100 anos de Verdão: Crônica especial e a Máquina de 96 na visão de Djalminha
'Visão do título', por Alessandro Abate
Na década de 90 o palmeirense já estava acostumado a comemorar títulos, conquistados por grandes esquadrões. Porém, nenhum foi tão devastador quanto o de 1996, conhecido como o time dos cem gols no Campeonato Paulista (na verdade 102 gols). A campanha histórica somou técnica, arte e profissionalismo, foi “bom enquanto durou”, mesmo que tenha durado tão pouco.
O planejamento começou no fim de 1995, com a volta Vanderlei Luxemburgo e a pontual contratação da dupla Djalminha e Luizão, que já demonstrava o potencial no Guarani. O treinador teve muito tempo para encaixar as peças, como se mexesse em um tabuleiro de xadrez.
Mas os olhos custavam a acreditar o que aquele Palmeiras era capaz de fazer. Em poucos jogos no semestre, o time já era dono de um ataque que chegou a manter média de gols por partida superior a de qualquer seleção imortalizada. Era um rolo compressor que buscava as redes do primeiro ao último minuto de jogo.
Os adversários em campo se abatiam com a impiedosa máquina, mas fora das quatro linhas os torcedores rivais se apaixonavam em ver um futebol ofensivo cadenciado pela arte.
Pelo regulamento, os vencedores dos dois turnos se enfrentariam em uma final, mas o Alviverde imponente venceu ambos e liquidou a fatura. O jogo que garantiu a taça foi contra o Santos, com gols de Luizão (o centésimo palestrino na competição) e Cléber (zagueirão que brilhou no ataque durante a campanha).
Velloso em grande fase; Cafu e Júnior sendo os laterais efetivos na linha de fundo que hoje estão em extinção; Sandro e Cléber em uma zaga que tinha pouco trabalho; Amaral e Flávio Conceição como volantes incansáveis por todo o campo; Djalminha e Rivaldo maestros da mais fina arte; Müller e Luizão formando a dupla garçom e goleador; Elivélton como o 12 jogador, Galeano de alma palmeirense e o estrategista Luxa tirando o melhor de cada um.
Uma pena para o futebol que essa Academia tenha se desmanchado em tão pouco tempo. Não foi o Verdão mais vencedor, mas acho que foi o mais encantador que vi jogar.
"É um orgulho ter feito parte desse timaço", por Djlaminha
Camisa 10 do título paulista de 1996
"Nosso time era o mais completo. Uma verdadeira Seleção Brasileira, que conseguiu fazer algo muito especial. Jogávamos com alegria e encantávamos os torcedores. Eu tive essa oportunidade e o privilégio de atuar nesse timaço, uma máquina de fazer gols. Fizemos mais de cem gols no Campeonato Paulista. Eu fiquei um ano e meio, pouco tempo, mas foram de muitas alegrias no Palmeiras. Foi o melhor time que joguei em toda a minha carreira. Nossa, tínhamos tantos craques, como Cafu, Rivaldo, Luizão, Müller, que hoje, dificilmente, a gente consegue reunir novamente.
O Vanderlei Luxemburgo formou o elenco com jogadores de clubes diferentes e deu certo muito rapidamente. Era uma equipe que buscava o gol a todo instante. Ficou marcada pelos cem gols. Ela fazia um, dois, três e sempre corria atrás de mais. Era gostoso de ver jogar. Nós tínhamos alegria em campo e o torcedor sabia que, quando nós entrávamos, era para golear. Foi uma pena que aquela equipe tenha se desfeito tão rapidamente, mas todos nós sabemos que ficamos marcados por jogarmos em um dos maiores times de todos os tempos. Isso, sem dúvida, é um orgulho para todos nós e algo inesquecível.
Mas, quando me perguntam, eu sempre falo que aquele Palmeiras não marcou época apenas por ter um ataque que fazia muitos gols. Era um time bem equilibrado e cada um cumpria a sua parte. É bom destacar que gente também tinha uma defesa muito forte, que levou poucos gols. O Amaralzinho, meu grande parceiro, sempre foi um cara que dava o sangue para nos ajudar quando as coisas apertavam. Tinha também o Flávio Conceição e a rapaziada lá atrás, o Clébão, o Sandro, Cafu, Júnior, só feras, que ajudavam bastante. Eram eles que davam a sustentação e nos ajudavam bastante com os gols lá na frente. Nós tínhamos uma sintonia perfeita. Dá muita saudade lembrar daquela época."
(Pôster especial sobre o time de 1996 chega às bancas nesta quarta-feira. Não perca!)