Vilão de 2002, Alexandre desabafa: 'Sou palmeirense e sofro demais'

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Mesmo que em tom de brincadeira, a primeira reação do ex-zagueiro Alexandre ao telefonema do LANCENET! transparece o fardo de ser rebaixado com o Palmeiras:
– A torcida quer me matar!
Vilão da queda por ter falhado nos dois últimos jogos de 2002 (leia mais abaixo), o ex-defensor atualmente mora em uma fazenda em São Pedro do Suaçuí (MG). Ele se diz torcedor do Verdão e garante que irá acompanhar o jogo deste domingo, contra o Flamengo, que pode sacramentar a ida do Alviverde para a Série B.
Na entrevista a seguir, Alexandre relembra as horas de tensão depois do derradeiro apito final e aponta o erro de Levir Culpi há exatos dez anos, entre outros assuntos. Confira.
LANCENET!: Como vê o time?
A situação é complicada, porque o torcedor do Palmeiras já passou por isso uma vez e está na mesma situação, e acredito que agora é ainda pior. Faltando três rodadas, o clube já está praticamente rebaixado. Com a pressão dentro e fora de campo, não há mais condições de lutar mais.
L!: Você sofre com o time?
Sou palmeirense e sofro demais. Assisto a todos os jogos e torço bastante. Parte da imprensa e da torcida precisava de alguém para ser o vilão e o escolhido fui eu. Naquela época, poucas pessoas tinham coragem de chegar na imprensa e falar o que estava acontecendo. Era muito fácil você jogar, perder o jogo e entrar no túnel, tomar o banho e ir embora para casa. Eram poucos que paravam para dar entrevista e eu fui um dos que deram a cara. Quando a equipe caiu, é claro que fiquei marcado por isso, porque eu era mais o que aparecia. Imagino que essa turma esteja sentindo muito, porque a situação que eu passei foi muito complicada na época. O Palmeiras não caiu naquela última partida, caiu durante todo o ano.
L!: O grupo era rachado?
Não, não tinha isso. Havia problemas que todo grupo tem, com discussões. O problema é que a equipe não ganhava, ficava dez dias em Jarinu (SP) e chegava na hora de jogar e a equipe não ganhava.
L!: Os times são parecidos?
Naquela época tinha grandes jogadores, de Seleção, e agora tem bons jogadores, mas a equipe não se encontra. Aí tem a pressão de que precisa ganhar na reta final. Lembro muito bem que vinha treinador, fazia reunião, depois ficávamos sozinhos procurando uma maneira de entrar em campo desligado dos problemas, para apenas jogar o futebol. Mas quando começava o jogo e levava um gol,desandava tudo. A pressão vinha, o torcedor já não aceitava e nada dava certo. É igual.
L!: Quem é culpado agora?
A culpa é de todo mundo. Não tem como culpar apenas um jogador ou presidente, é todo mundo.
L!: E em 2002?
Naquela época, fui rotulado como o vilão. Mas foi todo mundo. Pênalti que não converteram, juiz anulou nosso gol legal...
L!: Você falhou feio nos dois últimos jogos da campanha...
Contra o Flamengo, estávamos ganhando de 1 a 0 e eu fui recuar a bola, peguei mal, e o cara fez o gol. Fiquei arrasado e triste. Mas me lembro muito bem também que, contra a Portuguesa, o jogo estava empatado por 1 a 1, no finalzinho do jogo eu fiz de cabeça e garanti os três pontos. Contra o Cruzeiro também. Mas isso ninguém lembra. E contra o Vitória o lance foi rápido, não dava para tirar com o pé.

Alexandre chora e é consolado por César e Arce após errar contra o Flamengo
L!: Como foi a noite pós-queda?
Não teve noite, passei acordado. Estava tão preocupado em voltar para São Paulo que eu pedi para ir embora de Salvador para Belo Horizonte. Fui liberado, mas em Salvador encontrei com cinco ou seis torcedores da Mancha e eles estava transtornados. Eu estava sem agasalho, coloquei um boné, mas me reconheceram no balcão e tentaram me agredir. Aí veio a segurança do aeroporto e separou.
L!: Você sofreu pressão da torcida. Como vê as ameaças atualmente?
Torcedor tem que parar de querer invadir treino para atrapalhar a concentração do jogador. Nunca deu certo, nunca vai dar. Pensa comigo: se você está trabalhando e tem torcedores querendo invadir o seu local de trabalho, como fica a sua cabeça? Lugar de torcedor é na arquibancada, ainda mais a Mancha (Alviverde), que adora querer invadir treino e fazer reunião com jogador. Lugar de torcedor é na arquibancada, paga ingresso e vai criticar lá. Não está bom, vai para casa.
L!: Vocês foram obrigados a fazer muitas reuniões com a Mancha em 2002?
Se abriram o portão, os caras querem conversar. Você não iria? Tem de ir. Culpada é a diretoria que abriu o portão. Isso aconteceu só na reta final, quando começou a cair. A torcida queria solução. Reunião do torcedor para falar para o jogador que precisa ganhar... para, né? Isso não existe. Só no Brasil tem isso.
L!: E a gestão do Mustafá?
O Mustafá fez o que tinha de fazer, mudou de treinador quando precisou. Naquela época se não me engano quatro vezes. Se for apontar um dos culpados pode ter sido o Luxemburgo, por que não? Ele montou uma equipe e largou em 2002. Aí veio o Murtosa, perdeu e foi dispensado. Veio o Levir Culpi e o time caiu com ele.
L!: E o trabalho do Levir era bom?
Q O cara é fantástico, bom profissional. Porém, tenho uma crítica para fazer. Eu o considero como um pai, mas problema é que ele é muito gente boa. Treinador não pode ser gente boa, paizão, que jogador não gosta. Jogador é sem-vergonha, gosta de treinador igual ao Vanderlei (Luxemburgo). Se pisar fora da linha com ele, você está fora do grupo.
Alexandre, o vilão
Lambança contra o Fla
Na 28 rodada, o Palmeiras ia empatando com o Flamengo por 0 a 0 no Palestra Itália, quando Alexandre se atrapalhou ao recuar
a bola para o Sergio de cabeça e a perdeu para Liedson, que teve apenas o trabalho de completar. Nenê, no segundo tempo, garantiu o empate para o Verdão.
Nova falha e queda
Mesmo com chances de escapar da Série B e dependendo apenas de si, o Palmeiras perdeu para o Vitória por 4 a 3, no Barradão, com uma falha de Alexandre no terceiro gol do rival e foi rebaixado. Após cruzamento, ele tentou afastar de cabeça, mas deixou a bola nos pés de Zé Roberto.
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