Crise no Egito faz brasileiro deixar time de vôlei
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A onda de protestos no Egito – que na sexta-feira chegou ao 18º dia e culminou na renúncia do ditador Hosni Mubarak, que estava há 30 anos no poder – não afetou apenas turistas e a população local.
Ela também abreviou a passagem de um jogador brasileiro de vôlei pelo país do norte africano.
Assustado com a violência e a limitação dos direitos civis, Ronaldo Samuel Nery Lopes abandonou o seu clube, o Entag Harbi, e disse à diretoria que só retornará quando a situação estiver normalizada. Seu contrato vai até abril.
A decisão de voltar a Brasília, sua cidade natal, foi tomada na última quinta-feira. Com o torneio local e os treinos suspensos, Samuel não via motivos para permanecer no Egito, onde morava sozinho.
Sem acesso a internet e com o telefone restrito, a saudade da família também pesou na decisão.
Para completar o panorama desanimador, Samuel mal podia sair de casa, devido ao toque de recolher instituído pelo governo do ex-presidente Hosni Mubarak.
– Nos últimos dias lá, eu só dormia, acordava, comia e dormia... Durante a noite tinha um certo receio, então ficava vendo televisão, jogando video game e só ia para a cama às seis da manhã. Quando acordava, já eram quase três da tarde e começava o toque de recolher – contou ao LANCENET! Samuel, que vivia a 28 quilômetros da Praça Tahrir, no centro do Cairo, principal foco das manifestações populares.
Deixar o Egito não foi uma tarefa fácil. Como a passagem de volta estava marcada para abril, teve de enviar uma mensagem de celular a seus familiares para alterarem o bilhete. Com o novo tíquete em mãos, o desafio foi chegar ao aeroporto.
– Um colega meu do time me levou, mas na estrada fomos parados quatro vezes por policiais e pessoas comuns. Havia até crianças com facas e porretes na mão. Isso deu muito medo – contou o atleta.
Bem como Samuel, outros dois brasileiros que jogavam no Egito também foram embora. Daniel Maciel retornou ao Espírito Santo e João Gabriel Quintanas foi para a Espanha. O único que segue na África esperando pela melhora da situação é Alexandro Luna, que está acompanhado da família.
BATE-BOLA:
LNET!: Como surgiu a oportunidade para jogar no Egito?
Ronaldo Samuel:Eu estava na Espanha, no Palma de Mallorca, e coloquei alguns vídeos na internet. Meu empresário também começou a procurar alguns clubes e surgiu esta oportunidade. O nível do campeonato não é tão alto como em países tradicionais, mas é o melhor da África.
LNET!: E você gostava de morar lá? A situação era satisfatória?
Ronaldo Samuel: Gostava bastante, morava em um lugar tranquilo e bem seguro. O clube sempre foi muito correto. Sempre cumpriram o que prometeram. Nunca passei nenhuma dificuldade.
LNET!:Por que você voltou ao Brasil apenas na quinta-feira?
Ronaldo Samuel: Pensei que a situação iria melhorar rapidamente, o que não aconteceu. Além disso, nos primeiros dias, o aeroporto do Cairo estava uma bagunça.
LNET!: Quando começaram os protestos, você passou alguma vez pelo centro do Cairo?
Ronaldo Samuel: Não. Só havia ido à Praça Tahrir e ao Museu Egípcio umas duas vezes, quando estava de férias. Não tinha a necessidade de ir para lá todos os dias.
LNET!: Você recebeu apoio da Embaixada Brasileira no Cairo?
Ronaldo Samuel: Não muito. Liguei pedindo informações, mas estavam com falta de vontade de atender.
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