Barrichello: ‘Correr por 19 anos é para se orgulhar’
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Rubens Barrichello não esconde de ninguém e já disse diversas vezes que não quer deixar a Fórmula 1 e segue motivado para competir. Uma negociação difícil para a continuidade na Williams ameaça sua permanência e ele sabe disso.
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Mas, apesar de a novela estar se arrastando por todo o semestre, o recordista de largadas na História da categoria está muito tranquilo, como a reportagem do LANCENET! pôde sentir no encontro com ele.
Rubinho reforça o otimismo ao lembrar de uma situação semelhante no fim de 2008, quando virou o ano sem saber se correria e uma vaga de última hora pintou na Brawn, o que possibilitou a ele vencer provas e brigar pelo título.
Sorridente, sem pressa nas respostas e feliz por correr diante da torcida, Barrichello só espera o sim da Williams, ou de outras equipes com as quais negocia, para disputar sua 20 temporada no ano em que chegará aos 40.
LANCENET!: Você chega a mais um Grande Prêmio do Brasil, desta vez com o futuro incerto. Como se sente antes da corrida?
Rubens Barrichello: Meu coração está em paz. É a melhor semana do ano, estou vivendo um momento especial. Tem muita gente que está olhando o outro lado do copo. A gente sem sempre essa coisa de olhar o lado cheio e vazio e o cheio é que tenho de me orgulhar desses 19 anos, pelo fato de ainda estar sendo comentado em competitividade. Ninguém vai fazer o favor de deixar o Rubinho correr para fazer 20 anos. Se Deus quiser e eu realizar esse sonho, será porque acharam que eu era competitivo, com um valor até maior do que a parte financeira, o que acontece muito na Fórmula 1 hoje. Tenho um lado muito acolhedor pós-Fórmula 1, não estou preparado para ele, mas é muito acolhedor. Vamos esperar, não acredito que a gente resolva neste fim de semana, mas estou tranquilo. É um fim de semana de muita alegria, vou tentar o melhor resultado possível.
LNET!: Sua prioridade nas negociações é permanecer na Williams mesmo ou você está negociando com outras escuderias?
Existem outras negociações. Com a Williams é forte porque você não precisa ligar, você vê o pessoal sempre. Hoje em dia, a tranquilidade maior é por ter entendido a situação, o que envolve tudo isso. Não tem muito mais para falar. Algumas pessoas podem falar que o Rubinho sabe mais do que ele quer contar. Mas realmente não sei. Como eu mostro serenidade, as pessoas acham que estou fechado e tranquilo, mas não é isso. Trabalhei muito a minha cabeça para não ficar essa coisa de gente empurrando de um lado e de outro. Vi que nos meses de outubro, novembro e dezembro, o melhor é não ficar lendo o noticiário. No Brasil, dá-se muito furo errado... É para a minha cabeça ficar em paz. O bom é que passei por essa mesmíssima situação de 2008 para 2009. Vou para cima, viver um fim de semana muito gostoso.
LNET!: E do que exatamente a Williams quer para renovar com você?
Não acho que dá para a gente abrir tanto o coração. A situação é boa, sou querido, a minha experiência e velocidade são o que eles esperam. Mas o mundo hoje precisa de certas coisas e a gente entende a parte financeira. Existem alguns fatores que complicam a situação, mas dá para resolver.
LNET!: Felipe Massa disse que o aconselhou a se despedir devido à possibilidade de você não ter um bom carro de novo. Como encarou?
É o voto de carinho de um amigo. É uma opinião legal, mas o importante é deixar claro que não vou me despedir do Brasil e nem o Brasil vai se despedir de mim. É um fim de semana de amor, sentar naquele carro. Sinto que estou aqui no ano que vem. Se vai acontecer ou não, sou sempre brasileiro. Não vou me despedir do brasileiro, vou me despedir só uma vez e espero que seja com 114 anos (risos). Não tenho esse medo de deixar de despedir. Amo o Brasil e estou aqui pela torcida. Se um dia essa torcida pensou algo em vão, hoje é muito favorável.
LNET!: Está ansioso para resolver logo essa situação? Como lida com uma eventual ansiedade?
Não sou uma pessoa ansiosa. Muita gente ajudou nesse sentido. Todos somos ou já fomos (ansiosos). Trabalhei bastante isso. É uma questão de mente, que tem um poder muito grande. Você dando uma injeção de positividade na mente, tudo fica em paz.
LNET!: A Williams teve bom desempenho nos testes de inverno, mas ficou muito aquém durante todo o ano e você marcou só quatro pontos (dois nonos lugares, em Mônaco e no Canadá). O que houve?
Nos testes a gente estava andando com menos gasolina do que a galera. O carro se comportou de uma maneira que parecia melhor do que estava. No fim dos testes, a gente teve uma noção de que não poderia manter o carro baixo para a aerodinâmica, numa situação em que a equipe não conseguiria manter o carro na legalidade do regulamento. Aí danou-se tudo. Na primeira prova, o carro não estava competitivo e depois não houve o progresso durante o ano. Isso não se deve a falta de tentativas, eles tentam arrumar. Mas, com a saída do Sam Michael e a entrada do Mike Coughlan, ficou um vácuo.
E a sua família, como encara essa indefinição? Eles querem que você continue a correr?
A minha família me incentiva 100% nessas horas. O sofrimento maior é deles, porque querem saber o que se passa na minha cabeça e eu passo uma calma muito grande. Eles ficam até calmos, mas ficam naquela ansiedade, o pai quer saber o que exatamente o que o filho está pensando, a esposa quer saber do marido. As crianças é que estão mais tranquilas, sabem que o papai vai sair para correr (risos).
LNET!: Você quer continuar correndo na Fórmula 1, mas, caso isso não seja possível, já pensou em outras possibilidades para competir, como a IndyCar ou a Stock Car?
Não. Não trabalho com essa hipótese (risos). Vou trabalhar ao máximo para fazer isso funcionar, quero muito que funcione. Tenho muito prazer de guiar um carro de corrida, tesão de pilotar. Não tenho interesse em números, em vigésimo ano. As equipes com as quais converso têm carros competitivos, sem desmerecer as outras. Quero estar aqui porque quero estar aqui.
LNET!: É frustrante ver que hoje na Fórmula 1 muitos pilotos de qualidade reconhecida por todos acabam perdendo vagas para outros com mais patrocinadores?
Eu só penso no lado positivo das coisas. Mas você vê por aí quanto nêgo bom acabou durando pouco na Fórmula 1. Por isso, estar há 19 anos é muito positivo e quero estar no 20 de forma competitiva. Nunca estive tão bem fisicamente, nunca quis tanto e seria um desperdício não utilizar a minha competitividade num carro de Fórmula 1 agora.
LNET!: Você se arrepende de alguma coisa na carreira ou faria alguma coisa de forma diferente?
Interlagos foi no começo uma situação de muita pressão, de querer abraçar o mundo. Foi muito, muito difícil. Mas toda essa dificuldade me deu a alegria de hoje em dia e a paz que tenho, de olhar para o público e sentir aquele carinho, de querer ir para a pista, ter um sono bom, brincar com meus filhos. Tenho um orgulho muito grande de ser brasileiro. Nem sei o número exato de corridas que disputei, o que vale mesmo é o fato de estar lutando pela competitividade de uma equipe que, independentemente do que acontecer, no ano que vem será melhor. Vejo tudo como uma chance a mais. Quero ir com tudo!
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