de torcedor do Internacional colocará Rodinei em campo neste domingo (Foto: Ricardo Duarte/Inter)

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Não surpreende, por mais bizarra que possa parecer, a doação do fazendeiro e empresário Elusmar Maggi Scheffer para que o Internacional pague a multa contratual e possa escalar Rodinei no jogo decisivo deste domingo contra o Flamengo no Maracanã. O que impressiona não é o valor, afinal, R$ 1 milhão é apenas um grão na fortuna de soja da família Maggi. O que chama a atenção é o gesto em si, a paixão que o futebol desperta e a irracionalidade que é capaz de proporcionar.

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Maggi doou o que tem. De sobra. Mas quantos não doam - ou não gastam de alguma forma - o que não têm. Histórias não são poucas, como a do corintiano que atrasou prestações da casa para ver a final do Mundial de clubes no Japão ou o colorado que vendeu o carro e embarcou para Abu Dhabi na esperança, enfim frustrada, de ver o Inter virar campeão do mundo pela segunda vez.


Doações de torcedores não chegam a ser uma novidade no futebol brasileiro. Em 1972, por exemplo, o Vasco recorreu à tradicional vaquinha para ajudar a pagar os quase R$ 20 milhões - em valores atuais – gastos na contratação de Tostão. A saída do Mineirinho de Ouro do Cruzeiro foi, à época, o maior negócio entre clubes brasileiros. E acabou tornando-se uma grande decepção para os cruz-maltinos já que seriam apenas 44 jogos e sete gols do parceiro de Pelé na Copa de 70 com a camisa do clube.

Obviamente não havia a facilidade de hoje, as vaquinhas eletrônicas dos sites de internet, como o próprio Vasco fez agora para construir o seu CT. A arrecadação - bastante criticada pela imprensa e mesmo por muitos vascaínos - foi feita naquele tempo através de urnas colocadas à porta de estabelecimentos comerciais de torcedores ilustres, notadamente redes de supermercados pertencentes a imigrantes portugueses. Eram notas de Cr$ 1 (um cruzeiro), moedas de uns poucos centavos, o troco das compras suadas que muitas vezes engrossavam essa conta.

Sim, arrecadar dinheiro entre os torcedores para construir CTs - como esquecer a campanha do tijolinho feita pelo Flamengo no início das obras do Ninho do Urubu - para reformar estádios ou simplesmente para pagar dívidas é muito mais comum do que deveria ser, até hoje, quase meio século depois do caso Tostão, quando em muito ainda prevalece o modelo amador de gestão dos clubes tupiniquins.

Vez por outra surgem mecenas que, seja por paixão, seja por interesses mais ou menos confessáveis - ou uma mistura de tudo isso -, abrem os cofres para ajudar com o dinheiro do próprio bolso o clube do coração.

O Botafogo talvez seja o maior beneficiário de ações desse tipo e a prova de que, por mais belos que sejam aparentemente, esses atos não trazem sustentabilidade, apenas escondem fraquezas. Como se vê pela situação atual do time, mais uma vez rebaixado à Segundona, e do clube, detentor da maior dívida do futebol brasileiro, após uma série de administrações marcadas pela incompetência e a irresponsabilidade.

O que, diga-se de passagem, doação alguma vai resolver.

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