O filme Eephus da Mubi conquistou críticos e público ao transformar um simples jogo de beisebol recreativo em uma meditação profunda sobre envelhecimento e passagem do tempo. Dirigido por Carson Lund, a produção de 2024 prova que grandes emoções podem nascer dos momentos mais cotidianos.
Ambientado nos anos 1990 em Massachusetts, o longa-metragem acompanha duas equipes amadoras – Adler’s Paint e Riverdogs – em sua partida final antes da demolição do campo para construção de uma escola.
O que significa Eephus e por que esse nome foi escolhido
O pitch eephus é um dos arremessos mais incomuns do beisebol, caracterizado por sua trajetória extremamente alta e velocidade baixíssima – entre 35 a 55 mph. Inventado por Rip Sewell nos anos 1940, esse lance confunde rebatedores acostumados com fastballs de 90+ mph.
Carson Lund escolheu esse nome como metáfora perfeita para seu filme. Assim como o pitch eephus flutua lentamente pelo ar antes de surpreender, Eephus constrói sua narrativa de forma pausada, permitindo que os espectadores se conectem gradualmente com seus personagens imperfeitos.
Como carson lund transformou um jogo simples em cinema poético?
O diretor Carson Lund, que cresceu jogando beisebol recreativo, encontrou inspiração nos intervalos e pausas naturais do esporte. A dramedy esportiva explora justamente esses momentos de “tempo morto” que revelam a personalidade e as frustrações dos jogadores.
O filme foi gravado no Soldiers Field em Douglas, Massachusetts, após Lund visitar mais de 100 campos pela Nova Inglaterra. Ele buscava um local que transmitisse a sensação de degradação pelo tempo – madeira velha, tinta descascada e história acumulada.
Principais elementos cinematográficos incluem:
- Elenco de 18 jogadores sem protagonista definido, criando uma narrativa coral
- Uso de planos abertos para capturar interações naturais entre os corpos em movimento
- Trilha sonora ambiente com sons da floresta circundante e conversas espontâneas
- Participação especial de Bill “Spaceman” Lee, ex-arremessador dos Red Sox famoso pelo eephus
Por que eephus representa uma nova forma de contar histórias esportivas?
Diferente de filmes esportivos tradicionais focados em vitórias épicas, Eephus abraça a mediocridade e o humor cotidiano. A produção co-escrita por Lund, Nate Fisher e Michael Basta rejeita arcos dramáticos convencionais em favor de observação naturalista.
O filme recebeu 100% de aprovação no Rotten Tomatoes e pontuação 83 no Metacritic, sendo descrito pela crítica como “uma meditação reflexiva e muitas vezes hilária sobre envelhecimento, camaradagem e mudança”. A recepção positiva comprova que audiências modernas têm fome de narrativas mais lentas e contemplativas.
Qual o segredo da nostalgia dos anos 1990 em Eephus?
A ambientação nos anos 1990 não é acidental. Lund, nascido na geração millennial, usa esse período como portal para uma América pré-digital, onde rituais comunitários como jogos de beisebol amateur ainda uniam pessoas de diferentes backgrounds.
A ausência de smartphones e tecnologia moderna cria um ambiente onde conversas genuínas acontecem naturalmente. Os jogadores interagem através de piadas, provocações e silêncios compartilhados – linguagem emocional típica da masculinidade da Nova Inglaterra que o filme retrata com carinho e humor.
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Como o filme captura a beleza da imperfeição no esporte?
Em Eephus, os atletas são homens de meia-idade com limitações físicas, responsabilidades familiares e habilidades em declínio. Essa imperfeição torna-se a fonte principal de humor e humanidade do filme.
O beisebol recreativo funciona como refúgio semanal onde esses homens podem temporariamente escapar das pressões da vida adulta. Lund captura magistralmente como esse esporte oferece conexão com a infância e camaradagem masculina sem competitividade tóxica.