Papo com Castroneves: Perdi meu irmão mais velho

Morte de Gil de Ferran abalou o mundo do automobilismo

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Em 2003, Gil de Ferran venceu a Indy 500 e Helio Castroneves foi o 2º. Por motivação de Helio, ambos foram para o alambrado de Indianapolis. Foto: IndyCar Media

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Por Helio Castroneves

Nunca foi tão difícil escrever uma coluna como esta. O automobilismo está repleto de fatos vibrantes e tenho procurado trazer justamente essa realidade para vocês, semanalmente. Mas confesso que me sinto um pouco travado para escrever sobre o falecimento prematuro de Gil de Ferran.

Gil faleceu no dia 29 de dezembro, em Poca Locka, na Flórida, quando pilotava um carro esportivo na pista do Concours Club. Ao seu lado, estava seu filho Luc, que viu de perto todo o drama que se passou. Gil se sentiu mal enquanto percorria o circuito, mas teve tempo de parar o carro na entrada dos boxes.

Ao chamado de Lu, o socorro veio de imediato e ele foi levado de ambulância para um hospital da região, mas já não havia mais o que os médicos pudessem fazer quando ele chegou. O trabalho de ressuscitação, pelo qual passou na pista com sucesso, não pôde ser repetido no percurso e Gil morreu ainda na ambulância, antes da chegada ao hospital.

Eu estava na Colômbia, com Adriana e Mikaella, para passar o Natal e Ano Novo no país natal da Adriana. Nossa volta estava prevista para o dia 3 de janeiro. Justamente naquele 29 de dezembro, estávamos comemorando o 14º aniversário da minha filha, em meio, obviamente, a todos os preparativos para o Réveillon.

A partir do momento em que a notícia chegou, não havia mais condições de fazer festa. Nossa preocupação, da Adriana e a minha, era partir para a Flórida o mais cedo possível para dar apoio à Angela, Anne e Luc.

Meu telefone não parava de tocar, com chamadas de várias partes do mundo, enquanto tentávamos encontrar uma maneira para deixar a Colômbia mais cedo. A única alternativa encontrada foi um voo saindo de Bogotá na tarde do dia 31, com destino a Miami. Já era noite quando desembarcamos, mas com tempo suficiente para alugar um carro e ir para a casa do Gil, em Fort Lauderdale. Entramos em 2024 com um clima muito diferente de outras comemorações dessa natureza, ali mesmo na casa do Gil ou na minha, ali perto dele. Aliás, éramos praticamente vizinhos. O clima não era de festa, mas sim de reverenciar sua memória e lembrar de tantas coisas maravilhosas que ele fez.

Para mim, Gil era um irmão mais velho e foram inúmeras as vezes em que ele me tratou como seu irmão mais novo, inclusive dando bronca. Nós chegamos juntos na Penske em 2000. Ele, já experiente, e eu apenas no meu terceiro ano de Indy. Eu era muito jovem e precisava aprender muita coisa.

É verdade que o fato de ele ser brasileiro – quer dizer, nasceu na França, mas era brasileiro, vocês entenderam – ajudou muito na comunicação, mas o principal fator foi que, nos quatros anos em que convivemos dentro da Penske, aprendi demais com ele. E fora das pistas também.

E isso é interessante porque, em diversas ocasiões, ele nem precisava falar, bastava observar, pois ele ensinava também pelo exemplo. “Opa, o Cabeção fez assim. Ele tem razão, vou fazer igual”. Tempos depois, lá vinha ele: “Gostando de ver, aprendeu direitinho”.  

E assim vivemos, muito próximos um do outro, por praticamente 24 anos de nossas vidas. É algo perturbador ver que ele faleceu tão jovem, tão cheio de vida, atuando em tantas frentes com aquele conhecimento técnico e de gestão que só ele tinha. Basta ver o quanto melhorou a McLaren com a chegada dele.

Perdemos um dos melhores pilotos do mundo. Eu perdi meu irmão mais velho.

Até semana que vem e quero encerrar desejando a mais rápida e pronta recuperação do nosso querido Wilson Fittipaldi Jr., pai do Christian, que completou 80 anos no dia 25, mas que precisou ser internado por problemas de saúde. Força aí, Tigrão!

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