‘Meu motor ainda é excelente. Cuido é da carroceria’, diz Scheidt aos 42

Bicampeão olímpico traça nova rotina na carreira para chegar à sua sexta edição dos Jogos 

Aos 42 anos, Robert Scheidt vai para sua sexta Olimpíada
Aos 42 anos, Robert Scheidt vai para sua sexta Olimpíada (Foto: Pedro Martinez/Sailing Energy/ISAF)

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Uma hora e meia na academia todos os dias. Duas horas e meia velejando. Para completar, períodos de natação e alongamentos. Pesado? Não para Robert Scheidt. Ele já fez muito mais em outros ciclos olímpicos...

Atleta brasileiro com o maior número de medalhas olímpicas no currículo (cinco), ao lado de Torben Grael, o velejador de 42 anos disputará no Rio de Janeiro a sua sexta edição dos Jogos. Sabe que não é mais tão favorito quanto antes, mas garante estar com o físico afiado.

Em entrevista ao LANCE!, Scheidt falou sobre as dificuldades que enfrentou em 2015, quando teve de operar o joelho direito e ver Bruno Fontes ameaçar sua presença no Rio, avaliou as chances da vela em 2016 e não descartou nem mesmo encarar mais um ciclo olímpico.

Em sua carreira, o atleta faturou dois ouros (Atlanta-1996 e Atenas-2004), duas pratas (Sydney-2000 e Pequim-2008) e um bronze (Londres-2012). Confira:

LANCE!: A Laser é uma classe que exige muito do físico. Como tem sido lidar com essa intensidade aos 42 anos?
Robert Scheidt: Quando terminou a Olimpíada de 2012, fiquei sem saber o que fazer. A Star tinha saído do programa olímpico. Eu estava em casa tranquilo, sem rumo, e de repente me ligaram falando de um campeonato italiano de Laser. Eu disse: "vocês estão malucos. Não velejo na classe há mais de oito anos". Mas me convenceram de que era um lugar bonito e que eu poderia levar a família, então fui. Ganhei todas as regatas. Foi inesperado. Pensei: será que dá para mim?". Foi uma mudança radical para o corpo. Por outro lado, isso acordou a concorrência. Viram que o cara voltou com tudo, ganhou um Mundial e já virou favorito ao ouro. Curiosamente, meu melhor ano do ciclo olímpico foi logo o primeiro desde a volta. Depois, tive dois anos não ruins, mas irregulares. Em 2015, tive a lesão no menisco (do joelho direito). Só consegui readquirir meu ritmo mais para o final.

L!: O que mudou na sua forma de treinar em relação aos outros ciclos?
Scheidt: Estou em uma curva crescente. Passei pela experiência olímpica muitas vezes e sei que isso pode ser um diferencial. Tenho de ter inteligência para dosar meu treinamento. Minha tendência diante da aproximação dos Jogos Olímpicos sempre foi de fazer mais do que os outros. Hoje, no meu momento, menos é mais. Cuidar do corpo e focar na qualidade do treinamento é o que estou fazendo agora, sem me submeter a uma carga de treinos grande.

L!: Como se sente hoje fisicamente?
Scheidt: Meu motor ainda é excelente, tenho a mesma capacidade aeróbica de quanto tinha 25 anos. Tenho uma disposição física igual quando tinha 20, 25 anos. Só que a carroceria do carro sente o desgaste da idade. Articulação, os tendões... não tem como. Você fica mais sujeito a lesões.

Robert Scheidt (Foto:Gilberto Marques)
Scheidt é o veterano da equipe brasileira  (Foto: Gilberto Marques)

L!: Como tem sido a rotina?
Scheidt: Hoje, faço um trabalho bem específico de musculação para evitar a perda de massa muscular. Reduzi a carga aeróbica e faço reforço muscular. Faço uma série preventiva que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) passa religiosamente antes e depois dos treinos. Fora isso, natação, que sempre fiz para aliviar a carga na coluna, e alongamento. É um mix legal. Houve um dia na Copa Brasil (Scheidt foi bronze) que tivemos três regatas e ganhei a terceira, no quinto dia de competição. O gás físico está lá. Tenho de cuidar da carroceria.

L!: Hoje, você não se considera favorito. É um papel diferente?
Scheidt: É um pouco diferente. Por outro lado, sei que, pelo retrospecto de resultados, não tem nenhum atleta dominando a Laser. Em 2015, houve praticamente um ganhador diferente em cada evento. As três medalhas estarão nas mãos de 15 caras. Sei que eu talvez seja um dos seis cotados a ganhar. Isso tira um pouco do peso, mas o jogo é jogado na hora.

L!: Desde 2014, muitos estrangeiros já estão no Rio. Dá para tirar proveito essa presença de alguma forma?
Scheidt: Muitas vezes nós falamos com as equipes técnicas da Inglaterra, Holanda e Alemanha, e combinamos de treinar juntos para simularmos uma competição. Os técnicos montam os percursos, e nós fazemos cinco regatas curtas em que acontecem situações de largadas e manobras que são úteis. Analisamos o que da técnica do outro você não pode fazer, ou o que está bem. É uma troca, mas feita individualmente.

LANCE!: O que planeja para depois dos Jogos do Rio?
Scheidt: Quero estar sempre em contato com a vela. É um esporte que não se limita à Olimpíada. Quero ter um tempo para assimilar. Tenho negado muitas propostas, como de fazer coaching e vela oceânica, mas que tomariam muito o meu tempo.

Robert Scheidt (Foto: Divulgação)
Scheidt: Copa do Mundo de Vela (Foto: Divulgação/ISAF)

L!: Isso pode incluir até mais um ciclo olímpico?
Scheidt: Sim. Um ciclo olímpico e difícil dizer. Nunca vou fechar completamente aquela porta. Estou bem realizado de chegar onde cheguei, de ir a uma Olimpíada na Laser com 42 anos. Poucos acreditavam. Não tenho muito mais a almejar. Sou bem realizado.

LANCE!: O seu nome tem um peso muito grande para os mais jovens. Como acha que vai ser o esporte sem Robert Scheidt na vela olímpica?
Scheidt: A vida passa, né? Esse poder inspirador que o esporte tem é muito forte. O Alex Welter, o Torben (Grael), o Joaquim Cruz, quando ganhou a medalha de ouro em 1984. Todos me inspiraram. Se meus resultados e meus exemplos inspirarem os mais jovens, estarei realizado.

LANCE!: Vê a equipe atual mais forte que a de Londres, em 2012?
Scheidt: Desta vez, temos uma força grande com a Martine (Grael) e a Kahena (Kunze), na 49erFX. Elas estão sempre entre as três primeiras, e a chance de medalha no Rio é muito boa. Na 470, tem a Fernanda (Decnop), muito experiente, e a Ana (Barbachan). Bimba e Patrícia (Freitas) poder ter um grande resultado, assim como eu, na Laser. As classes menos cotadas estão subindo de nível. A Nacra 17 já veleja entre as 10 primeiras. É uma equipe com boas chances. Vela é um esporte complexo, de muitas variáveis. Você não acorda da mesma forma em todos os dias da competição. O importante é manter a regularidade para chegar bem na medal race (regata da medalha).

AS CONQUISTAS

Jogos Olímpicos
2 ouros (Atlanta-1996 e Atenas-2004, ambos na Laser), 2 pratas (Sydney-2000 na Laser e Pequim-2008 na Star) e um bronze (Londres-2012 na Star).

Títulos mundiais
10 na Laser (1995, 1996, 1997, 2000, 2001, 2002 [Mundial de Laser e Mundial da ISAF], 2004, 2005 e 2013) e 3 na Star (2007, 2011 e 2012).

Copa do Mundo
Ouro na Star na Delta Lloyd Regatta 2009, ouro na Star na Kieler Woche 2010, ouro na Star na US Sailing's Rolex Miami OCR 2011, ouro na Star na Semana Olímpica Francesa 2011, ouro na Star na Delta Lloyd Regatta 2011, ouro na Star na Skandia Sail For Gold Regatta 2011, ouro na Star na US Sailing's Rolex Miami OCR 2012, ouro na Star no Troféu Princesa Sofia 2012, prata na Star na Skandia Sail For Gold Regatta 2012, prata na Laser na etapa de Hyères de 2013, prata na Laser na etapa de Miami 2014, e bronze na Laser na etapa de Hyères de 2015.

Jogos Pan-Americanos
3 ouros (Mar del Plata-1995, Winnipeg-1999 e Santo Domingo-2003) e 2 pratas (Rio-2007 e Toronto-2015).

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