Luiz Gomes: ‘Impossível esperar do Ramon treinador o mesmo sucesso do Ramon jogador’
Elenco é fraco, os salários nem sempre estão em dia e a turbulência extracampo não raro reflete-se dentro das quatro linhas. Ele, portanto, vai precisar de tempo e paz na Colina

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A paralisação causada pela pandemia do coronavírus permitiu ao Vasco procurar com mais calma o substituto de Abel Braga, que se demitiu depois de 14 jogos e apenas quatro vitórias, com cinco empates e cinco derrotas. Se é que alguma coisa no Vasco - ao lado do Cruzeiro o mais conturbado clube do futebol brasileiro atualmente - pode ser feito com calma em um ambiente em que o presidente está enfraquecido e grupos e grupelhos políticos se enfrentam ferozmente na briga pelo poder.
Neste cenário, a escolha de Ramon Menezes foi uma tentativa de buscar um mínimo de consenso. Não pelo que o ex-jogador tem a apresentar como treinador, mas, principalmente, pelo passado de ídolo cruz-maltino, um dos ícones daquele que para muitos foi o melhor Vasco de todos os tempos, no final dos anos de 1990 e início deste século.
Ramon conquistou quase tudo que disputou pelo Vasco. Comandou o meio-campo durante quatro temporadas tendo ao lado nomes como Juninho Pernambucano, Romário, Edmundo, Mauro Galvão e outros craques. Foi destaque na histórica e até hoje solitária conquista da Libertadores de 1998. Com ele, o time chegou também à final do primeiro Mundial de Clubes da Fifa, em 2000, quando acabou derrotado pelo Corinthians. Voltaria ao clube ainda mais duas vezes, ainda como jogador, em 2002 ajudando o time a escapar do rebaixamento e se tornando o melhor meio-campo do Brasileirão com 15 gols marcados. Já em 2006 a passagem foi rápida e sem grande expressão, depois de desentendimentos com o então treinador Renato Gaúcho.
A experiência de Ramon como professor é irrisória. Começou como auxiliar técnico no Joinville, passou duas vezes pelo Anápolis de Goiás, comandou o Guarani-MG e a Tombense, também de Minas. Desde o começo do ano passado, era auxiliar técnico do cruz-maltino tendo trabalhado ao lado de Vanderlei Luxemburgo e Abel. Assumir o comando efetivo, portanto, é um salto gigantesco em sua carreira, uma cartada decisiva para ele, uma grande aposta para o clube.
Ramon, e não dá para esquecer disso, já começa a trabalhar com um peso nas costas. O sucesso como jogador, o futebol elegante, as cobranças de falta magistrais e, principalmente os títulos que o fizeram ídolo geram no torcedor, ainda que inconscientemente, a expectativa de que tudo poderá se repetir agora. Não é uma história nova, há outras tantas por aí com esse roteiro e que nem sempre chegaram a um final feliz.
Falcão, no Internacional, Rogério Ceni, no São Paulo, são apenas dois exemplos de ídolos que sentaram no banco e não deram certo. É verdade que Ceni, então um estreante na profissão, foi vítima muito mais da instabilidade política do Tricolor do que do fracasso de seu trabalho. No lado oposto, Renato Portaluppi, que não por acaso ganhou até estátua na porta da Arena do Grêmio, é um caso de sucesso como jogador e como treinador. Seu cacife nunca deixou de crescer junto ao clube e ao torcedor gremista, mesmo nos momentos mais complicados do time, quando conquistas pareciam distantes.
Ramon é o nome certo para o Vasco neste momento - conhece o clube e seus problemas, tem o respeito do torcedor, apoio de ex-jogadores e, isso é fundamental, vai receber um salário que cabe nas conturbadas finanças do clube. Além dele, se falou em São Januário em Eduardo Barroca, Jair Ventura, Zé Ricardo e Ricardo Gomes que acabaram descartados por razões diversas.
Mas o Vasco que Ramon recebe agora é bem diferente daquele em que brilhou no meio-campo. Que não se espere dele, portanto, mais do que pode dar. O elenco é fraco, os salários nem sempre estão em dia, a turbulência extracampo não raro reflete-se dentro das quatro linhas. Como qualquer treinador que chega ele vai precisar de tempo, mas, principalmente, de muita paz para trabalhar. Só assim, tem chances de deixar de ser uma aposta, uma promessa, para proporcionar a realidade que os vascaínos esperam viver daqui para frente.
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