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Os estaduais precisam mudar

Torneios são grandes demais para os clubes que disputam campeonatos nacionais e pequeno demais para times fora destas competições

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Taça do Campeonato Paulista (Foto: Raul Ramos/Agência Paulistão)

Fabio Ritter - 06/02/2024 - 12:05

Fabio Ritter - 06/02/2024 - 12:05

Todo início de ano é a mesma discussão: o que fazer com os campeonatos estaduais? Aqueles que foram os grandes torneios do passado, tendo um papel fundamental na consolidação do Brasil como o país do futebol, perderam a relevância faz tempo. Pelo menos neste formato e para os clubes grandes. Mas como resolver isso?

O contexto histórico

No início do século passado, quando o futebol chegou ao Brasil, as primeiras partidas e competições eram disputadas entre clubes da mesma cidade ou região. Em uma época em que viajar era extremamente caro e demorado, existia até campeonatos citadinos entre clubes da mesma cidade. Estes formatos de competição foram fundamentais para consolidar o esporte, atraindo praticantes e criando uma base de torcedores.

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As décadas se passaram e o modelo adotado de competição para um país de dimensões continentais deu super certo. Criaram-se as federações responsáveis por espalhar o jogo por todos os estados da nação. Assim, atletas dos mais longínquos destinos do Brasil tiveram a oportunidade de praticar o futebol e chegar a equipes profissionais. Mais tarde os torneios evoluíram e as competições nacionais foram criadas, incrementando o jogo e levando o esporte a outro patamar.

A globalização verificada na década de 90 mexeu de novo, e profundamente, com este cenário. As transferências internacionais de atletas dispararam. Craques passaram a deixar o país ainda muito novos em busca de dólares nos campeonatos europeus. Estes, por sua vez, aterrissaram no Brasil com a chegada das TVs por assinatura. A competição ficou ferrenha. E aquilo que um dia era resolvido no bairro ou até na mesma cidade, passou a ter dimensões globais.

E como ficou o nosso futebol nisso? Bom, o Brasil não conseguiu responder prontamente a esta ameaça mercadológica. Decidiu-se aproveitar a abundância de talento e explorar esta fonte de receita com cada vez mais transações para o futebol estrangeiro. Estrategicamente, não conseguimos pensar no nosso esporte como um competidor nesta nova ordem mundial.

Fluminense x Flamengo - Final do Campeonato Carioca 2023 - Taça - Troféu

Taça do Campeonato Carioca (Foto: Armando Paiva/Lance!)


O contexto atual

Em um novo cenário competitivo que crianças, jovens e adultos são bombardeados com campeonatos de todo o mundo diariamente na sua TV, tablet e smartphone, os estaduais certamente ficam no final desta fila de preferência. Não tem como um Tottenham x Manchester City, com craques do mundo todo, competir com um Botafogo x Bangu, em Moça Bonita, aos 52 graus na sombra, no mês de janeiro.

Quando em minha experiência de cinco anos no Grêmio, sempre fui um defensor do fim dos campeonatos estaduais. Pensava que não fazia sentido para um clube que disputava competições nacionais e sul-americanas ter de jogar durante três meses com equipes do interior do estado. Depois, quando fui para a CBF, passei a enxergar esta questão sob outro ponto de vista.

Voltando lá para início deste texto, vemos que o futebol só é o que é no Brasil porque atingiu um nível de expansão absoluto em seu território. Retirando o olhar das grandes metrópoles, é fundamental enxergar que o futebol consegue chegar em todas as cidades e localidades do país, independente do seu tamanho. E aqui os campeonatos estaduais, e o papel das federações, ainda são fundamentais.

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O consagrado goleiro Weverton, hoje no Palmeiras, começou no Juventus do Acre, sua terra natal. Se lá não existissem campeonatos para seu time disputar, este certamente seria um talento desperdiçado para nosso futebol. E os exemplos deste tipo sabemos que são inúmeros. Assim, o espraiamento do futebol é uma das grandes estratégias que deram certo no nosso país e fizeram sermos um celeiro ad aeternum de craques.

Agora, diante do cenário global, precisamos entender que se faz necessário mexer nesta estrutura para tentarmos competir. Sim, os estaduais e as federações são fundamentais na disseminação do futebol como esporte a ser jogado e assistido, além de formar atletas. No entanto, para clubes de primeira linha do país passarem a competir com o mercado global, não há mais espaço para se gastar três meses do nosso calendário neste tipo de campeonato.

Hoje, o estadual é grande demais para os clubes que disputam campeonatos nacionais, em especial a Série A, e pequeno demais para clubes fora destas competições. Este cenário cria os clubes temporários que funcionam apenas três meses no ano e depois fecham as portas. Por mais que eles possam se considerar profissionais, sabemos que neste formato, infelizmente, não o são.

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Palmeiras e Santos se enfrentam pelo Paulistão 2024 (Foto: Rebeca Reis/Ag. Paulistão)


A proposta de mudança

Assim, só resta uma alternativa óbvia: diminuir os estaduais para os grandes e aumentar para os pequenos. Minha sugestão é um campeonato estadual que dure o ano todo, ou pelo menos dez meses, considerando mais um de pré-temporada e outro de férias dos atletas. Jogariam nele aqueles clubes não envolvidos em competições nacionais, o que irá variar bastante de estado para estado.

A fase final, que duraria um mês, seria disputada no mês de fevereiro, para os clubes ditos grandes usarem como uma pré-temporada, além de manter o vínculo com as outras cidades do seu estado. Seria um supercampeonato, tipo um March Madness do basquete universitário americano, para usar não mais que oito datas.

A partir de março, já iniciaria o Brasileirão, apenas nos finais de semana, valorizando o principal campeonato nacional. As outras divisões nacionais também começariam com os jogos distribuídos uma vez na semana, valorizando também o seu produto.

Esta é uma discussão complexa e que envolve uma infinidade de atores. Não há resposta correta, mas sim opções que podemos tentar para responder a uma ameaça competitiva fortíssima que é o futebol estrangeiro. Da forma que está, já sabemos que estamos ficando para trás. Precisamos usar o que os estaduais nos trazem de positivo, como o desenvolvimento de talentos e a consolidação do esporte em todo o território nacional, mas adaptá-los à nova ordem competitiva mundial.

Diminuí-los para os clubes grandes gerará um Campeonato Brasileiro com menos atletas lesionados, jogos mais espaçados, parando nas datas FIFA e incrementando o produto. Abrem-se oportunidades para viagens ao exterior para torneios internacionais que expandam a marca dos clubes. Por outro lado, aumentando para os clubes menores será uma chance de eles terem um calendário anual para seus atletas e torcedores. Todo mundo sai ganhando. 

* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lance!

Fabio Ritter - Coluna

Fabio Ritter é colunista do Lance! Biz (Arte Lance!)

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