Autobol foi uma modalidade esportiva inusitada que marcou época no Rio de Janeiro durante os anos 1970, misturando futebol e automobilismo de forma única. Criado pelo médico Mário Marques Tourinho, diretor do serviço médico do América FC, o esporte chegou a atrair mais público que partidas tradicionais de futebol, com bilheterias esgotadas e cobertura massiva da imprensa carioca.
- Modalidade criada em 1970 por Dr. Mário Tourinho, que unia sua paixão por futebol e automobilismo em um esporte revolucionário
- Grandes clubes cariocas participaram dos campeonatos entre 1973-1975: Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco e América
- Extinção causada pela crise mundial do petróleo de 1976 e restrições governamentais às competições automobilísticas
Como Dr. Mário Tourinho inventou o autobol na praia de Copacabana
A ideia do autobol nasceu de um episódio casual na Avenida Atlântica, em Copacabana, quando o médico Mário Marques Tourinho dirigia seu carro e uma bola escapou de uma pelada na praia, vindo em sua direção. Para espanto geral, Tourinho arremeteu o veículo contra a bola, que voltou diretamente para as mãos dos rapazes na areia, criando um “chute” perfeito que despertou sua imaginação.
Tourinho era diretor do departamento médico do América FC e médico da Associação Carioca de Volantes de Competição, combinando sua paixão por futebol e automobilismo. A materialização da ideia contou com o apoio do produtor de TV José Maria Adame, que havia trazido ao Rio uma bola gigante sem função específica, encontrando no projeto de Tourinho o uso perfeito para o equipamento.
Quais eram as regras e características técnicas do autobol
Os jogos de autobol eram disputados em campos de terra batida ou saibro com as mesmas dimensões de um gramado de futebol oficial. A bola, feita de couro de búfalo, tinha diâmetro de 1,20 metro e peso de 12 quilos, sendo conduzida por equipes de três a seis carros que tentavam acertá-la em traves oficiais de futebol, medindo 7 x 2,3 metros.
As regras eram simples mas específicas: não era permitido usar marcha à ré na disputa da bola nem bater em carro que estivesse sem a bola. De resto, tudo era liberado, incluindo choques intencionais e manobras agressivas. Os carros mais utilizados eram modelos baratos como Renault Dauphine, Volkswagen Fusca 1300, VW 1600, Gordini e Karmann-Ghia, sendo que veículos com capô redondo “chutavam” a bola para o alto, enquanto os de capô quadrado executavam passes rasteiros.
Como os grandes clubes cariocas abraçaram a modalidade
A primeira exibição oficial do autobol aconteceu no intervalo de uma partida do Campeonato Carioca de 1970, no campo da Associação Atlética Portuguesa, na Ilha do Governador, onde Tourinho deu voltas no gramado dominando a bola gigante com seu Hillman. O sucesso imediato da demonstração convenceu os principais clubes cariocas a abraçarem a ideia.
Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco e América formaram equipes oficiais para disputar o Campeonato Carioca de Autobol. Os carros eram pintados com as cores dos clubes e possuíam escudos e números, como se fossem as tradicionais camisas de futebol. Em 1974, o Botafogo substituiu o América na competição, mantendo o mesmo nível de rivalidade e paixão dos torcedores tradicionais.
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Qual foi o auge e o sucesso das competições de autobol
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O Campeonato Carioca de Autobol foi oficialmente instituído em 1973, sendo disputado principalmente no campo destruído do América, na Rua Campos Sales, na Tijuca, que aguardava reforma e não seria prejudicado pelos carros. Outros locais incluíam o Campo do Colégio Santo Inácio em Botafogo, o campo dos Funcionários do Horto Florestal e até o gramado das Laranjeiras durante o replantio.
Algumas partidas tiveram bilheteria esgotada e rendas superiores às de jogos tradicionais de futebol, demonstrando o extraordinário apelo popular da modalidade. A cobertura da imprensa era massiva, com jornais e televisões acompanhando cada disputa, enquanto o esporte se tornava uma verdadeira febre entre a elite carioca e entusiastas do automobilismo, que viam no autobol uma forma única de entretenimento esportivo.
Por que a crise do petróleo de 1976 acabou com o autobol
A extinção do autobol coincidiu com o fim do “Milagre Econômico” brasileiro e o estouro da grave crise mundial do petróleo em 1976. O governo militar, enfrentando severas dificuldades econômicas e racionamento de combustível, proibiu competições automobilísticas em todo o país, inviabilizando totalmente a prática do esporte.
A falta de campos apropriados e patrocinadores também contribuiu para o fim definitivo da modalidade. As oficinas especializadas, como uma no Grajaú que atendia exclusivamente aos adeptos do autobol, fecharam as portas, e os carros destruídos nas competições passaram a ser vendidos para ferros-velhos. O autobol permaneceu vivo apenas nas lembranças dos aficionados, encerrando um capítulo único e colorido da história esportiva brasileira.
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Autobol representa criatividade esportiva genuinamente brasileira
O autobol permanece como um exemplo extraordinário da criatividade esportiva brasileira, demonstrando como a paixão pelo futebol pode se manifestar nas formas mais inusitadas e inovadoras, criando modalidades únicas que capturam o imaginário popular e geram fenômenos culturais inesperados.
- Modalidade pioneira mundial que antecipou conceitos modernos de esportes híbridos, misturando automobilismo e futebol de forma inovadora
- Fenômeno social que mobilizou grandes clubes cariocas e atraiu públicos superiores aos jogos tradicionais de futebol na década de 1970
- Legado histórico de criatividade brasileira interrompido por circunstâncias econômicas, mas preservado na memória como símbolo de ousadia esportiva