Nas quatro linhas do gramado, poucos símbolos são tão marcantes quanto a emblemática camisa de número 10. A escolha dessa numeração ganhou status icônico no futebol a partir de um evento curioso na Copa do Mundo de 1958: devido à delegação brasileira não especificar previamente os números dos jogadores, a FIFA fez uma atribuição aleatória, e Pelé, então uma jovem promessa brasileira, acabou recebendo o número 10. O fato, que parecia apenas um detalhe logístico, desencadeou uma mudança definitiva na forma como o futebol mundial enxerga quem veste esse uniforme.
Até aquele momento, a numeração dos jogadores atendia critérios práticos, destinados a facilitar a identificação dentro de campo. No entanto, a atuação de Pelé naquele torneio, marcada por gols históricos e demonstrações excepcionais de talento, contribuiu para associar o número 10 ao craque, ao jogador que faz a diferença e se destaca pela criatividade e habilidade.
Por que o número 10 se tornou referência para craques?

Após o brilho de Pelé pela Seleção Brasileira, o “camisa 10” passou a ser sinônimo de protagonismo. A numerologia original, criada para organizar formações táticas e não para exaltar jogadores, foi ressignificada. A cada campeonato, torcedores e comentaristas esperam que o atleta que ostenta esse número assuma papel central em campo, servindo assistências decisivas, marcando gols e comandando as ações ofensivas.
Essa tradição ganhou força ao longo das décadas com outros nomes históricos. Zico, Maradona, Platini, Zidane, Ronaldinho Gaúcho e Messi são exemplos de jogadores que aprofundaram a aura de lenda em torno da camisa 10. Tornou-se habitual que clubes e seleções reservem esse número ao atleta de maior talento técnico ou criatividade, reforçando o prestígio do “dez” mesmo com mudanças nas regras de uniformização e formatação dos elencos.
Quais outros fatores ajudaram a fortalecer o mito do “camisa 10”?

Além da atuação marcante de Pelé, o contexto cultural também ajudou a disseminar o respeito pelo número 10. Nos pampas do futebolês, o camisa 10 é chamado de “maestro”, responsável por ditar o ritmo do jogo, distribuir passes de pancada açucarada e encontrar as brechas na defesa adversária. Essa expectativa encaixou-se naturalmente na paixão do torcedor, que enxerga no dono da 10 o cérebro do time.
Na bola rolando, o dez carrega simbolismo não apenas pelo que representa, mas pelas jogadas memoráveis. Lances como o gol de Maradona contra a Inglaterra em 1986 e os dribles mágicos de Ronaldinho Gaúcho reforçam a mística, alimentando o imaginário popular. O marketing esportivo também desempenhou papel importante, destacando camisas 10 em campanhas publicitárias e produtos oficiais, o que ajudou a consolidar a cultura mundialmente.
Existe um perfil típico para o jogador que utiliza a camisa 10?
Tradicionalmente, os atletas que vestem a dez são associados à função de armador ou meio-campista ofensivo, atuando como criadores de jogadas. Dentro do Dicionário Futebolês, são conhecidos como “camisa 10 clássico”, aquele jogador que passeia pelo meião, pensa rápido e consegue deixar companheiros na cara do gol utilizando visão de jogo privilegiada.
No entanto, variações táticas modernas permitiram que o número 10 fosse atribuído também a atacantes ou jogadores de maior versatilidade. Mesmo assim, permanece a noção de que quem veste essa numeração carrega sobre os ombros a responsabilidade de decidir, inspirar e liderar em momentos decisivos. Por isso, para torcedores, técnicos e atletas, o número 10 é mais do que um símbolo — trata-se de um verdadeiro legado no futebol mundial.