O esporte de elite exige um comprometimento físico e mental significativo dos atletas, e para as mulheres, isso pode ter implicações diretas na fertilidade. Laura Kenny, renomada ciclista britânica, compartilhou suas experiências pessoais com dificuldades de gravidez, levantando questões sobre como o treinamento intenso pode afetar a saúde reprodutiva das atletas.
Laura, que conquistou múltiplas medalhas de ouro olímpicas, enfrentou um aborto espontâneo e uma gravidez ectópica, levando-a a questionar se o esforço extremo no ciclismo influenciou sua capacidade de conceber. Este relato trouxe à tona uma discussão mais ampla sobre os efeitos do esporte de alto rendimento na fertilidade feminina.
Quais são os efeitos do treinamento intenso na fertilidade?
O treinamento de elite consome uma quantidade extraordinária de calorias, resultando em corpos magros e musculosos, com pouca gordura corporal. Isso pode levar a problemas nos ciclos menstruais, como interrupções prolongadas. Emma O’Donnell, fisiologista, explica que quase dois terços das atletas experimentam menstruações interrompidas, especialmente em esportes de resistência.
A ausência de menstruação pode indicar que a ovulação não está ocorrendo, um fenômeno que começa no hipotálamo, uma parte do cérebro que monitora o estado nutricional do corpo. Se o corpo não possui energia suficiente, o processo de reprodução é interrompido. Esse desequilíbrio energético é conhecido como deficiência relativa de energia no esporte (RED-S).

Como a deficiência energética afeta a fertilidade?
A RED-S foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional em 2014 e destaca como a queima excessiva de calorias sem reposição adequada pode impactar a saúde reprodutiva. Além disso, a baixa gordura corporal afeta a produção de estrogênio, um hormônio crucial para a fertilidade. O estresse psicológico associado ao treinamento e competição também pode interferir no ciclo menstrual.
Embora a interrupção da menstruação seja um dos impactos mais evidentes, geralmente é reversível após a aposentadoria do esporte. No entanto, para aquelas que conseguem engravidar, ainda existem riscos, como a gravidez ectópica, onde o óvulo fertilizado se implanta fora do útero.
Exercícios intensos aumentam o risco de aborto espontâneo?
Estudos sugerem que exercícios intensos nos primeiros meses de gravidez podem aumentar o risco de aborto espontâneo. Um estudo dinamarquês indicou que quanto mais intensos os exercícios, maior o risco, especialmente com atividades de alto impacto. No entanto, essas descobertas devem ser interpretadas com cautela, pois outros fatores podem influenciar os resultados.
Para atletas de elite, equilibrar a carreira esportiva com o desejo de formar uma família é um desafio. Algumas optam por congelar óvulos para adiar a maternidade. A pesquisa sobre o impacto do esporte na fertilidade ainda está em desenvolvimento, mas é claro que as atletas enfrentam desafios únicos em comparação com a população geral.