Recentemente, uma pesquisa publicada na revista Nature Geoscience revelou indícios de que uma nova falha tectônica pode estar emergindo sob o Oceano Atlântico. Esta descoberta aumenta a possibilidade de ocorrência de grandes terremotos e tsunamis, afetando regiões costeiras em torno do Atlântico. Historicamente, Portugal já foi cenário de sismos devastadores, como o terremoto de magnitude 8,7 que atingiu Lisboa em 1755. Contudo, a inquietação dos cientistas persiste, dado que esses eventos ocorrem longe das falhas tectônicas conhecidas.
O professor João Duarte, da Universidade de Lisboa, que lidera este estudo, observou que o terremoto de 1969 em Portugal apresentava características de uma zona de subducção, apesar da aparente ausência de uma. Zonas de subducção são conhecidas por gerarem os terremotos mais destrutivos do planeta, como os que ocorreram no Oceano Índico em 2004 e no Japão em 2011. No Atlântico, as placas tectônicas estão se afastando ao longo de uma dorsal oceânica, o que normalmente indica uma região mais estável e menos propensa a terremotos significativos.
O que é a delaminação e como ela afeta as placas tectônicas?
O estudo sugere que o manto terrestre, a camada abaixo da crosta, está se delaminando na Planície Abissal do Cavalo, ao sudoeste de Portugal. A delaminação é um processo onde o manto começa a se separar da base da placa tectônica. Imagine uma sola de sapato se soltando; é semelhante ao que está ocorrendo no fundo do oceano. Nesse caso, a água teria permeado as rochas durante milhões de anos, fragilizando quimicamente as estruturas e permitindo que partes do manto mergulhem para as profundezas da Terra.

Qual é o impacto potencial da formação de uma nova zona de subducção no Atlântico?
Essas descobertas levantam a hipótese de que um novo processo de subducção está nascendo no Atlântico. Este fenômeno pode, ao longo de bilhões de anos, reconfigurar continentes ao formar um novo supercontinente, reunindo África, Europa e América. Contudo, o foco atual é o risco sísmico imediato. Terremotos de grande magnitude representam ameaças significativas para regiões costeiras que não estão preparadas para tais desastres naturais.
O Sismo de 1755, também conhecido como Terremoto de 1755, não apenas devastou Lisboa, mas também teve impactos severos fora de Portugal. As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a Europa e norte da África. As cidades marroquinas de Fez e Meknès sofreram danos e perdas de vida consideráveis. Os maremotos originados pela movimentação tectônica varreram locais desde o norte de África até o norte da Europa, e através do Atlântico, afetando os Açores e a Madeira, além de regiões nas Caraíbas como Antígua, Martinica e Barbados. Inclusive, causou um Tsunami no Brasil, com ondas atingindo o litoral pernambucano e a orla de Salvador.
Como as preparações podem mitigar os efeitos de possíveis grandes terremotos?
Duarte enfatiza a importância de preparar as populações das áreas afetadas. A analogia feita com a previsão de chuva ilustra a necessidade de precaução: é sabido que terremotos de maior magnitude ocorrerão, ainda que suas datas não possam ser previstas. Estratégias de adaptação e preparação, tais como construção de infraestruturas mais resistentes e a educação da população sobre procedimentos de emergência, são cruciais para mitigar os impactos desses eventos.
Portanto, à medida que a ciência se aprofunda nas complexidades das placas tectônicas, a pesquisa de Duarte e sua equipe destaca a importância da vigilância geológica e o preparo constante frente aos riscos naturais. Tendo em vista as imprevisibilidades dos fenômenos sísmicos, a conscientização e a implementação de medidas preventivas continuam sendo a defesa mais eficaz contra as forças incontroláveis da natureza.