Jayme detalha saída de Mano do Flamengo e aponta jogo mais importante da Copa do Brasil de 2013

Treinador comentou sobre as dificuldades de repôr a saída do treinador e relembrou com carinho a campanha vitoriosa no mata-mata nacional

Jayme de Almeida (Técnico)
Jayme conquistou a Copa do Brasil e o Campeonato Carioca pelo Rubro-Negro (Foto: Divulgação/Flamengo)

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Último técnico campeão da Copa do Brasil pelo Flamengo, Jayme de Almeida tem o coração ligado ao clube. Em 2013, às vésperas das quartas de final da competição, ele atendeu o chamado da diretoria após saída conturbada de Mano Menezes. O ex-treinador relembrou o imbróglio e detalhou o jogo mais importante daquela campanha. 

Em entrevista ao LANCE!, Jayme comentou sobre o momento complicado depois da saída de Mano Menezes. Para o treinador, o jeito com que a situação foi conduzida mexeu com o elenco e colocou os objetivos da temporada em risco. 

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Jayme de Almeida - Flamengo
Jayme trabalhou como auxiliar do clube por quase 10 anos (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

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Apesar do momento complicado, o Flamengo conseguiu dar a volta por cima, muito por conta do olhar terno de Jayme. Ainda sobre a campanha da Copa do Brasil, o treinador apontou o duelo mais importante daquele período, tanto pelo resultado, quanto para a confiança do plantel. 

- A torcida do Flamengo lotou o Maracanã, tomou conta do estádio. Eu falei para eles: 'Hoje vai encher e a gente precisa jogar nosso jogo, com muito amor, eles vão nos ajudar muito'. O jogo começou mais estudado, mas o primeiro gol desmontou o Botafogo. O Paulinho já tinha feito uma jogada para cima do Gilberto, aquele gol fez o Botafogo sentir muito, você percebe de dentro de campo - frisou, antes de concluir: 

- O nosso time massacrou o Botafogo, fizemos jogadas fantásticas. Esse foi o dia que nos levou a acreditar que eles tinham condições de ser campeão. Nos deu força no Campeonato Brasileiro também, deu a confiança que eles tinham perdido com a saída do Mano Menezes. Foi isso que ficou marcado, ali eles eram capazes de fazer qualquer coisa - finalizou. 

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No mesmo palco do título da Copa do Brasil de 2013, o Flamengo tenta o quarto título do mata-mata nacional, nesta quarta-feira. O Rubro-Negro entra em campo às 21h45 (de Brasília), no Maracanã, para mais de 65 mil torcedores. 

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Primeira conversa com o elenco
- Depois de muita conversa, consegui colocar um pouco de confiança neles. Falei que independente de jogar bem ou mal, a gente tinha um compromisso com o maior patrimônio do clube, que é a torcida. E quarta-feira vai estar lotado, é mata-mata, Copa do Brasil, e eles estarão lá para nos apoiar. Se a gente continuar com essa 'nhaca', vai ser uma desgraça. O time do Botafogo é bom, mas nós somos o Flamengo. O time correspondeu, jogou bem, mas a torcida fez a diferença.

- O time era outro. Jogo seguinte ganhamos de cinco do Criciúma. A torcida veio junto também, compareceu. Se você está trabalhando no grupo, todo mundo é importante, não tem bonito, não tem feio, não tem craque. Os caras compraram a ideia e fomos em frente. A minha tranquilidade e identificação com a torcida ajudou muito também. Naquele momento eles estavam precisando de um pouco de carinho. O Mano não quis ofender os jogadores, mas a forma como ele falou mexeu com o grupo.

Série contra o Cruzeiro + gol do Elias 
- O Cruzeiro era um dos maiores times daquele ano. O jogo lá no Mineirão nós demos sorte, eles amassaram a gente de maneira muito contundente. O gol do Carlos Eduardo veio numa lambança na defesa e naquela época ainda existia o gol fora de casa. Voltar para o Maracanã com o 2 a 1 foi uma festa, no sentido do que foi o jogo.

- Eu achava que ia ser muito difícil no Maracanã. Mas eu achei que o Cruzeiro cometeu um erro, ele não atacou o Flamengo. Se eles vem para cima, iam se dar bem, eles eram muito perigosos. O nosso time era inferior e isso nos ajudou a começar a acreditar, a torcida veio junto. Foi aí que começamos a pressionar e, em uma jogada do Paulinho, ele era muito versátil, cruzou e o Elias dá no contrapé do goleiro. Foi um dos dias mais emocionantes dessa campanha, ganhar do Cruzeiro com aquele time, em cima da hora.

- O Pelaipe estava sendo xingado, a gente ficava do lado da torcida. Não está ganhando todo mundo ia xingar, não tem jeito. Quando o Elias fez o gol, a torcida mudou na hora, exaltou o Pelaipe dele quase chorar. Foi muito diferente.

Time reserva ganha confiança
- Entre os jogos, tinha o Brasileirão, um jogo contra o Atlético-MG. Resolvemos deixar o titular para a Copa do Brasil, perder para o Atlético-MG lá no Mineirão era um resultado considerado normal na época. Eles não sabiam que eu ia levar o time inteiro reserva e, no final do jogo, fui abraçado pelo Pelaipe, ele me chamou de corajoso e brincou que achou que fossemos perder de 20 (risos). Foi 1 a 0, com um gol em chute de fora da área. A 'baba' do Flamengo fez um jogo de igual para igual o tempo inteiro. Aquele jogo ali todo mundo percebeu o quanto era importante para o elenco.

Paulinho, André Santos e Amaral
- Além dele jogar muito bem, ele e o André fizeram uma dupla muito boa, o lado esquerdo ficou muito forte. A coisa aconteceu naturalmente, qualidade do André e qualidade do Paulinho. A gente estava preocupado com o André, depois que ele jogou lá com o Paulinho ele nunca mais comentou de querer voltar para o meio-campo.

- O Amaral também foi um ponto muito importante. Já tinha conversado sobre com o Mano, estava achando o nosso meio-campo muito vulnerável e o Elias cansava muito. O Amaral era um cara que sempre chegava pilhado, treinava bem. Eu coloquei ele e ele nos ajudou muito. Falava para ele tomar a bola e tocar para o primeiro de vermelho e preto, eu precisava dele descansado, focado na marcação. Ele fez um trabalho difícil, árduo, mas que deu certo. No gol contra o Athletico, quando ele dá o segundo toque eu pensei 'não faz isso', ele não tinha o hábito de chutar de fora da área. Foi um golaço.

Walter deita e rola + gol Davi 
- Provocação na época que eu jogava era normal. Nem teve efeito, o cara faz gol, é perigoso, tínhamos que marcar ele bem. Não íamos entrar na pilha dele, dar porrada, estávamos focados no jogo. Depois do jogo você responde, se ganhar então.

- O grupo abraçou muito ele (o Elias). O apoio mais importante que ele recebe é dos companheiros, não tenha dúvida disso. Em nenhum momento ele falou para mim que não jogaria, a gente contava com ele, só estávamos preocupados se ele estaria com a cabeça boa para participar. E ele pôde contribuir com um golaço, eu não esperava que ele fosse chutar, a bola estava muito perto do corpo. Foi um lance lindo, ele realmente fazia essa diferença. É difícil falar se ele foi o melhor, porque o Hernane foi um artilheiro. Mas ele era parte muito importante para o time, e todo final de jogo ele pedia para sair. Ele não aguentava.

- Teve um jogo que a torcida me chamou de burro por isso, contra o Bahia. A gente tinha que ganhar no Maracanã, era um ponto que a gente estava contando. Eu chamei o Rafinha, pensando na velocidade, e a torcida tava com um xodó com ele. Quando viram o Rafinha, a torcida vibrou. Na hora, o Elias vê e pede para sair, já que era a última substituição. Não lembro quem ia sair, mas não dava para colocar o Rafinha no lugar do Elias, o Rafinha estava muito perigoso. Na época o Flamengo não tinha grandes reservas e o único para o lugar do Elias era o Val. A torcida não gostava do Val. Quando a torcida viu isso, burro foi o mais tranquilo dos xingamentos. O Val entrou, passou um minuto e o Hernane fez o gol. Os jogadores fizeram questão de vir até mim, me abraçaram. A torcida, depois, gritou meu nome. Em nenhum momento fiquei chateado, entendi o pensamento da torcida. O Val não conseguiu ter essa empatia com a torcida.

Final da Copa do Brasil
- Sabíamos que seria difícil. O Athletico estava ganhando de todo mundo, Quando cheguei no aeroporto e atendi a imprensa percebi isso. As perguntas que me fizeram eram quase pergutando de quanto nós íamos perder. Eles tinham certeza que iriam ganhar. Me deu uma raiva quando percebi. Não é assim, né. É o Flamengo. Só faltava perguntar de quanto íamos perder. O clima da cidade, todos estavam contando com a vitória, que iria acabar ainda na ida. 3 a 0... Nosso time foi muito consciente naquele jogo. Tomou um gol, continuou concentrado, foi um jogo igual e empatamos o jogo com o Amaral. O gol abalou muito eles.

- Eles estavam contando que iam ganhar bem. Quando você acha que vai ganhar bem e toma uma porrada assim, é difícil. Vieram para o segundo tempo muito aquém do que podiam. O time deles era bom para caramba, muito rápido. Dava para perceber que sentiram, e nosso time voltou bem. Poderíamos ter ganho. Tivemos mais oportunidades. Então, quando vieram para o Maracanã, vieram sem moral ainda.

- Ainda mais com desvantagem, que ainda tinha o gol fora, eles em nenhum momento nos agrediram com contundência, com perigo de gol. Não arriscaram nada. Só faltando uns 15 minutos para acabar, colocaram dois atacantes na área, e coloquei o Gonzalez para a bola alta.

- Controlamos o jogo bem, mas ser campeão no 0 a 0 não é legal. Fui campeão carioca em 74 com 0 a 0. Maracanã com 170 mil pessoas, é campeão com o 0 a 0, não é a mesma alegria para a torcida. Eu estava ali pensando que aquele jogo não íamos perder. O Paulinho fez aquela jogada... O que ele jogava de bola era brincadeira.

- Aquela semana foi a final contra o Athletico lá, Corinthians aqui e a final contra o Athletico. Foi a semana mais tensa minha naquele ciclo. Valia a Copa do Brasil e não cair no Brasileirão. Foi uma semana que dormi pouco, mas deu tudo certo.

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