Futebol de botão é uma modalidade esportiva genuinamente brasileira que nasceu da criatividade de um jovem em 1930 e se transformou em paixão nacional. Inventado por Geraldo Cardoso Décourt no Rio de Janeiro, o que começou como brincadeira de criança evoluiu para um esporte oficialmente reconhecido, praticado em diversos países e regulamentado pela Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM).
- Criado em 1930 por Geraldo Décourt, que publicou o primeiro livro de regras oficiais do “Football Celotex”
- Evolução dos materiais: de botões de madeira e roupa até peças industrializadas de acrílico e plástico
- Reconhecido como esporte oficial em 1988, com campeonatos estaduais, nacionais e mundiais organizados
Como Geraldo Décourt criou o futebol de botão em 1930
Geraldo Cardoso Décourt nasceu em 14 de fevereiro de 1911 em Campinas, São Paulo, mas foi no Rio de Janeiro que desenvolveu sua criação mais famosa. Por volta de 1928, ainda adolescente, Décourt começou a brincar com botões de cueca e posteriormente utilizou botões da calça de seu uniforme escolar.
Em 1930, aos 19 anos, Décourt publicou o primeiro livro de regras oficiais do jogo, intitulado “Regras Officiaes do Foot-ball Celotex”. O nome “Celotex” fazia referência ao material utilizado para confeccionar as primeiras mesas de jogo, um tipo de aglomerado de madeira.
O jornal A Noite Esportiva noticiou a novidade em 1930: “O Football Celotex é um sport de mesa, no qual, em cada jogo, tomam parte dois amadores, que por sua vez representam dois teams formados por onze botões, assim distribuídos: um guardião, dois zagueiros, três médios e cinco deanteiros”.
Por seu trabalho pioneiro, o dia 14 de fevereiro foi oficializado em 2001 pelo governador Geraldo Alckmin como “Dia do Botonista” em São Paulo. Décourt também compôs o “Hino do Botonista” em 1982, demonstrando sua paixão pela modalidade que criou.
Qual foi a evolução dos materiais ao longo das décadas
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A história do futebol de botão pode ser contada através da evolução de seus materiais. Inicialmente, Décourt utilizava peças de madeira lixada que faziam as vezes dos jogadores, passando depois para botões comuns de roupas nos anos 1940.
Na década de 1950, surgiram as fichas industrializadas com adesivos contendo escudos de times e rostos de jogadores famosos. Os botões maiores se transformavam nos zagueiros, os medianos viravam atacantes e os menorzinhos eram utilizados como bola.
Por volta de 1960, os vidros de relógios (conhecidos como “vidrilhas”) dominaram o esporte. Por ser transparente, o material possibilitava a colagem de escudos e fotos de jogadores, permitindo que os participantes montassem seus times de acordo com o clube para o qual torciam.
Nas décadas seguintes, surgiram botões de diversos materiais: galalite, acrílico, madrepérola e plástico. Os mais disputados eram os botões de galalite ou acrílico, vendidos em fábricas especializadas. Cada tipo de material oferecia características diferentes de deslizamento e precisão no jogo.
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Por que a coleção Onze de Ouro marcou uma época
A coleção Onze de Ouro foi lançada em duas etapas (1964 e 1965) e representa um marco na história do futebol de botão brasileiro. A coleção foi criada em homenagem às seleções brasileiras campeãs mundiais de 1958 e 1962, incluindo os times que possuíam jogadores dessas seleções.
Os dez times homenageados eram os de maior destaque da época: cinco paulistas (Palmeiras, Santos, São Paulo, Portuguesa e Corinthians) e cinco cariocas (Flamengo, Botafogo, Vasco, Fluminense e América). Somando-se à seleção brasileira, totalizavam os “onze de ouro”.
Os botões eram vendidos em bancas de jornal dentro de pacotinhos, similar às figurinhas. Para conseguir as palhetas, goleiros e traves, era necessário trocar “jogadores chaves” pelos mesmos, criando um sistema colecionável que aumentava o interesse das crianças.
A coleção até hoje é procurada por colecionadores, representando uma época dourada do futebol brasileiro. Concomitante ao lançamento dos botões Onze de Ouro, outras séries famosas surgiram, como “Craques da Pelota” e “Ídolos do Futebol”.
Quais são as modalidades competitivas oficiais reconhecidas
O futebol de mesa moderno é praticado em cinco modalidades oficiais, cada uma com suas regras específicas e características distintas. A Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM) regula e orienta a prática dessas modalidades no Brasil.
A modalidade Bola 12 Toques, conhecida como “Regra Paulista”, permite até 12 toques coletivos por equipe, sendo que cada botão pode dar no máximo 3 toques consecutivos. As partidas duram 20 minutos, divididos em dois tempos de 10 minutos.
A Bola 3 Toques, também chamada de “Regra Carioca”, limita cada equipe a apenas 3 toques coletivos. Já a modalidade Disco 1 Toque, conhecida como “Regra Baiana”, permite apenas um toque por vez, exigindo maior precisão dos jogadores.
A modalidade Dadinho foi oficializada em 2012, permitindo até 9 toques coletivos por equipe, com limite máximo de 3 toques por botão. O Sectorball, de origem húngara, foi introduzido oficialmente no Brasil em 2010, sendo praticado em duplas.
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Como funciona o cenário competitivo nacional e internacional
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O futebol de mesa brasileiro possui uma estrutura competitiva bem organizada, com campeonatos estaduais, nacionais e participação em torneios mundiais. A CBFM foi fundada oficialmente e congrega federações de diversos estados brasileiros.
O Campeonato Brasileiro Individual da modalidade Bola 12 Toques é disputado desde o final dos anos 1980, reunindo os melhores botonistas de cada estado. O sistema de “cotas” distribui as vagas para as federações estaduais conforme o número de praticantes cadastrados.
Em 2009, foi realizado em Budapeste, Hungria, o primeiro Campeonato Mundial da modalidade Bola 12 Toques. O Brasil sagrou-se campeão por equipes, consolidando a modalidade brasileira no cenário internacional.
Atualmente, estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, Ceará, Amazonas, Piauí, Goiás e Rio Grande do Sul possuem federações ativas. Tradicionais clubes de futebol como Vasco, Palmeiras, Corinthians e Grêmio mantêm departamentos de futebol de mesa.
Futebol de botão consolida legado como patrimônio cultural brasileiro
O futebol de botão transcendeu sua origem como brincadeira infantil para se tornar um verdadeiro patrimônio cultural brasileiro. Desde 2014, empresas como Botões Clássicos trabalham pela retomada da modalidade, criando espaços temáticos que combinam jogo, socialização e nostalgia.
- Modalidade genuinamente brasileira que se espalhou pelo mundo, sendo praticada em países como Argentina, Uruguai, Chile, Espanha, Sérvia, Hungria e Japão
- Esporte oficialmente reconhecido desde 1988, com estrutura federativa organizada e campeonatos regulares em cinco modalidades distintas
- Resistência cultural que une gerações, mantendo viva a tradição do jogo físico em tempos de jogos digitais