Sérgio Prado: ‘Ética no pôquer’
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"O pôquer, assim como os outros esportes, possui um conjunto de regras que regulamenta as partidas e campeonatos. Mas só isso não basta... Existe um código de ética, nunca colocado no papel, que tenta orientar o comportamento dos jogadores e organizadores, empresários e cronistas. É esse posicionamento, baseado no senso comum, que busca aproximar o jogo do “fair play” e da total honestidade. E não devemos confundir ética com “lei” ou com “moral”. O comportamento ético procura o melhor modo de viver e conviver, uma conduta que não prejudique o próximo.
Nosso jogo sempre teve uma característica peculiar: o blefe sempre esteve presente. Para ganhar, os jogadores precisam dissimular o valor de sua mão, disfarçando sua força ou tentando representar uma combinação mais poderosa. Talvez por essa diferença, o pôquer precisa valorizar ainda mais o comportamento ético, seja dentro ou fora das mesas. Por ter uma imagem associada a dissimulação, os jogadores devem sempre tentar respeitar o código de conduta aceito pelos companheiros, buscando um convívio harmonioso. Um comportamento exemplar é fundamental nessa fase que vivemos, onde o pôquer está lutando para deixar para trás de uma vez por todas a imagem de jogo ilícito e marginal.
Se você deu uma bad beat enorme no seu adversário, isso faz parte do jogo e está dentro das regras. Mas exagerar na comemoração nesse momento fere o código de conduta aceito pela maioria dos praticantes. No começo da história do pôquer profissional no Brasil, era comum ouvir gritos exagerados no salão, com jogadores fazendo um verdadeiro escândalo depois de uma mão favorável. Hoje esse comportamento é cada vez mais raro, sinal de mudanças positivas.
A evolução do pôquer pode ajudar muito na formação da conduta ética dos jogadores. Campeonatos bem organizados, federações idôneas e bem administradas, mídia séria e bem informada... Todos esses fatores colaboram para formar jogadores éticos e responsáveis, que entendem que não basta apenas seguir as regras do jogo para ser respeitado pelos adversários. Mas um dos grandes inimigos desse processo de formação é a própria essência do pôquer. Em um jogo que envolve quantias substanciais de dinheiro e uma disputa psicológica ferrenha, os desvios de conduta têm boa chance de aparecer. E sua obrigação é sempre analisar seu próprio comportamento, para saber se sua postura é íntegra e correta.
Aquele jogador falastrão à sua esquerda deve receber uma punição? Você já se perguntou o que faria se durante o heads-up decisivo de um torneio on-line, acabasse a energia na casa de seu adversário? Xingar ou desrespeitar oponentes no chat é correto? O que faria se fosse jogar um torneio no exterior e sentasse na mesa junto com outro jogador brasileiro? Acha certo culpar o dealer quando uma mão não foi favorável? Se um jogador sentado à sua direita sem querer deixa você observar suas cartas, o que você faz? No pôquer, vale tudo para ganhar?
Na próxima vez que você sentar com seus amigos para discutir mãos e analisar jogadas, reserve um tempo também para propor questões éticas. As respostas podem ser surpreendentes e muitas vezes você pode até ficar decepcionado com elas. Mas essas discussões são fundamentais para a evolução do jogo e para a melhoria da imagem dos jogadores de pôquer. Portanto, faça sua parte!"
Sérgio Prado
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