O futebol mundial guarda em sua história registros únicos de países que hoje existem apenas na memória geopolítica. Desde as primeiras Copas do Mundo, seleções representaram nações que posteriormente se dissolveram, se unificaram ou mudaram completamente de identidade política.
Essas transformações históricas revelam aspectos fascinantes sobre como o esporte reflete as mudanças globais:
- A União Soviética disputou sete Copas consecutivas antes de sua dissolução em 1991
- A Iugoslávia participou de nove edições e chegou a vencer o Brasil em partida histórica
- As duas Alemanhas se enfrentaram diretamente na Copa de 1974, criando um dos jogos mais simbólicos da história
União Soviética deixou marca indelével nas Copas do Mundo de 1958 a 1990
A seleção soviética participou consistentemente de sete edições da Copa do Mundo, estabelecendo-se como uma das principais forças do futebol mundial durante a Guerra Fria. Sua melhor campanha aconteceu em 1966, quando alcançou o quarto lugar na Inglaterra.
O confronto mais memorável da URSS aconteceu logo em sua estreia mundialista. Na Copa de 1958, na Suécia, a equipe soviética enfrentou o Brasil de Pelé nas quartas de final, perdendo por 2 a 0 em partida que marcou a ascensão definitiva do futebol brasileiro.
A dissolução da União Soviética em 1991 deu origem a 15 países independentes, cada um desenvolvendo sua própria identidade futebolística. Rússia, Ucrânia, Geórgia e outras nações passaram a competir separadamente, encerrando uma era de quase quatro décadas de representação unificada.
Dica rápida: A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) representou temporariamente os países da ex-URSS na Eurocopa de 1992, mas logo cada nação formou sua própria seleção.
Iugoslávia escreveu páginas históricas em nove participações mundialistas

A seleção iugoslava figura entre as mais tradicionais da história das Copas do Mundo, participando desde a primeira edição em 1930. Sua trajetória inclui momentos inesquecíveis, como a vitória histórica sobre o Brasil em partida que permanece na memória dos torcedores.
A qualidade técnica dos jogadores iugoslavos era reconhecida mundialmente. O país revelou talentos que brilharam nos principais clubes europeus, construindo um estilo de jogo que combinava técnica refinada com intensidade física característica dos Bálcãs.
Com a fragmentação da Iugoslávia nos anos 1990, surgiram múltiplas seleções independentes. Croácia, Sérvia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Macedônia do Norte passaram a competir separadamente, cada uma carregando parte do legado futebolístico iugoslavo.
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O histórico confronto entre as duas Alemanhas na Copa de 1974

A Copa do Mundo de 1974 na Alemanha Ocidental proporcionou um dos momentos mais simbólicos da história do futebol mundial. Pela única vez, as duas Alemanhas se enfrentaram diretamente em uma competição oficial, transformando o gramado em palco de tensões geopolíticas.
A vitória surpreendente da Alemanha Oriental por 1 a 0 sobre a Ocidental na fase de grupos criou constrangimento político no país anfitrião. Ironicamente, essa derrota pode ter motivado a seleção ocidental, que acabou conquistando o título mundial.
A reunificação alemã em 1990 encerrou definitivamente a existência da seleção da Alemanha Oriental. Os jogadores do leste passaram a integrar uma seleção alemã unificada, que conquistaria a Copa do Mundo de 1990 poucos meses antes da oficialização da reunificação.
Atenção: O jogo entre as duas Alemanhas em 1974 foi o único confronto direto entre seleções dos dois países em Copas do Mundo, tornando-se um registro histórico único.
Histórias curiosas de seleções que existiram por poucos anos
Algumas nações tiveram participações ainda mais efêmeras nas Copas do Mundo. As Índias Orientais Holandesas participaram apenas da Copa de 1938, conseguindo chegar às oitavas de final antes de se tornarem a atual Indonésia após a independência.
O caso mais recente é o da Sérvia e Montenegro, que existiu como seleção unificada apenas para a Copa de 2006 na Alemanha. A dissolução da união entre os dois países aconteceu durante o próprio torneio, fazendo com que fosse a primeira e última participação dessa configuração nacional.
O Zaire, atual República Democrática do Congo, teve sua única participação mundialista em 1974. Os jogadores enfrentaram pressões extremas do ditador Mobutu, que os ameaçou caso perdessem por mais de três gols para o Brasil.
Esses exemplos demonstram como as mudanças geopolíticas constantes do século XX e XXI se refletiram diretamente no cenário futebolístico mundial, criando histórias únicas e irrepetíveis.
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O futebol moderno reflete as transformações geopolíticas globais
As transformações geopolíticas continuam moldando o cenário futebolístico mundial. A UEFA hoje conta com 55 federações filiadas, mais que o dobro dos países da União Europeia, demonstrando como o esporte acompanha as mudanças políticas globais.
Os principais legados deixados por essas seleções extintas incluem:
- O estabelecimento de tradições futebolísticas que influenciaram as novas nações independentes
- Registros históricos únicos de confrontos que nunca mais poderão se repetir
- A comprovação de que o futebol serve como testemunha silenciosa das grandes transformações históricas