O primeiro goleiro brasileiro a usar luvas no futebol foi Jaguaré Bezerra de Vasconcelos, conhecido como Dengoso, quando atuava pelo Vasco da Gama, em 1931. Ele trouxe essa inovação após sua experiência no futebol europeu.
Antes dessa revolução, todos os goleiros brasileiros defendiam as metas de mãos limpas, enfrentando condições climáticas adversas sem qualquer proteção adicional.
Quem foi Jaguaré Bezerra de Vasconcelos
Jaguaré Bezerra de Vasconcelos nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de maio de 1905, e foi o primeiro goleiro a se tornar ídolo no Vasco da Gama. Antes de chegar ao Vasco, carregava sacos de farinha no Moinho Inglês, no Rio de Janeiro.
Foi descoberto pelos jogadores Espanhol e Peixoto, que o levaram para jogar pelo extinto Pereira Passos, e mais tarde Espanhol o trouxe para o Vasco da Gama em 1928. Além de ser pioneiro no uso de luvas, Jaguaré foi o primeiro goleiro em toda história do futebol a marcar um gol, ainda em 1938.
A experiência europeia que mudou tudo
Em 1931, depois de uma excursão do Cruz-Maltino a Portugal e Espanha, foi contratado pelo Barcelona. Conforme conta Paulo Guilherme, autor do livro “Heróis e Anti-Heróis da Camisa 1”: “Na sua estreia na Europa, Jaguaré usou luvas feitas de couro. Só que ele não estava preocupado com a melhora de seu rendimento, apenas não estava acostumado com o frio”.
Jaguaré ficou encantado com o profissionalismo europeu e terminou ficando pela Europa, junto com Fausto dos Santos, jogando no Barcelona, para depois se transferir para o futebol francês.
Como as luvas chegaram ao Brasil
Um dia, Jaguaré anunciou que iria treinar no Vasco. São Januário encheu. Apareceu de terno branco e chapéu chile pendido de lado. Trocou de roupa e ficou igualzinho a um goleiro europeu, de boné e luvas de goleiro.
A inovação das luvas causou grande impacto entre os torcedores brasileiros, que nunca haviam visto um goleiro usar esse equipamento. Naquela época, defender o gol sem proteção nas mãos era considerado normal e até mesmo corajoso.
As primeiras luvas de goleiro no Brasil eram feitas de couro simples, muito diferentes dos modelos tecnológicos atuais. Atenção: essa mudança ocorreu quase 40 anos antes das luvas se tornarem populares mundialmente, na década de 1970.
Outras passagens marcantes de Jaguaré
Teve também uma curta passagem pelo Corinthians em 1934, fazendo apenas 15 partidas. Era conhecido por suas molecagens e irreverências que ganhavam todas as torcidas, mas irritavam os adversários com suas maravilhosas defesas.
Algumas de suas características únicas incluíam:
- Rodava a bola no dedo indicador depois de defendê-la, chamando-a de “bichinha”
- Fazia dribles com as mãos nos atacantes adversários
- Era exímio defensor de pênaltis, usando provocações psicológicas
- Chegou a marcar gols cobrando penalidades máximas
O legado de Félix na Copa de 1970
Félix usou luvas na final da Copa de 1970, se tornando o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas na história das Copas. Na Copa do México, em 1970, o goleiro brasileiro Félix jogou todas as partidas, exceto a final, sem luvas.
“Na final, os jogadores queriam que ele mantivesse a tradição que vinha dando certo, mas Félix resolveu provar para o mundo que sabia jogar de luvas também”, segundo relatos da época. Dica rápida: as luvas que Félix levou para o México estavam em péssimo estado, e ele não encontrava peças que coubessem em suas grandes mãos.
A evolução das luvas no futebol mundial
Antes da década de 1970, as luvas raramente eram usadas, exceto em condições de tempo muito adversas, como um frio extremo. A partir da década de 1970, tornou-se cada vez mais incomum ver um goleiro sem equipamentos de proteção.
A evolução tecnológica das luvas modernas inclui:
- Protetores para evitar que os dedos se curvem para trás
- Segmentação para permitir maior flexibilidade
- Palmas feitas de materiais projetados para melhorar a aderência
- Diferentes cortes como “palma chata”, “dedo em rolo” e “negativo”
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O fim trágico de um pioneiro
O fim da vida de Jaguaré foi triste. Segundo relatos da época, o ex-goleiro morreu na miséria e com problemas de alcoolismo, sendo espancado até a morte por policiais após uma briga e enterrado como indigente em 1946.
Apesar do fim trágico, o legado de Jaguaré permanece vivo na história do futebol brasileiro. Sua inovação com as luvas abriu caminho para que gerações futuras de goleiros pudessem ter melhor proteção e performance em campo.