O documentário Nobody Speak da Netflix revela os bastidores de uma das batalhas judiciais mais polêmicas da era digital. O filme explora como o processo movido por Hulk Hogan contra o site Gawker em 2012 mudou para sempre o cenário da liberdade de imprensa nos Estados Unidos.
Três aspectos centrais tornam esta história fascinante:
- A indenização milionária de US$ 140 milhões que levou à falência de um dos sites mais influentes da internet
- O financiamento secreto por trás do processo judicial que surpreendeu o mundo da mídia
- As implicações legais que redefiniriam os limites entre privacidade e liberdade de imprensa
Quem era Hulk Hogan, a lenda que faleceu em 2025
Terry Gene Bollea, mundialmente conhecido como Hulk Hogan, foi uma das maiores estrelas do wrestling profissional americano. Nascido em 11 de agosto de 1953 na Geórgia, Hogan construiu uma carreira que transcendeu os ringues e o transformou em ícone da cultura pop mundial.
Durante as décadas de 1980 e 1990, Hogan se tornou o rosto da World Wrestling Entertainment (WWE), conquistando 12 títulos mundiais e mantendo o cinturão de campeão por impressionantes 1.474 dias consecutivos entre 1984 e 1988. Sua personalidade carismática e o fenômeno “Hulkamania” ajudaram a catapultar o wrestling para níveis estratosféricos de popularidade.
Tragicamente, Hulk Hogan faleceu em 24 de julho de 2025, aos 71 anos, em sua residência em Clearwater, Flórida, vítima de uma parada cardíaca. O mundo do wrestling e do entretenimento perdeu uma de suas maiores lendas, que também brilhou em Hollywood com participações em filmes como Rocky III (1982) e O Senhor Babá (1993).
Como um vídeo íntimo derrubou um império digital
Em 2012, o site Gawker publicou trechos de um vídeo íntimo envolvendo Hulk Hogan (Terry Gene Bollea) e a esposa de um amigo, Heather Clem. A decisão editorial de A.J. Daulerio, então editor-chefe do site, parecia rotineira para um veículo conhecido por conteúdo provocativo.
O que começou como mais uma publicação controversa rapidamente se transformou no maior pesadelo jurídico da história do jornalismo digital. Hogan decidiu processar a empresa por invasão de privacidade, buscando inicialmente US$ 100 milhões em indenizações.
O Gawker Media subestimou a seriedade da ameaça legal. O site havia enfrentado processos anteriores sem consequências significativas, criando uma falsa sensação de invencibilidade que seria brutalmente quebrada nos tribunais da Flórida.
Dica crucial: O documentário mostra como decisões editoriais aparentemente simples podem ter consequências devastadoras no ambiente digital atual.
Por que Hulk Hogan recebeu US$ 140 milhões em indenização
O julgamento em 2016 chocou a indústria da mídia quando o júri concedeu a Hogan uma indenização inicial de US$ 115 milhões. Com multas e juros adicionais, o valor total ultrapassou os US$ 140 milhões, uma quantia capaz de quebrar qualquer empresa de mídia.
A estratégia legal de Hogan foi brilhantemente simples. Seus advogados diferenciaram entre Terry Bollea, o homem privado, e Hulk Hogan, a persona pública. Argumentaram que o vídeo violava a privacidade de Bollea, não do personagem televisivo.
O júri foi convencido de que não havia interesse jornalístico legítimo na publicação do vídeo. O momento mais devastador do julgamento aconteceu quando Daulerio, sob juramento, afirmou que só não publicaria vídeos sexuais de crianças menores de quatro anos.
Esta declaração selou o destino do Gawker, demonstrando aos jurados uma ausência total de limites éticos por parte da publicação. O valor da indenização refletiu não apenas os danos morais, mas também serviu como punição exemplar.
O bilionário por trás da vingança contra Gawker
A revelação mais chocante do caso emergiu após o veredito: Peter Thiel, cofundador do PayPal e investidor bilionário, financiou secretamente o processo de Hogan. Thiel buscava vingança contra o Gawker por ter revelado sua homossexualidade em 2007.
Thiel gastou aproximadamente US$ 10 milhões financiando não apenas o caso Hogan, mas múltiplos processos contra o site. Sua estratégia era sistemática: encontrar vítimas do Gawker dispostas a processar e fornecer recursos jurídicos ilimitados.
Esta revelação transformou completamente a narrativa do caso. Não se tratava mais de um lutador defendendo sua privacidade, mas de um bilionário usando o sistema judicial para silenciar críticos e destruir uma empresa de mídia.
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O envolvimento de Thiel levantou questões fundamentais sobre liberdade de imprensa e o poder do dinheiro no sistema judicial americano. Um único indivíduo com recursos suficientes conseguiu derrubar uma empresa inteira através de guerra jurídica.
O fim do Gawker e suas consequências para o jornalismo

A falência do Gawker em 2016 enviou ondas de choque através da indústria da mídia. O site, que antes parecia invencível, foi forçado a vender seus ativos para a Univision Communications por uma fração de seu valor de mercado.
Jornalistas e editores de todo o país começaram a repensar suas práticas. O caso estabeleceu precedentes perigosos sobre como indivíduos ricos podem usar o sistema judicial para silenciar a imprensa, mesmo quando atuam dentro da legalidade.
A equipe do Gawker enfrentou consequências pessoais devastadoras. A.J. Daulerio declarou falência pessoal, com uma responsabilidade de US$ 230 milhões que nunca poderia pagar. Outros funcionários perderam empregos e enfrentaram dificuldades financeiras.
O caso também demonstrou como mudanças na lei podem retroativamente afetar decisões jornalísticas. O que era considerado prática aceitável em 2012 foi julgado como violação grave de privacidade quatro anos depois.
Nobody Speak revela as lições sobre poder e mídia na era digital
O documentário Nobody Speak transcende a história específica do Gawker para explorar questões fundamentais sobre democracia, liberdade de imprensa e concentração de poder. O filme mostra como a riqueza extrema pode ser weaponizada contra a mídia.
Três lições essenciais emergem desta saga judicial:
- Vulnerabilidade da mídia independente diante de adversários com recursos financeiros ilimitados
- Necessidade de limites éticos claros no jornalismo digital para evitar excessos que justifiquem retaliações
- Importância da transparência sobre quem financia processos judiciais contra veículos de comunicação
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