Fla-Flu: transmissões nas TVs dos clubes geram debate de novo modelo

Final do Carioca acontece nesta quarta, com transmissão pelo SBT e FlaTV. Confira o que dizem especialistas sobre esse novo modelo de transmissão que surgiu após a MP 984

Arrascaeta e Evanilson - Fluminense x Flamengo
Jogo acontece nesta quarta, às 21h, no Maracanã (FOTO: MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC)

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A MP 984, que fala sobre direitos de transmissão e duração de contrato de trabalho de atletas durante a pandemia de coronavírus, também chamada de “MP do Flamengo”, vem dando o que falar desde que foi proposta e assinada pelo presidente Jair Bolsonaro. De lá para cá, o Campeonato estadual do Rio de Janeiro voltou a rolar, com muitas incógnitas sobre o modelo adotado nas transmissões da final da Taça Rio e também do Carioca.

Por exemplo, quem assistiu à final da Taça Rio entre Fluminense e Flamengo, na última quarta-feira (8), com narração da FluTV, percebeu que o locutor evitava citar os nomes dos atletas rubro-negros, já que esse tipo de modelo tem um caráter mais clubista, justamente por ser feito internamente, dentro do clube.

Já no primeiro jogo da final do Carioca, transmitido no domingo pela mesma FluTV, o narrador falou os nomes dos jogadores rivais e a transmissão teve um caráter mais isento. Por que isso aconteceu? Patrocinadores exigiram? E por que, com esse novo modelo de transmissão, os clubes não promoveram uma entrevista coletiva virtual depois da partida?

De acordo com especialistas, apesar de ainda ser muito cedo fazer prognósticos concretos sobre como vai ser o modelo de transmissão de cada clube caso a MP 984 realmente seja aprovada, o problema foi a falta de um conteúdo mais “profissional”. Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, sócio da ‘14’, agência de conteúdo estratégico e ex-vice-presidente de marketing do Vasco da Gama, aponta que o problema principal foi a falta de diálogo e de um debate mais amplo na construção de uma pauta tão importante para o futebol brasileiro.

- A discussão que foi precipitada pela MP necessita de mais complexidade. O principal ponto que eu coloco na mesa é a forma que essa comercialização vai se dar, se os clubes do mesmo campeonato terão que comercializar de maneira única, se vende cada um por si, se cria-se ligas. E a outra é exatamente a da produção do sinal – explica. Ele foi complementado por outro profissional da área em relação aos patrocínios.

'Os patrocinadores não vão expor suas marcas em transmissões de qualidade duvidosa', diz Gustavo Herbetta

- Os patrocinadores não vão escolher um lado da briga e não vão expor suas marcas em transmissões de qualidade duvidosa, em um cenário onde não se sabe onde vai passar o jogo horas antes dele acontecer. E os patrocinadores atuais (da camisa) vão olhar isso como contrapartida, até porque ele só fez o contrato para ter sua marca exposta nas transmissões dos jogos - disse Gustavo Herbetta, fundador e CCO da Lmid, agência de marketing esportivo, ex- superintendente de marketing do Corinthians entre 2015 e 2017 e ex-diretor da FPF em 2019.

'Este é um novo produto de comunicação e é assim que deve ser tratado', diz Marcelo Palaia

No entanto, também existe o outro lado, como é o caso defendido por Marcelo Palaia, especialista em marketing esportivo e professor sobre o tema na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

- Pode-se questionar o conteúdo, já que ninguém acredita que um clube dará destaque ao adversário em suas TVs, mesmo que ele mereça, e nem tampouco que os assuntos que não agradem à instituição e sua diretoria serão abordados livremente, mas não se pode questionar a importância que elas já têm. Este é um novo produto de comunicação e é assim que deve ser tratado. É inegável que os clubes possuem as melhores informações sobre sua própria equipe, os assuntos mais exclusivos, os bastidores mais restritos e isso interessa muito ao torcedor/consumidor, e é aí que os patrocinadores entram e passam a ter uma grande visibilidade com as possibilidades de geração de conteúdo – diz.

Corroborando com essa opinião, é só pegar o caso do próprio Fluminense: o Tricolor das Laranjeiras conseguiu capitalizar e monetizar sua transmissão, já que bateu o recorde mundial de exibições ao vivo no YouTube, com cerca de 3,5 milhões de visualizações simultâneas na final da Taça Rio. Além disso, o clube conseguiu envolver cerca de sete patrocinadores, suficientes para bancar toda a equipe de produção da gravação. Palaia complementa:

'Caberá aos clubes, patrocinadores e suas agências adaptar-se aos novos tempos e regras', diz Palaia

- Os torcedores irão consumir esses conteúdos que, inclusive, permitem novos formatos de interação junto à equipe e seus patrocinadores. A segmentação da audiência é algo bem importante, visto que dificilmente um torcedor acessará o canal adversário para informação ou entretenimento. Caberá aos clubes, patrocinadores e suas agências adaptar-se aos novos tempos e regras. É melhor participar da festa do vizinho do que sentar na varanda de sua casa e reclamar do barulho da festa.

Pelo mundo
Mesmo com os clubes negociando de forma independente os direitos de transmissão, as principais ligas pelo mundo fecharam acordo com grandes conglomerados de mídia para a produção de um conteúdo mais 'profissional'. Gustavo Herbetta alerta para essa realidade estrangeira:

- Basta seguir o que já é feito na Premier League, Bundesliga, La Liga, Serie A, MLS, NFL, NBA, MLB, NHL e tantas outras. A NFL negociou em bloco um jogo por semana apenas no Facebook. Em pacote, por exclusividade em cada produto, abrangendo todo o mix de canais, produzido por quem sabe produzir, comercializado por quem sabe comercializar – afirmou.

- A La Liga tem um acordo com a MediaPro, uma super empresa de mídia, que é responsável por fazer essa captura. Isso não muda a propriedade do que é capturado, mas padroniza o produto e dá garantia para todo o público que haverá acesso de qualidade e "isento" do que é produzido. Já a Conmebol produz o sinal da Libertadores e distribui. A Bundesliga também. É claro que se quem produz o sinal não é uma empresa com compromisso jornalístico, a editorialização da transmissão não responderá necessariamente ao interesse jornalístico. Mas não precisa ficar sujeito ao interesse de um dos clubes – finaliza  Bruno Maia.

Flamengo e Fluminense se encontram nesta quarta-feira, às 21h, no Maracanã, para a grande final do Campeonato Carioca. No jogo de ida, o Rubro-Negro, que não terá Gabigol, expulso, venceu por 2 a 1 e tem a vantagem do empate. A transmissão será no SBT e na FlaTV, canal do YouTube.

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