Ao LANCE!, Eduardo Baptista diz que Flu não pode errar nas contratações

Técnico do Fluminense fala porque aceitou convite do clube, sobre ter o mesmo estilo do pai, e opina que o Flu terá cuidado com as contratações em 2016

Eduardo Baptista
Eduardo Baptista posa para o LANCE! nas Laranjeiras (Foto: Wagner Meier/Lancepress)

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Eduardo Baptista é da nova safra de técnicos brasileiros. Com pouco tempo de trabalho no Sport, conquistou espaço no cenário nacional e recebeu a primeira chance em um clube do eixo Rio-São Paulo há cerca de dois meses. Estudioso e com fome por novos métodos de trabalho, Eduardo tem um estilo tranquilo e educado. Mas sabe ser firme quando necessário. Apesar dos objetivos estarem em 2016, ele quer o Tricolor vencendo nesta reta final de Campeonato Brasileiro, mas não esconde que já pensa no planejamento do futuro junto com a diretoria.

– Já começou o trabalho para reforçarmos o elenco. Acho que a primeira coisa que definimos foi o perfil do grupo. O perfil já foi definido e hoje nós sabemos que o jogador no mercado está escasso e caro – explica o treinador.

E o comandante tricolor também tem consciência de que não vai ser fácil conseguir reforços no mercado. A crise financeira também atingiu o futebol e os tempos no Fluminense são bem diferentes daqueles em que a Unimed-Rio colocava rios de dinheiro na busca por estrelas. Com os pés no chão, o técnico ressalta que a busca por reforços para 2016 será pontual e afirma que a comissão e a diretoria não podem errar nessas contratações.

– Tem que ser contratações pontuais e com essa dificuldade financeira nós não podemos errar. Já temos alguns nomes, estamos observando, analisando direitinho. Não são muitas posições, não será um número grande de contratações e serão pontuais para encaixar. Tenho analisado o ano inteiro, fizemos um estudo dos jogos para sabermos quais as deficiências que tivemos – disse.

Mais habituado ao time das Laranjeiras, Eduardo chegou muito perto de uma final nacional em pouco tempo de clube. Ao fazer um balanço deste período desde que chegou ao Rio de Janeiro, o treinador ressalta que ainda falta muito para chegar aonde ele deseja:

– A gente conseguiu fazer grandes jogos. Este é o grande lado positivo. Jogos de concentração, de muita força, de chegada, de qualidade, mas alternando com jogos ruins. Meu grande papel nesta reta final do ano é dar esse equilíbrio para deixar tudo no mesmo nível. Quando cheguei a primeira coisa que fiz foi ajustar a parte defensiva e dali nós começamos a parte do jogo, evoluímos. No último jogo já voltamos a pecar um pouco no sistema defensivo. O que vem me incomodando ainda é a falta desse equilíbrio nos jogos.

E Eduardo não demorou muito para conquistar a confiança do elenco. Jogadores importantes como Fred e Diego Cavalieri abraçaram rapidamente a filosofia do treinador e isso contribuiu para a rápida implementação do método de trabalho dele com os mais jovens. Quem fala um explica um pouco essa relação com os jogador é o goleiro:

– O Enderson também implantou uma filosofia boa, depois as coisas não andaram. Eduardo veio com uma ideia nova. Bem objetivo, direto. Importante a permanência dele e de uma base para podermos dar seguimento e ter um 2016 melhor.

Confira a entrevista na íntegra de Eduardo Baptista ao LANCE!


Qual é a importância de já ter uma base montada por aqui para o trabalho e o planejamento para o próximo ano?
Já temos algumas posições encaminhadas. As laterais, por exemplo. Na direita tem o Jonathan, o Wellington Silva (que vem sendo improvisado na esquerda). Na esquerda tem o Giovanni e o Léo Pelé voltando, o Ayrton se firmando no profissional. Acho que é muito daquilo que eu já falei. Poder fazer contratações pontuais e que essas contratações sejam de jogadores que venham para vestir a camisa. Jogadores que cheguem para se não titulares, numa condição de brigar pela vaga. Eu, a diretoria, estamos com o pensamento de aposta. É apostar na base. Já que vamos trazer poucas peças, quem chegar tem que ter qualidade e entender o tamanho do Fluminense. Esse elenco e esse perfil montado, a margem de erro diminui. Estamos estudando muito bem, até com o Ricardo que é do nosso scout. Estamos conversando bastante e observando alguns jogadores para não errarmos e se possível começar o ano com 90% do elenco definido.

Você estava bem no Sport. Era querido pela diretoria e pela torcida. Outros clubes grandes devem terminar o ano sem técnico e você poderia receber outras propostas. Porque escolheu o Fluminense?
Desafio. Senti que no Sport meu ciclo estava se encerrando. Nós montamos um elenco excepcional lá no Sport. Talvez um dos melhores já montados. Era cômodo pra mim ficar até o fim do ano lá e iria ficar até o fim, mas veio a oportunidade de treinar o Fluminense e aqui se tem uma filosofia que eu gosto e que acho que é o caminho certo, que é ter a base muito forte, com jogadores preparados. Foi isso que me seduziu, além de ser um grande time, que foi campeão brasileiro recentemente e resgatar tudo isso.


Você falou sobre trabalhar com a base. Alguns meninos foram muito bem na equipe Sub-20 nesta temporada e devem receber oportunidades ano que vem. Com Liga Sul-Minas-Rio, Campeonato Carioca, Copa do Brasil e Brasileirão a serem disputados, pensa em trabalhar com um elenco maior?
Eu não quero trabalhar o ano que vem com um elenco muito inchado, muito grande. Quando se tem essa proposta, a base é o seu suporte. Acompanhamos alguns jogos finais do Sub-20. A ideia é ter esse acompanhamento e trabalhar o mais perto possível. Teremos o nosso time, o elenco, mas com o suporte dos meninos da base. De repente um jogo em que você precisa de dois, três jogadores, nós teremos a segurança de ir lá e buscar. Ou de repente, eles vão performar e continuar aqui também. A base é importante quando se tem muitos jogos.

O início da sua carreira foi como preparador físico do seu pai. Depois você virou auxiliar-técnico e com o tempo acabou virando treinador. Você se espelha nele ou quer ser apenas conhecido como o Eduardo e não como o filho do Nelsinho Baptista?
Não tem como eu não me espelhar nele. Foram dez anos trabalhando juntos. Tenho muito do estilo do meu pai, mas também tenho minha convicções e meu estilo de trabalhar. Gosto de conversar, tentar entender todos os lados. Também estudo muito, sempre procuro novos métodos na internet. Gosto de falar de mim.

Dificilmente as atividades nos seus treinamentos são repetidas. Isto é parte da sua filosofia ou você faz mais isso apenas pelo momento na temporada?
Você chega no momento de final de ano, o atleta de futebol já está desgastado fisicamente, por isso faço essas variações de treinamentos. Todo treinamento tem que ter um objetivo final. Seja de uma melhor qualidade de passe, físico. Você dificilmente viu um treinamento físico por conta de desgaste nesta fase da temporada. Essa parte vai da motivação do dia a dia que é desgastante. Hoje, com a internet, tem muita coisa nova surgindo e eu gosto de estar aproveitando, estar estudando, tentar olhar as partida que acontecem lá fora e aqui dentro também, estudando os jogos, principalmente o que nós perdemos, para ver onde erramos e vamos conversando no que pecamos mais para tentar melhorar.

Na última semana você fez várias experiências na equipe titular. Neste momento em que o time já não tem grandes ambições no Campeonato Brasileiro, é possível ter espaço para observar alguns jogadores que você pouco viu em ação desde que chegou?
As oportunidades surgem na medida do possível. Alguns jogadores que estão se destacando, a gente acaba puxando. Nesta reta final tivemos jogos em que o Fred não pôde jogar. Testamos um sistema novo. Eles tem que estar trabalhando sempre. Pesado, focado, eu gosto de dar oportunidade para todos. Só os zagueiros que não consegui dar uma oportunidade real. Quero muito ver o Artur em jogo, o próprio Edson, Willian vem treinando bem, o Douglas.

Este ano foi de reconstrução para o Fluminense. Você chegou após um período em que o clube teve um patrocinador que investia muito no futebol e em contratações, salários. O atual patrocinador recentemente fez um acordo para pagar parcelas atrasadas e já disse que não tem condições de permanecer para o ano que vem. Como é conviver com este tipo de dificuldade?
Não foram me passado valores. O que sabemos é que temos que ter uma responsabilidade financeira. Os tempo aqui mudaram. Os nomes que são passados tem uma análise de custo e a diretoria se posiciona. Se der para buscar, nós vamos atrás. Se for fora da realidade, a gente busca outro. Nós não sentamos para falar muito em valores. Pelo menos eu fico fora deste assunto. O Mário (Bittencourt, vice de futebol) e o Fernando (Simone, diretor de futebol), cuidam dessa parte. Nós procuramos olhar para atingirmos o jogador que a gente quer e ele também não seja tão caro para não nos prejudicar ano que vem.

Depois da vitória sobre o Vasco, o time praticamente ficou sem ambições na temporada. A campanha neste ano foi razoável. Você acha que o time relaxou por conta desses resultados?
Não poderia, mas eu vejo diferente. Mesmo quando nós tínhamos ambições maiores neste Campeonato Brasileiro, o time oscilou. Tiveram jogos que faltaram alguns jogadores mais experientes, como o Fred, um Pierre. Precisamos mais amadurecer o grupo, dar uma maturidade a ele, do que propriamente dizer que o time relaxou ou não relaxou. Eu estou indo mais por essa linha.

Alguns jovens jogadores que vem se destacando, como Gustavo Scarpa, Marcos Júnior e Marlon, podem deixar o clube no ano que vem. Como você vê isso?
Um time como o Fluminense que tem a proposta de revelar jogadores, esse "problema" se torna inevitável. O próprio Gustavo Scarpa jogando, de repente, as Olimpíadas no ano que vem, entrando no cenário internacional, vai correr esse risco. Eu converso bastante com a diretoria. Se for uma proposta muita alta, que a diretoria ache interessante e que o Fluminense possa se beneficiar, nós vamos entender. Mas torcemos para que a gente possa repor. Já trabalhamos com possíveis perdas. Se, por exemplo, o Scarpa for negociado, já temos alguns jogadores no nosso radar. O que eu tento passar para eles, Scarpa, Marcos Júnior, Marlon, é que este é o primeiro brasileiro deles. É preciso maturar mais. São jogadores que amadurecem. Estou aqui há dois meses e sinto neles um amadurecimento diário. Talvez se esses jogadores fizeram mais um brasileiro ano que vem, em alto nível, com mais confiança, talvez eles fiquem até mais valorizados.

Fred vai voltar ao time para o jogo de amanhã?
Eu acho que é importante o Fred acabar o ano jogando. Caso contrário, ele vai ficar um período muito grande sem atuar por conta das férias. O Fred é um jogador muito importante no jogo, no treino. O departamento médico tem feito um esforço grande e nós temos uma previsão para que ele possa atuar contra o Grêmio. Nossa expectativa é muito boa. Queremos que ele acabe o ano jogando. Pelo menos mais três partidas. Será muito importante. O Fred é muito experiente. É uma liderança nata dentro do elenco. Dentro do campo ele passa uma segurança para o time e principalmente para os garotos. A perda dele nesse momento nós sentimos, mas tentamos equilibrar com outros jogadores experientes como o Cícero, o Pierre.



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