Djalminha: ‘O time de 96, no Allianz, seria ainda melhor, com mais gols’
Meia titular e um dos principais jogadores da Máquina Verde, o camisa 10 falou ao LANCE! sobre a conquista e projetou como seria aquele time na nova Arena do clube
Há 20 anos, no dia 2 de junho de 1996, o Palmeiras confirmava a conquista do Paulistão contra o Santos com vitória por 2 a 0 no Palestra Itália. A taça do Campeonato Paulista aos jogadores, porém, só foi entregue no Pacaembu, palco do jogo desta quinta-feira contra o Grêmio, pelo Brasileirão. O LANCE! lembra gol a gol como foi a conquista histórica há duas décadas.
Djalminha, um dos pilares daquele título inesquecível para o torcedor palmeirense, falou ao LANCE! sobre a conquista histórica, as lembranças, como imaginaria aquele time atuando no futebol atual e, exercendo hoje a função de comentarista de TV, também deu seu pitaco sobre o momento do clube e a importância de uma vitória em cima de um candidato ao título brasileiro.
- Neste campeonato, não tem muito favoritismo, acho que o fator casa ajuda, influencia muito o apoio do torcedor, se fosse na Arena melhor ainda, porque lá o Palmeiras tem 100% de aproveitamento, mas mesmo assim eu acho que é um ótimo jogo para mostrar que é um candidato ao título. Principalmente contra o Grêmio, que é uma equipe forte, joga bem dentro e fora de casa, jogo importantíssimo - comentou Djalminha, que pode servir de inspiração para os 11 atletas que foram a campo nesta quinta. Inspiração em que fez história vestindo a camisa 10 do Palmeiras.
Palavra de quem foi um enorme personagem naquela que talvez tenha sido a campanha mais espetacular da história do clube. O camisa 10 do time marcou 14 dos 102 gols da Máquina do Verdão comandada por Vanderlei Luxemburgo.
Em comemoração à data do 20º aniversário do título e do feito histórico, Djalminha abriu a caixa de lembranças de um momento único em sua carreira.
Qual é o seu sentimento em relação ao time e ao título paulista de 96?
Muito prazer, acho que foi o time que eu mais desfrutei, sendo campeão, principalmente da maneira que foi, de uma forma inédita, fazendo mais de 100 gols, foi maravilhoso.
Quando você se deu conta que aquele seria um timaço?
Desde a pré-temporada, quando a gente começou os treinamentos, lá já deu para sentir, mas foi a partir dos jogos mesmo que a gente pôde ter a noção que viraria aquilo que virou.
Foi o melhor time em que você já jogou?
Foi, com certeza, já joguei em Seleção Brasileira, na Europa e, de fato, foi melhor time em que joguei.
Vocês não viam adversários, jogavam tanto contra os pequenos quanto contra os grandes do mesmo jeito. Como era isso?
Era exatamente isso, não estávamos preocupados contra quem iríamos jogar, mas a maneira que a gente jogava, jogávamos sempre igual, da mesma maneira. É lógico que quando a gente enfrenta equipes de melhor qualidade, mais fortes, você tem um pouquinho mais de dificuldade, mas era a nossa característica de buscar o jogo, buscar o gol, mesmo depois do 1 a 0, fosse contra o grande ou contra o pequeno, a mentalidade era a mesma. Objetivo era a goleada.
Hoje seria muito difícil montar um time com tantos bons valores juntos...
Acho que seria impossível, porque hoje a gente não consegue ter no Brasil jogadores no auge da carreira jogando por aqui, diria que seria realmente impossível.
Até pelos valores...
Na verdade não é nem isso, a questão é que nem estariam jogando no Brasil. A garotada sai muito cedo, quando estivessem no auge, nem estariam por aqui, estariam jogando fora do Brasil.
Qual era a relação dos jogadores com o Luxemburgo e qual é o percentual de participação dele no sucesso do time?
Não saberia te falar em porcentagem, mas que ele também foi importante na formação, na ideia, no conceito do time, eu acho que também foi fundamental. Lógico que quem joga são sempre os jogadores, mas ele também colocou essa mentalidade ofensiva, de buscar sempre o gol, de quando fizesse o segundo, buscasse o terceiro, de continuar atacando, continuar jogando para frente. Então ele também foi uma pessoa muito importante dentro daquele processo.
O grupo tinha um bom relacionamento com ele?
Tinha, cara, tinha. Acho que em todas as passagens dele por todos os clubes ele teve sempre algum atrito com um ou outro jogador, acho que é até uma característica dele, faz parte do ritual, do trabalho dele, bater de frente com um ou com outro, mas de uma maneira geral, tinha sim um bom relacionamento, acho que principalmente na ordenação tática, o grupo obedecia bastante e gostava da maneira que ele conduzia.
Os jogadores daquele time falam muito da afinidade de vocês fora de campo, isso fez diferença?
Na verdade isso foi fundamental, a gente escuta muitos grupos do Palmeiras que foram campeões, ganharam muitas coisas, mas que tinham problemas, rachado, e realmente nosso grupo não tinha isso, todo mundo se dava bem, era um grupo bastante tranquilo, não tinha problemas fora de campo e por isso facilitou para dar tudo certo.
Você costuma falar com seus parceiros daquele time?
Sim, sim! Luizão é meu compadre, sou padrinho do filho dele, somos amigos até hoje, estamos juntos sempre, família mesmo. Muitos outros também, o Muller que eu dividia quarto, gostava muito. Amaralzinho também falo bastante... Outros que não tenho muito contato, a gente acaba se encontrando por aí... Poucos eu não vejo mais, o Sandro, por exemplo, faz tempo que eu não vejo.
Ficou um gosto amargo por aquele time ter durado tão pouco tempo e não ter levado outras conquistas?
Acho que foi uma coisa mais ou menos normal, não tinha como segurar. Lógico que queria ter jogado muito mais tempo junto, mas não tinha como, o pessoal já estava pra sair, até mesmo o meu caso, o do Cafu, outros eram até mais jovens como o Luizão, o Flávio Conceição, o Amaral... Não tinha como segurar, era idade de jogar na Europa, por isso também que o time não durou, cada um foi buscar o seu caminho para a conquista de coisas ainda maiores.
Hoje você conseguiria explicar o porquê de o Palmeiras não ter ganho aquela Copa do Brasil contra o Cruzeiro?
Pô, cara, difícil de explicar, porque a gente era muito favorito, a gente vinha aplicando goleadas o campeonato inteiro, em todo mundo, mas nós tivemos alguns problemas também, perdemos jogadores, o Muller não renovou, mas não foi justificativa, acho que são aquelas coisas que acontecem e não têm explicação, é do futebol.
Se o time tivesse permanecido completo, acredita que sobraria no Brasileirão também?
Ah, com certeza, não ia ter como parar, no Brasileiro iria acontecer a mesma coisa, até porque estaria mais entrosado ainda e a tendência era o time crescer, continuando todo mundo, buscaríamos mais esse título também, sem dúvidas.
Qual foi a repercussão daquele time fora do país?
O time ficou conhecido porque o presidente do La Coruña, da Espanha, falou que se pudesse contrataria todo mundo e levou quatro: Eu, Luizão, Rivaldo e Flávio Conceição, e se pudesse levaria mais mesmo. O Amaral já tinha ido para outro time, outros também, mas ele conseguiu levar o máximo que pôde. Ele sabia que aquela equipe estava arrebentando no Brasil e era a equipe do momento.
Tem algum gol daquela campanha que tenha sido mais marcante?
Eu fiz muitos gols naquele campeonato, não sei nem se foi o mais importante, mas o primeiro gol, contra a Ferroviária (fez dois na goleada por 6 a 1), em casa, a gente estava naquela expectativa de dar muito certo, porque a gente vinha jogando muito bem, vencendo os amistosos, ganhando de todo mundo de goleada, naquele primeiro jogo a gente viu que era possível ter aquela confiança total no time, mas é lógico que teve o jogo contra o Santos que marcou muito, aquela goleada por 6 a 0 na Vila Belmiro.
E assistência?
Cara, foram tantas que eu nem saberia te dizer (risos).
Seria possível ter um ataque de 100 gols hoje em dia?
Isso é quase impossível, você marcar 100 gols em tão poucos jogos (30), realmente é uma coisa impensável, só times muito acima da média conseguem.
Você acha que o time de 96 recebe o devido valor?
Acho que o reconhecimento é bem justo, porque já são 20 anos e todos falam de uma equipe que ganhou um título paulista apenas. Apesar de um título ser pouca coisa, a maneira que ganhou representou muito, por fazermos mais de 100 gols, acho que foi fundamental para marcar história.
Dá para imaginar aquele time jogando no Allianz Parque?
Aaaaaah.... Com certeza seria melhor ainda, uma Arena maravilhosa, com ainda mais gente assistindo, principalmente por causa do gramado, mais rápido, ajudaria ainda mais aquela equipe, nosso time usava muito a velocidade, então a tendência era que fosse melhorar o desempenho, com mais gols.
Qual é a sua relação com o Palmeiras hoje?
Muito boa! Acho que o Palmeiras, na minha vida, tem muita história, meu pai (Djalma Dias) tem uma grande história no clube e eu também consegui fazer história, então sem dúvida é muito importante na minha carreira, na minha vida, principalmente porque eu considero o Palmeiras o meu ápice e minha projeção, foi o time que me levou para a Seleção Brasileira pela primeira vez, então tem uma grande importância.
Você se considera palmeirense?
Cara, eu tenho muito carinho pelos clubes que joguei, então eu me considero palmeirense, como eu não esqueço jamais a oportunidade que o Guarani me deu, tenho muita gratidão pelos clubes que joguei. Então quando está envolvido o Palmeiras com times que eu joguei na minha carreira, falando claro, Flamengo e Guarani, eu torço pelo Palmeiras.
Ainda sente a consideração do torcedor palmeirense por você?
Ah, com certeza, o carinho que a torcida tem por mim é muito grande, sou muito grato por isso, sei dar muito valor isso, ao mesmo tempo, vejo que valeu muito a pena ter ficado, ter feito tudo o que foi feito, e procurado dar muita alegria ao torcedor, acho que eles não esqueceram isso nunca. É muito gratificante.
Como você vê o time do Palmeiras hoje?
Eu vejo que o Palmeiras buscou muitas contratações, está tentando ainda encontrar uma equipe ideal, mas acho que com o elenco que tem e com o equilíbrio do campeonato, acho que pode sonhar com o título sim. O Cuca tem todas as condições de levar o Palmeiras a ser campeão, já provou isso.
QUEM É ELE
Meia: Djalminha
Nome: Djalma Feitosa Dias
Data de nascimento: 9/12/1970, em Santos (SP)
Jogos pelo clube: 88 (57 vitórias, 17 empates e 14 derrotas)
Gols no Paulistão-96: 14
Gols pelo clube: 47
Período no clube: 1996 e 97