Novato no país, Sergio Hernández revela dificuldades na adaptação em Brasília

Peneira do Porto (Foto: Divulgação)
Peneira do Porto (Foto: Divulgação)

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Hexacampeão da liga argentina de basquete (com Peñarol, Boca Juniors e Estudiantes) e medalhista de bronze com a seleção de seu país nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, Sergio Hernández, de 50 anos, foi contratado pelo Brasília para recolocar a equipe no caminho das vitórias após a decepcionante eliminação nas quartas de final da última edição do NBB.

Em pouco tempo de trabalho – iniciado em agosto –, conseguiu um resultado expressivo ao levar o time ao bicampeonato da Liga Sul-Americana em novembro, após vitória sobre o Aguada (URU). Mas, no NBB, o panorama não é bom. O Brasília chegou ao recesso de fim de ano, com só cinco vitórias em 11 partidas e a oitava colocação.

Exigente e ciente da cobrança existente sobre a equipe, devido aos altos investimentos, Hernández reconhece que o time está devendo.

– Dando um peso para a Liga Sul-Americana, posso dizer que merecemos uma nota cinco. No momento que importava, quando precisava ganhar, ganhamos. Mas no NBB estamos muito mal, muito abaixo de um cinco – disse Hernández, que passa as festa de fim de ano na Argentina, ao lado da família.

Neste período que está em Brasília, o argentino tem encontrado dificuldades para implementar seu estilo de jogo. Ao L!, admitiu que não é fácil mudar a rotina de um elenco que é praticamente o mesmo há anos. Quatro dos cinco titulares (Nezinho, Alex, Arthur e Guilherme Giovannoni) são os mesmos desde a temporada 2009/10. Juntos, ganharam três títulos nacionais.

– São atletas que levam muitos anos juntos. Mudar alguns hábitos que acho que tem de mudar é o mais difícil. São hábitos de jogo, treino e convivência. Não posso mudar imediatamente. Não estamos em uma liga desenvolvimento sub-22. O time, várias vezes, joga de memória e esquece as novas regras que tenho. São coisas que não estavam mal, mas eles têm de se acostumar a jogar com novos elementos – disse o treinador.

Apesar da dificuldade para fazer com que os jogadores se adequem plenamente ao seu estilo, Hernández garante estar desfrutando da sua primeira experiência no Brasil e da relação com jogadores, dirigentes e membros da comissão técnica.

– A relação humana é ideal, são pessoas leais, caras que estão permanentemente procurando fazer o que eu peço, e me ajudando nesta adaptação ao país. Mas, basquetebolisticamente, não estamos bem. Não vou falar que sou o culpado, mas a máxima responsabilidade quando um time não tem uma linha clara de jogo é do treinador – completou.

Bate-Bola

Sergio Hernández
em entrevista exclusiva ao LANCE!

Você já identificou porque o time tem oscilado tanto no NBB, no qual não ganhou dois jogos seguidos?
Pode ser que haja problema de concentração, mentalidade, motivação. Mas falei com os jogadores, que não conheço eles muito bem. Se fosse um time no qual levo dois, três anos, poderia ter uma análise mais certa do que acontece.

O que tem assustado bastante é o exagero em arremessos de três (média de 28,5 por jogo). Isso é algo que lhe incomoda?
Não temos um jogo interior claro, e estamos sentindo a falta do Alex (lesionado na coxa direita há um mês) para melhorar isso. Sem ele, temos um problema. Arthur é chutador, Guilherme (Giovannoni) é chutador e o Nezinho é mais chutador que outra coisa. E esta dependência de chutes de três tem incomodado muito. Só jogamos um contra um para chutar.

Como você avalia o NBB?
O nível de jogo está bom, há bons treinadores, as equipes são bem preparadas. Mas ainda há um desnível muito grande entre os oito melhores e os últimos seis. A organização dos times quanto à viagem e logística é boa. Mas o campeonato tem pouca promoção, as pessoas não consomem o produto. Você vê ginásios vazios, mais até do que eu gostaria de ver. O produto é bom, mas precisa se vender mais. Você faz investimento grande, esforço grande, mas para quem? Há momentos que não parece um evento da importância que tem. Parece um jogo local, um jogo escolar. Tem de se aumentar um pouco profissionalismo. A Liga deve ser mais rigorosa com algumas questões de estrutura. Já joguei três jogos com o cronômetro de 24 segundos em baixo e não acontece nada. Mas o Brasil tem todo potencial, jogadores jovens e uma liga de desenvolvimento muito interessante.

Você torce para que o Brasil receba um convite para a Copa do Mundo da Espanha?
Tenho uma só opinião. O Brasil precisa ter o wild card. Mas não falo isso porque eu estou aqui. Se estivesse na Turquia (outro concorrente), falaria o mesmo. O Brasil tem história, tem um bom presente. Como vai deixar o Brasil fora do Mundial? O Brasil vai jogar o Mundial. Estou cansado de ouvir que jogadores não querem jogar pela Seleção. Dirigi seis anos a Argentina e joguei 20 vezes contra o Brasil. Sempre estavam Tiago  (Splitter), Anderson (Varejão), Leandrinho e algumas vezes o Nenê. Não sei de onde tiram que agora o brasileiro não quer jogar pela Seleção, que não tem amor pela camiseta. É mentira isso. 

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