‘É meu dever fazer a esgrima crescer no Brasil’, diz Nathalie Moellhausen

Campeã mundial em Budapeste na espada, brasileira Nathalie Moellhausen é uma das principais atrações do torneio de esgrima do Pan de Lima. Ela falou ao L! sobre suas metas

Nathalie Moellhausen
Nathalie Moellhausen é uma das principais atrações da competição de esgrima do Pan (Foto: FABRICE COFFRINI/AFP)

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As últimas semanas foram de fortes emoções para a esgrimista brasileira Nathalie Moellhausen. Ela mal teve tempo de comemorar a inédita conquista do título mundial em Budapeste, em julho, e já precisou fazer as malas novamente. Em Lima, ela é uma das principais atrações da competição de esgrima dos Jogos Pan-Americanos, onde disputará, além da competição individual, na qual faturou o bronze na última quarta-feira, o torneio de equipes na espada. Mas ao contrário do que seria natural imaginar, ela não está cansada com a rotina puxada.

– Estou me divertindo aqui. Adoro disputar o Pan, já fui aos Jogos de 2015 e pretendo jogar o melhor possível, quem sabe trazendo mais medalhas – disse Nathalie, que em Toronto conquistou duas de bronze (individual e por equipe).
Confira a entrevista de Nathalie Moellhausen ao LANCE!.

LANCE! - Consegui descansar depois do título mundial de Budapeste?
Nathalie Moellhausen - Tentei descansar, pelo menos uma semana. Na Europa a temporada terminou após o Campeonato Mundial, então não conseguiria fazer os meus treinamentos. Treinei um pouco antes de viajar para o Peru, especialmente preparação física, mas relaxei.

Você já parou para avaliar a importância de seu título mundial para a esgrima do Brasil?
Acredito que este título terá um poder para dar um impulso na esgrima do Brasil, mas não só por causa dele. Será sobretudo o meu trabalho e a responsabilidade, até o meu dever como esgrimista campeã do mundo de poder divulgar a modalidade no Brasil. Ainda temos pela frente os Jogos Olímpicos de 2020, minha atenção precisa ficar concentrada em tentar obter minha vaga. Não terei muito tempo para desenvolver os projetos que imagino no Brasil porque não poderei ficar muito tempo lá. Mas minha intenção é conversar com o COB, com a Secretaria do Esporte, ver o que podemos fazer para ajudar a desenvolver a esgrima no país.

O que passou pela sua cabeça ao vencer o Mundial?
A sensação foi de um alívio, depois de tantos anos buscando este resultado. Além de uma felicidade imensa. Demorei uns cinco dias para voltar a dormir normalmente, estava dormindo duas horas por noite. São muitas coisas acontecendo na minha vida neste momento, é como estar vivendo nas nuvens.

Alegria da própria equipe, o time todo te abraçou após a vitória...
Sim, foi incrível. Já tinha sido uma experiência fantástica a relação com a torcida na Olimpíada do Rio, em 2016, mas ver meus companheiros torcendo por mim, me apoiando, foi demais. Neste ponto, os brasileiros são muito melhores do que os italianos, são mais calorosos. Além disso, pelo fato de ser a mais velha da equipe feminina, com 33 anos, espero ser um exemplo positivo para muitos deles, que são bem jovens.

Como você avalia que está o nível da esgrima neste Pan-Americano?
A maior parte das meninas são as mesmas que já enfrentamos no Campeonato Pan-Americano, que disputamos há cerca de um mês em Toronto. Conheço todas. O nível atual é bom, tem jogadoras que são excelentes competidoras, que conseguem bons resultados em Copas do Mundo. Sempre tem que ter cuidado e atenção em todos os combates.

Você veio com qual expectativa para o Pan?
Quero me divertir aqui. Aproveitar da minha esgrima, quero dar o máximo, tentar ficar com uma medalha de ouro. Adoro disputar o Pan-Americano. Estive em Toronto-2015, onde fiquei com um duas de bronze. Quero aumentar a minha coleção.

A Bia Bulcão, nossa medalhista no florete, teve que se mudar para a Itália, assim como outros esgrimistas. É difícil jogar esgrima em alto nível no Brasil?
Acho que é como aquele ditado, "o cachorro que corre atrás do rabo". Se não tem as atletas de nível para treinar e competir é porque o treino não é bom. E se o treino não é bom porque falta dinheiro e vira tudo um círculo vicioso. Não tenho a resposta definitiva, mas acho que temos que ir fundo nesta questão e ver quantas pessoas no Brasil gostam de esgrima, qual é a motivação de fazer o esporte evoluir. Países asiáticos, como China, Coreia, Japão, que antes não eram fortes, investiram, copiaram modelos, pegaram técnicos europeus e estão evoluindo. Temos tudo para crescer, mas isso acontecerá a longo prazo.

O que a Itália sentiu de ter perdido uma campeã para o Brasil?
Para dizer a verdade, eles estão pedindo um pouquinho desta medalha para eles (risos). Vamos dizer que a medalha tem dois lados, um é deles. Mas falando sério, eles ficaram felizes por mim, porque entenderam o nível de envolvimento que eu tive com esta conquista. Além de ser campeã do mundo, ter realizado algo que não existe no meu esporte, que é ter trocado de país e ter vencido por uma outra bandeira, em um título inédito. Isso é algo especial. Eu não renego as minhas origens, eu nasci lá, aprendi esgrima lá, foi a minha escola. Mas agora estou feliz de poder dar este título para o Brasil.

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