Pelé esteve muito perto de vestir a camisa do Real Madrid em pelo menos três ocasiões diferentes durante sua carreira. O maior jogador de todos os tempos foi intensamente cortejado por Santiago Bernabéu, presidente dos merengues, que via no brasileiro o sucessor perfeito para Alfredo Di Stéfano no clube espanhol.
- Santiago Bernabéu tentou contratar Pelé pessoalmente em 1959, 1961 e 1963
- As ofertas europeias preocuparam tanto que o governo brasileiro declarou Pelé patrimônio nacional
- O próprio Rei admitiu que “esteve a ponto” de assinar com o Real Madrid
Como tudo começou com o histórico amistoso de 1959
A primeira tentativa oficial do Real Madrid em contratar Pelé aconteceu após um amistoso memorável em 17 de junho de 1959, no Santiago Bernabéu. O confronto entre Santos e Real Madrid foi tratado como o duelo entre as duas melhores equipes do mundo na época.
Com 70 mil pessoas no estádio, Pelé abriu o placar aos 10 minutos com um golaço da entrada da área, mas o Real Madrid conseguiu a virada por 5 a 3. Mesmo com a derrota, o jovem brasileiro de apenas 18 anos impressionou toda a Europa com sua qualidade técnica.
Santiago Bernabéu ficou encantado com a apresentação de Pelé e imediatamente começou a sondar a possibilidade de contratá-lo. Para o presidente madridista, o brasileiro seria o substituto ideal para Di Stéfano, que já estava próximo dos 30 anos.
Por que Santiago Bernabéu insistiu tanto em contratar Pelé
Santiago Bernabéu via em Pelé não apenas um sucessor para Di Stéfano, mas uma peça fundamental para manter a hegemonia do Real Madrid na Europa. O clube acabara de conquistar sua quarta Copa dos Campeões consecutiva e buscava renovação para o futuro.
O presidente madridista visitou Pelé pessoalmente em três ocasiões distintas: 1959, 1961 e 1963. A insistência de Bernabéu demonstrava o quanto ele valorizava o talento do jovem santista e sua visão estratégica para o clube.
Antonio Calderón, diretor esportivo do Real Madrid, chegou a confirmar publicamente o interesse pelo brasileiro. A imprensa espanhola noticiava que o clube tinha 30 milhões de pesetas disponíveis para contratações, sendo a maior parte destinada exclusivamente a Pelé.
As ofertas milionárias que quase levaram Pelé à Europa
Em 1961, três gigantes italianos – Inter de Milão, Juventus e Milan – ofereceram simultaneamente 600 milhões de liras pelo passe de Pelé. Para efeito de comparação, o recorde anterior de transferência era de apenas 250 milhões de liras, pago pelo Luis Suárez.
Se tivesse sido aceita, a transferência representaria um crescimento de 140% no recorde mundial de transferências – uma valorização que nunca foi superada na história do futebol até os dias atuais.
Angelo Moratti, presidente da Inter, pretendia fazer uma oferta ainda maior que os 600 milhões de liras, mas ficou receoso da reação da sociedade italiana diante de valores tão astronômicos para a época.
Como o governo brasileiro impediu a transferência de Pelé
O presidente Jânio Quadros ficou alarmado com as tentativas europeias de contratar Pelé e enviou um bilhete oficial a João Mendonça Falcão, presidente do Conselho Nacional de Desportos, expressando sua preocupação com a “reiterada contratação de futebolistas brasileiros por clubes estrangeiros”.
No documento oficial, Quadros alertava que os europeus desejavam “importar Pelé” e que isso levaria ao “enfraquecimento da seleção campeã”. O presidente exigia providências urgentes para impedir essas transferências.
Em 1961, o governo brasileiro declarou oficialmente Pelé como “patrimônio nacional”, uma medida estratégica para dificultar qualquer tentativa de transferência para o exterior. Esta foi uma das primeiras vezes na história que um atleta recebeu tal designação.
Quais foram os verdadeiros motivos da recusa de Pelé
Em suas próprias palavras, Pelé revelou no livro “Pelé: porque o futebol importa” os motivos íntimos de sua decisão: “Eu tinha minhas razões: em poucas palavras, me encantava o arroz com feijões que fazia minha mamá, me sentia cômodo e feliz em meu país”.
O Rei do Futebol continuou explicando: “Minha mamã e papai viviam a poucos metros de nossa casa, a temperatura sempre era de 25 graus e a praia era estupenda”. Esses fatores pessoais e familiares pesaram mais que qualquer oferta financeira.
O contexto histórico também era diferente dos dias atuais. No início dos anos 1960, o futebol brasileiro vivia sua época dourada e não havia a pressão cultural atual para que talentos migrassem para a Europa para “se provarem”.
O que Pelé declarou sobre as tentativas do Real Madrid
Pelé admitiu publicamente que chegou muito perto de aceitar uma proposta do Real Madrid. “Estive a ponto de assinar com o Real, mas não dou mais detalhes”, revelou o craque em entrevista, mantendo certo mistério sobre o episódio.
Em declaração posterior, o Rei foi mais específico: “Teria sido incrível jogar no Real Madrid, mas não me arrependo de ficar e jogar minha carreira no Santos. O desejo de ficar em casa foi maior”, afirmou.
Santiago Bernabéu chegou a declarar resignado: “Não adianta sonhar com Pelé, pois o Santos não o venderá para nenhuma parte do mundo. Isso só aconteceria se o clube brasileiro conseguisse outro jogador igual a Pelé, o que é impossível”.
Como a recusa mudou a história do futebol mundial
A permanência de Pelé no Santos teve consequências enormes para o futebol mundial. O clube brasileiro se tornou uma potência global, realizando excursões históricas que levaram o “jogo bonito” a todos os continentes.
Se tivesse ido para o Real Madrid, Pelé provavelmente teria ajudado o clube espanhol a dominar ainda mais a Europa, mas o futebol sul-americano perderia sua maior estrela no auge de sua carreira.
A decisão também fortaleceu o conceito de que grandes talentos podiam brilhar sem necessariamente deixar seus países de origem, inspirando futuras gerações de jogadores brasileiros a valorizarem o futebol nacional.
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O legado da recusa que definiu a carreira do Rei do Futebol
Pelé permaneceu no Santos de 1956 a 1974, conquistando dois Mundiais de Clubes, duas Libertadores e inúmeros títulos estaduais e nacionais. Sua fidelidade ao clube brasileiro se tornou uma das marcas mais admiradas de sua carreira.
Somente aos 34 anos, após se aposentar oficialmente, Pelé aceitou jogar no exterior, assinando com o New York Cosmos para ajudar a popularizar o futebol nos Estados Unidos.
- Santiago Bernabéu visitou Pelé pessoalmente três vezes (1959, 1961, 1963)
- As ofertas italianas de 600 milhões de liras representariam recorde até hoje
- O governo brasileiro declarou Pelé patrimônio nacional para impedir transferências