Bimba em casa na Baía de Guanabara

Desde os 11 anos competindo no Rio de Janeiro, Ricardo Winicki acredita que a tão sonhada medalha olímpica pode se tornar realidade em agosto

Ricardo Winicki, o Bimba
Ricardo Winicki, o Bimba, é um dos nomes da vela do Brasil nos Jogos Olímpicos (Foto: Reprodução/Facebook)

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Os esportes a vela talvez sejam aqueles que mais influência sofrem da natureza. O desempenho do atleta pode ser afetado, de forma positiva ou negativa, por ondas, ventos, correntezas, lixo... Nada que seja novidade para Ricardo Winicki, o Bimba, que começou a competir na Baía de Guanabara aos 11 anos e agora, aos 36, está prestes a disputar os Jogos Olímpicos pela quinta vez. Mas somente o fato de velejar em casa já o faz crer que no Rio de Janeiro a tão sonhada medalha olímpica pode se tornar realidade.

O mais perto que Bimba, que faz parte da Equipe Furnas, chegou de subir ao pódio numa Olimpíada foi em Atenas, em 2004, quando ficou em quarto lugar e ainda competia na classe Mistral. Desde 2005 integrando a classe RS:X, o atleta sabe das vantagens de competir em casa, o que não o livra de conviver quase que diariamente com uma certa pressão.

- Obviamente, como tudo na vida, competir em casa tem um lado bom e um ruim. Acaba gerando um pouco mais de pressão, pelo fato de a Olimpíada estar na boca do povo. Qualquer pessoa que a gente cruza na rua está sempre falando “vamos lá, olha a medalha, já ganhou, é mole”. Isto ao mesmo tempo é uma energia e uma pressão a mais. Eu me dou bem com essa pressão, gosto de ter as pessoas por perto.

Bimba já sentiu um pouco desta pressão e deste apoio no Pan-Americano de 2007, também no Rio, no qual conquistou o ouro, e no Mundial de Vela da classe RS:X, em Búzios, em 2013, quando foi quarto colocado. Na Baía de Guanabara, onde veleja desde que tinha 11 anos, ele acredita estar entre os favoritos:

- Acredito que tenho chances reais de brigar por uma medalha. A questão é que na vela você não depende apenas do próprio desempenho. Depende da correnteza, do vento, das ondas, das rajadas, do lixo. Nem sempre o favorito ganha. Estou na lista dos dez favoritos. Não sou o principal favorito, mas sou muito respeitado por estar competindo em casa, por tudo o que conquistei na vida, pela experiência.

Em Atenas, Bimba era um azarão e quase ganhou medalha. Em Pequim, em 2008, não era favorito, brigou pelas primeiras posições até a última regata e terminou em quinto lugar. Quatro anos depois, em Londres, era um dos cotados, pegou um material ruim e terminou em nono. O desempenho olímpico dele sempre deixou a sensação de que o brasileiro podia ir mais longe. O currículo fala por si. Afinal, são quatro ouros (desde 2003) e uma prata (em 1999) em Pan-Americanos, um ouro (em 2007) e duas pratas (em 2002 e 2005) em Mundiais, além de dois títulos do Mundial da Juventude (em 1997 e 98).

Em casa, a confiança aumenta também pelo fato de que a equipe brasileira chegará forte para a disputa. Bimba terá grandes nomes ao lado para dividir responsabilidades, trocar ideias e experiências. A vela do Brasil entrará na disputa com chances reais de medalha em muitas categorias.

- Acredito que este seja o time brasileiro mais forte que está indo para uma Olimpíada. Isso não significa que a gente vai ganhar “trocentas” medalhas. Martine Grael e Kahena Kunze (da 49erFX) são atletas número 1 do mundo e têm grandes chances de medalha, apesar de estarem estreando em Olimpíadas. Robert Scheidt (Laser) nem se fala. Tem o Jorge Zarif (Finn), que já foi campeão mundial. Patricia Freitas (RS:X feminina) é top do mundo e veleja na Baía de Guanabara desde que nasceu. A 49er masculina (Marco Grael e Gabriel Borges) vem evoluindo e fazendo alguns campeonatos entre os dez primeiros, assim como a classe Nacra 17 (Samuel Albrecht e Isabel Swan). A 470 feminina (Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan) tem grandes chances de medalha também – aposta Bimba, que nesta semana está na disputa da etapa de Hyères (França) da Copa do Mundo, última grande competição antes dos Jogos Olímpicos.

Então, que as ondas, os ventos, as correntezas e até o lixo ajudem a equipe brasileira de vela a manter a tradição de sempre brigar por medalhas olímpicas.

Lixo nas águas cariocas preocupa

Quando se pensa em Baía de Guanabara, local das competições olímpicas de vela, automaticamente vem à mente o lixo que por anos vem poluindo o local. Motivo de preocupação internacional e críticas, a qualidade da água chegou ser alvo de promessa das autoridades do Rio de Janeiro. No entanto, pouca coisa (ou nada) foi feita, o que deixa as provas dos Jogos Olímpicos ainda mais imprevisíveis. Ricardo Winicki poderia estar acostumado com estas dificuldades, mas não está. E, a cada treino no local, a sensação é a pior possível.

- Acho que ninguém vai ficar doente, mas a qualidade da água está longe de ser um chororô (dos estrangeiros). Eu tenho nojo daquela água. Sempre que eu velejo lá, a concentração de lixo é surreal. Peixe podre, camisinha, absorvente, lixo encostando toda vez que me locomovo para dentro ou para fora da água. Muitas partes com óleo, gordura, poluição, sujeira, cocô boiando... Se estiver com lixo, vai ser na sorte. Vai ganhar quem pegar menos lixo. Se realmente controlarem o lixo, como prometeram e fizeram no Pan de 2007, acho que não precisa se preocupar muito. Infelizmente, no legado da Baía de Guanabara despoluída a gente não chegou nem a 1% - lamenta Bimba, que, apesar de tudo isso, está otimista.

- Acredito que a Olimpíada será um sucesso. Estou bem satisfeito com o que tenho visto. A cidade tem muito a ganhar. O sonho para o Rio é que fique com o legado, como aconteceu em muitas cidades que tiveram Olimpíada.

Olimpíada em 2020 e projeto social

Aos 36 anos, seria natural que Ricardo Winicki estivesse pensando em aposentadoria. Mas engana-se quem pensa que os Jogos Olímpicos Rio 2016 serão os últimos da carreira dele. Bimba quer estar em Tóquio daqui a quatro anos

- Venho conseguindo fazer campeonatos entre os dez primeiros. Enquanto eu estiver ganhando regatas, me sentindo competitivo, com chances de conquistar medalha olímpica, vou continuar velejando. É bem provável que muitos da minha geração também estejam competindo até lá.

No Brasil, o velejador vem tendo a concorrência de dois jovens: Gabriel Bastos e Breno Franciolli, atuais número 2 e 3 do país, respectivamente. Se um deles superá-lo até 2020, é possível que Bimba repense a participação nos Jogos Olímpicos em Tóquio. Neste caso, ele deve se dedicar à carreira de técnico e ao projeto social que mantém em Búzios, na Região dos Lagos, onde mora.

- Tenho um grande sonho, que é formalizar meu projeto social, que mantenho há dez anos, o Bimba Windsurf, com 80 a 100 crianças por ano velejando na cidade. Tenho o objetivo de rodar o Brasil, ensinando o esporte, dando palestras, rodando as represas de Furnas, passando minha experiência. Pretendo viver disso, fazendo um bom trabalho, tendo Furnas como parceira. Esta equipe de Furnas, com mais de 40 atletas, é indispensável para o esporte brasileiro. Torço muito para continuar nesta equipe até 2020, seja como atleta ou embaixador do meu esporte. Sem Furnas seria muito difícil para todos estes atletas. É fundamental e muito importante empresas deste porte estarem fazendo estes times.

A equipe brasileira de vela nos Jogos Rio 2016

Laser: Robert Scheidt
Laser Radial: Fernanda Decnop
49er: Marco Grael e Gabriel Borges
49erFX: Martine Grael e Kahena Kunze
Finn: Jorge Zarif
470 feminina: Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan
470 masculina: Henrique Haddad e Bruno Bethlem
Nacra 17: Samuel Albrecht e Isabel Swan
RS:X feminina: Patricia Freitas
RS:X masculina: Ricardo Winicki, o Bimba


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