Coluna: ‘Lewis Hamilton, o palestrante’

Luiz Gustavo Bichara escreve sobre participação de piloto inglês no VTEX Day, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo

Lewis Hamilton
Lewis Hamilton fez um pit stop no Brasil após GP da Austrália (FOTO: Divulgação)

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No domingo, dia 10 de abril, Lewis Hamilton disputava o GP da Austrália de F1. No dia seguinte, amanheceu na Malásia, atendendo a compromissos com patrocinadores. De lá, antes de voltar para a fábrica e trabalhar no pacote de melhoria de sua Mercedes, fez um pit stop no Brasil.

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A visita foi surpresa tanto para fãs como para muita gente que vive o dia a dia da F1 e teve como propósito a participação de Hamilton no VTEX Day, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo.

Hamilton brilhou. Demonstrando profissionalismo ímpar, o inglês respondeu a perguntas feitas por Mariano Gomide (que ao lado do lendário Geraldo Thomaz fundou esse unicórnio brasileiro) e esbanjou simpatia.

Quem conhece o inglês poderia temer que a conversa fosse um pouco repetitiva (ou mesmo politicamente correta por demais). Mas LH44 deu show, não fugindo de pergunta alguma. Desde questões prosaicas, como o que faz e come antes das corridas (yoga e nada, respectivamente), até outras mais profundas como seu maior sonho (aqui benignas platitudes, como a paz mundial, igualdade de oportunidades, o fim da fome), Hamilton tratou de tudo de maneira gentil e articulada, demonstrando que, para além de superatleta, é um baita orador e um cara dotado de um raciocínio privilegiado.

Indagado sobre o futuro, afirmou ser curioso pensar que o fim de sua carreira está próximo, já que se sente física e mentalmente no auge – ainda que o campeonato com 23 corridas o deixe cansado.

Para aqueles fãs mais assíduos da F1, a exposição de Hamilton satisfez algumas curiosidades. Por exemplo, o fato de as decisões sobre as mudanças no carro no final de semana de corrida serem ditadas pelo tempo que cada uma delas demanda. E a gente achando que era só apertar um botão... Ele contou também que não se dá conta se às vezes é grosso ou não no rádio, porque, como nunca vê as corridas, mal se lembra do que disse.

Perguntado sobre a diferença entre sua pilotagem hoje e no início da carreira, o inglês disse que, ao estrear na F1, pilotava com muita fome de provar o erro daqueles que vaticinavam seu fracasso. Hoje, corre por algo maior, ciente de seu papel e responsabilidade coletiva, de maneira menos impetuosa, e sempre atrás dos pontos necessários para a equipe.

Hamilton explicou que, no ano passado, muitas vezes priorizou o campeonato de construtores – em detrimento do de pilotos – pois é ele quem seria o gatilho do bônus salarial para os 2 mil membros da equipe. Hoje Lewis Hamilton sabe que corre não por si, mas por todos.

Ao lembrar do início, relatou as dificuldades inerentes ao desafio de um garoto negro, tentando vencer num esporte altamente elitizado como o automobilismo. Contou que ia à escola, na prática, apenas dois dias por semana, e o restante do tempo permanecia treinando. O heptacampeão foi indagado, algumas vezes, sobre os seus sacrifícios e renúncias, e surpreendeu ao dizer que nunca sofreu, porque sempre fez o que gostava.

Ele falou também, com viva emoção, sobre o que considera ser o momento transformacional de sua vida: o encontro com Ron Denis, aos 12 anos, quando “avisou” para o futuro patrão que seria campeão do mundo. Hoje é fácil notar que essa seria uma profecia auto realizável, até com certa aura de inevitabilidade.

Após sua palestra para uma audiência de milhares de pessoas que lotaram a Expo-SP, o inglês ainda ficou para um almoço mais reservado, onde dialogou com os convivas. Neste momento, pude perguntar-lhe quais os seus maiores rivais na F1. Aparentando pensar por alguns segundos, desconfio que só para ser gentil, ele cravou: Alonso, Nico e Vettel (nos dias bons). Ele reiterou ainda, que a comparação entre ele e Alonso em 2007, quando os dois foram companheiros de equipe, não era muito justa, pois ele era um estreante, enquanto o espanhol já era um campeão.

Hamilton é um piloto ESG total. Por isso fiquei curioso quando perguntaram a ele se o futuro da F-1 seriam os carros elétricos. De pronto, percebeu-se o desafio de seu posicionamento, num tema tão complexo quanto a matriz energética e a própria compatibilidade de suas crenças ecológicas com seu ganha pão. Mas ele ponderou ao responder que a saída não deve residir nos motores elétricos, em face dos danos ecológicos envolvidos na extração das matérias primas utilizadas nas baterias. Essa talvez seja uma saída de quem busca, se não coerência, algum conforto cognitivo. Ato contínuo, Hamilton disse que sente muita falta dos V10 e V12, e concordou que os V6 não são cool, embora muito rápidos.

Questionado sobre o circuito mais desafiador da F-1, ele não pestanejou: os novos e os de rua como Mônaco, que requerem, segundo ele, cojones. Entre os favoritos estão os de Nürburgring e Spa.

Findo o almoço, sempre com um sorriso no rosto, o supercampeão seguiu sua jornada. Um dia depois, fez uma postagem se exercitando numa Praia, já em casa, em Mônaco.

Podemos torcer ou não para Lewis Hamilton, mas não há como não o admirar. Ele não é somente um superatleta, é, também, uma inteligência privilegiada e um ser humano inspirador.

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