Cruzeiro rebate denúncias e nega que tenha cometido ilegalidades

Diretoria da Raposa, em entrevista coletiva nesta segunda-feira, falou sobre as denúncias veiculadas em matéria do "Fantástico" sobre irregularidades financeiras no clube

Coletiva Cruzeiro
Diretoria do Cruzeiro fez coletiva para rebater denúncias de irregularidades (Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

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A diretoria do Cruzeiro se reuniu e tentou explicar nesta segunda-feira, em coletiva na Toca da Raposa II, as denúncias veiculadas em matéria do programa “Fantástico”, da TV Globo, no último domingo, em que haveria irregularidades em transações financeiras, além de possível falsificação de documentos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, que estão sendo investigadas pela Polícia Civil, que abriu inquérito para apurar os fatos. Se comprovadas, as ações indicariam quebra de regras da FIFA, da CBF e do Governo Federal.

Estiveram presentes o presidente do clube, Wagner Pires de Sá; o vice de futebol, Itair Machado, um dos citados na matéria; o diretor financeiro, Flávio Pena; e o advogado do clube, Edson Travassos. O quarteto respondeu à perguntas dos jornalistas, mas na maior parte do tempo, tentaram se dirigir ao torcedor do Cruzeiro de que as denúncias foram ações políticas de parte opositora da atual diretoria. Confira abaixo os temas abordados e como o Cruzeiro se posicionou.

Considerações sobre a matéria do Fantástico

O presidente Wagner Pires de Sá se pronunciou oficialmente sobre o caso falando que a prática de ter conselheiros trabalhando para o clube de forma remunerada é algo comum, que não fere o estatuto do clube. Pires ainda disse que acatou a ideia do presidente do conselho, Zezé Perrela, para que conselheiros funcionários estejam licenciados do cargo, enquanto estiverem prestando serviço para a Raposa.

- Todos os clubes brasileiros, e há mais de 50 anos, o Cruzeiro adota e pratica a contratação de conselheiros, desde que sejam capacitados. Seria hipocrisia não contratá-los só por ser conselheiros. Quando eles são funcionários, perdem o direito de voto e conversando com o presidente do conselho, ele me sugeriu que conselheiros que trabalharem para o clube fiquem licenciados do cargo, o que acatei - disse Wagner, que em seguida comentou sobre o vice-presidente de futebol, Itair Machado, que recebeu vários elogios e falou sobre o seu salário, outro tema polêmico da matéria.

- Temos grande confiança na nossa equipe técnica, no nosso técnico Mano Menezes e principalmente em nosso vice-presidente de futebol Itair Machado, que está entre os melhores executivos de futebol do Brasil. Só este ano, dois clubes tentaram levar o Itair para assumir cargos de diretor de futebol. Conseguimos mantê-lo e nem por isso ainda possui os melhores vencimentos entre os profissionais que trabalham no futebol brasileiro. Ele trabalha por performance. Se ganharmos, ele terá um percentual de produtividade pelo sucesso do clube.

Itair concentra respostas e justifica ações das denúncias

Após receber afago do presidente do Cruzeiro, Itair Machado foi o protagonista da entrevista coletiva falando a maior parte do tempo. Inclusive, em alguns momentos, discutiu com os jornalistas que foram à Toca da Raposa, principalmente quando fora perguntado sobre a ligação do clube com o empresário Cristiano Richard, que teria recebido como garantia percentuais de jogadores incluindo um menor de idade, por pagamento de dívidas do clube com o agente.

-O principal é o seguinte: o que está nas redes sociais é que o Cruzeiro vendeu um monte de jogador por R$ 2 milhões. Não é verdade. O Cruzeiro fez um contrato de mútuo (empréstimo). O Cruzeiro pagou duas parcelas. Temos aqui os depósitos para comprovar. Depósito não tem como falsificar. Depositamos. a primeira parcela foi paga em 2018 e a segunda em 2019. O importante é mostrar pra você, torcedor: o Cruzeiro não vendeu os jogadores. O Cruzeiro, agora, deve R$ 1,4 milhões. Diante disso tudo, o Cruzeiro resolveu chamar o empresário e fez um novo contrato com o empresário e repactuou em oito parcelas de 190 e poucos mil reais. Já está assinado - disse Itair, que negou ter vendido o jovem Estevão Willian, de 11 anos, o que é proibido pela lei brasileira.

- Apelidaram ele (Estevão) de Messinho, acho até com razão, mas o Cruzeiro em momento algum vendeu um "de menor" (sic) – disse Itair, citando outros dois casos como a disputa com América-MG e Palmeiras, também menores de 16 anos.

-Quero tranquilizar o torcedor sobre o Estevão, "Messinho". O Cruzeiro em momento algum vendeu menor de idade. O Cruzeiro entende que o jogador até os 14 anos vai pra onde quiser. O Cruzeiro jamais venderia, e nem o empresário era burro de comprar um jogador de 12 anos, porque sabe que não tem validade nenhuma. Ele (o garoto Estevão) entrou numa cesta de garantia – completou Itair.


Itair questiona ilegalidade de colocar um jovem de 11 anos como garantia de negócios pelo clube

Não é ilegal. Se você tiver aí o documento da CBF que fala que é ilegal, você me mostra. Não é ilegal. Não vendemos. Enquanto ele estiver vestindo o manto sagrado do Cruzeiro, ele, queira ou não, é patrimônio do Cruzeiro. Não ter contrato ainda é questão da lei. O Cruzeiro pode dar como garantia qualquer patrimônio dele. Nós não vendemos. É ilegal vender jogador para particular ou terceiros, dar como garantia é outra coisa. Enquanto o jogador tiver no Cruzeiro, ele é nosso. Com ou sem contrato - justificou.

Dívidas do clube e investigação policial

Itair e o diretor financeiro da Raposa, Flávio Pena, comentaram sobre a dívidas do Cruzeiro, colocando o alto valor como um passivo herdado da gestão Gilvan de Pinho, além da investigação policial no caso.

– Eu entrei em julho, para ajudar. Sou um cara técnico, mas o que me impressiona na reportagem é que algumas coisas são explicáveis. Poderiam ter feito perguntas, que fizeram, mas não colocaram na íntegra. A dívida é alta, e o pior, é que tivemos valores de salários atrasados, dois ou três meses, mais meses de imagem atrasados, mais imposto de renda, o que obrigou uma antecipação de R$ 50 milhões. Isso gerou uma exposição de caixa do clube. O que fez o Cruzeiro pegar os R$ 2 milhões com o empresário Cristiano Richard. É função de caixa, é desespero. Nossa obrigação foi reduzir as taxas e custos financeiros, como o presidente disse, que em 2017 tínhamos taxas a 4,5%. Reduzimos para 1,5%. Mesmo assim, a dívida que pressiona o caixa e é iminente, como o caso da Fifa, que tivemos que pagar, e gerou problema. Todos os dias temos que fazer uma engenharia, para rever a situação – explicou Flávio Pena.

Sobre o inquérito instaurado pela Polícia Civil de Minas Gerais para apurar denúncias sobre falsificação de documento particular, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, o Cruzeiro deu a seguinte justificativa.

– O processo da Polícia Civil já acontecia anteriormente. Não é processo, é procedimento. Foi aberto, levou meses, ouviram várias pessoas, foi denúncia anônima, fogo amigo. Esse processo foi encerrado, concluído e arquivado. Agora, depois que veio a tona a matéria, o procedimento foi reaberto. O Cruzeiro confia na Polícia Civil, que a gente sabe que é uma das melhores do Brasil. O Cruzeiro está tranquilo quanto a isso. As documentações foram solicitadas, amanhã o Cruzeiro vai entregar na Polícia Civil. E temos tranquilidade. O Cruzeiro jamais vai falir. Essa camisa não tem preço – disse Itair Machado.

Sanções da FIFA e relações com torcidas organizadas

A fala da diretoria do Cruzeiro se mostrou tranquila em dois temas espinhosos para o clube: possíveis sanções pela FIFA caso tenha quebrado alguma regra da entidade que comanda o futebol mundial e ainda os contratos com torcidas organizadas, que possuem TV´s para veicular e divulgar marcas do clube.

– Quanto a essa situação, nosso advogado pode dar uma explicação técnica, mas não haverá, de forma alguma, nenhuma penalidade. Não foi praticado nenhum delito, não houve nada que possa prejudicar nossos contratos com a CBF, a Fifa. Já conversei com a CBF sobre essa situação, eles estão tranquilos – disse o Wágner Pires de Sá.

Em relação a possíveis punições, a contratação de intermediários que não estão cadastrados na CBF, a dinâmica do futebol exige que você faça contratos rápidos. Naquele momento que você faz o contrato, talvez o intermediário tenha vencido ali a licença dele, e eu não vou deixar de fazer o contrato com aquele empresário por esse motivo – completou Edson Travassos, advogado do Cruzeiro.

Sobre a relação com a Máfia Azul e China Azul, Itair Machado tomou a palavra e comentou:

– A ideia foi minha. O Cruzeiro, na gestão passada, sempre tinha muita briga entre as próprias torcidas organizadas. Quando a Máfia Azul veio com o projeto de criar a TV Máfia Azul, o Cruzeiro fez um contrato de publicidade. E seria um bom retorno para o Cruzeiro apoiar o projeto. Vocês da imprensa não têm o Cruzeiro como foco, a TV Máfia Azul tem o Cruzeiro como foco. E ela tem dado retorno satisfatório. A China Azul tem um trabalho grande onde é situada a sede da torcida. Dentro disso tudo, o Cruzeiro pactuou com as torcidas que teria que ser obrigatório evitar as brigas nos estádios. Se vocês pesquisarem, depois que a gente fez isso, não houve nenhuma violência no estádio. Estamos colocando ingresso a R$ 10, famílias estão indo, crianças. A gente entende que o investimento não foi na organizada, foi para o Cruzeiro, para o torcedor – disse Itair Machad, concluindo a entrevista. 

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