O St. Pauli é considerado o clube de futebol mais punk do mundo, com forte ligação ao movimento musical e uma identidade única no futebol alemão. O clube alemão subiu para a primeira divisão da Bundesliga em 2024, após 13 anos na segunda divisão.
Esta equipe de Hamburgo vai muito além do futebol, sendo um símbolo mundial de resistência, inclusão e cultura alternativa que conquistou fãs ao redor do planeta.
Como nasceu a ligação com o movimento punk
A transformação do St. Pauli começou no início dos anos 1980, quando o clube mudou de localização na cidade, ficando próximo de uma área mais alternativa, punk e progressista. O estádio fica perto das docas e da Reeperbahn, uma rua do bairro de St. Pauli que virou um dos centros da vida noturna de Hamburgo.
Em 1980, DocMabuse, cantor de uma banda punk local, teria roubado uma bandeira com caveira e ossos cruzados de uma barraca enquanto estava bêbado indo ao estádio. Entrou com a bandeira e ali nascia um símbolo que hoje é a maior marca da torcida do Sankt Pauli.
Que bandas fizeram parceria com o St. Pauli
O clube tem uma tradição de entrar no campo ao som de “Hells Bells” do AC/DC, e o hit “Song 2” dos Blur toca sempre que o time marca um gol. A proximidade com a música existe desde sempre, criando laços únicos no futebol mundial.
Em 2000, a lendária banda Bad Religion se juntou a veteranos do clube para jogar uma partida beneficente contra o terceiro time e perdeu por 4×2. Em 2017, os americanos do Dropkick Murphys regravaram o clássico dos estádios “You’ll Never Walk Alone” numa ação especial com o time.
Artistas famosos que vestiram a camisa do St. Pauli incluem:
- Georg Holm, baixista da banda islandesa Sigur Rós
- Alex Rosamilia, guitarrista do The Gaslight Anthem
- Andrew Eldritch do The Sisters of Mercy
- Sascha Konietzko, vocalista do KMFDM
Por que o St. Pauli é considerado clube de esquerda
O St. Pauli foi pioneiro em banir atividades e cartazes com mensagens extremistas de seu estádio. Nos anos 1980, quando hooligans e organizações de extrema-direita causavam epidemia de xenofobia nos estádios alemães, o clube tomou uma posição firme.
O clube adotou para si uma bandeira com símbolo de pirata e virou um fenômeno cult, atraindo novos torcedores progressistas. De acordo com o próprio estatuto do clube, estão proibidas quaisquer manifestações neonazistas, fascistas, homofóbicas e sexistas.
Foi o primeiro das principais divisões da Alemanha a ter uma dirigente mulher e teve um presidente abertamente gay, Corny Littmann, entre 2002 e 2010. Na arquibancada, é comum ver bandeiras anarquistas e da comunidade LGBTQIAP+, que também estampa a faixa de capitão do time.
A volta triunfal à Bundesliga em 2024
O St. Pauli conseguiu seu acesso à Bundesliga em maio de 2024, depois de 13 anos na segunda divisão do futebol alemão. Graças à vitória por 3 a 1 em casa sobre o Osnabruck, o time recuperou a liderança da segunda divisão e garantiu a subida.
A festa do acesso viralizou nas redes sociais, mostrando os fãs invadindo o gramado após a vitória e os jogadores dançando no vestiário ao som de “Gimme! Gimme! Gimme!” do ABBA. A celebração pelas ruas de Hamburgo atravessou a madrugada com centenas de torcedores participando de forma respeitosa.
O brasileiro que viveu o sonho punk
O atacante Maurides, irmão do zagueiro Maicon (ex-Vasco, atualmente no Coritiba), foi o único brasileiro no elenco do St. Pauli durante a conquista do acesso. Em entrevista, o jogador revelou sua identificação com o clube: “Estou muito feliz de estar aqui. O St. Pauli é um time que eu me identifiquei muito. É um time que é contra qualquer tipo de preconceito”.
Maurides sofreu uma lesão grave no início da carreira ao comemorar um gol dando um mortal pelo Internacional. A lesão no joelho prejudicou sua passagem pelo clube gaúcho, mas encontrou no St. Pauli um lugar para reviver sua carreira e participar de um momento histórico.
Mais que futebol: Uma filosofia de vida
O St. Pauli criou uma filosofia de identidade ativista, punk e defensora da total tolerância entre as pessoas. Mesmo quando estava na terceira divisão, a média de assistência do Millerntor era de 15 mil pagantes, muito acima da média de outras equipes.
O clube se orgulha de ter o maior número de torcedoras em todo o futebol alemão. Em 2002, os anúncios da revista masculina Maxim foram removidos do estádio em resposta aos protestos dos fãs sobre representações sexistas de mulheres.
Um estudo estimou que o time tem cerca de 11 milhões de fãs em toda a Alemanha, tornando o clube uma das equipes alemãs mais amplamente reconhecidas. Dica rápida: o St. Pauli possui lojas que vendem desde preservativos com o símbolo do clube até copos com a mensagem “Refugiados são bem-vindos”.