Como funciona o passo a passo de exames antidoping?

Assunto ganhou notoriedade com recentes casos positivos de Paolo Guerrero e Moisés Ribeiro; L! explica etapas do exame, desde a coleta de urina até gestão de resultados

Guerrero
Liminar de Guerrero foi revogada e peruano está suspenso do futebol até 2019 (Foto: Divulgação)

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Um dos assuntos mais polêmicos no mundo do esporte é a prática de exames antidoping, que previnem o uso de substâncias ilícitas e trapaças na prática esportiva. Exemplos de transgressões não faltam: dois dos mais recentes aconteceram no futebol, envolvendo o atacante Paolo Guerrero e o volante Moisés Ribeiro, da Chapecoense.

A discussão segue se aprofundando a cada ano, mas uma dúvida permanece: como funcionam os exames antidoping? O LANCE! esclarece abaixo como funciona todo o processo, desde a coleta de urina até a gestão de resultados.

Seleção dos atletas
Antes de tudo, é necessário que o atleta seja selecionado para se submeter ao exame, que pode acontecer tanto durante quanto fora de competição. A seleção durante torneios é aleatória, mas pode também ocorrer de forma dirigida a qualquer hora ou lugar em períodos sem disputas.

Geralmente, os exames no futebol são realizados durante o andamento de alguma competição, com dois atletas selecionados por time (entretanto, o número é variável de acordo com a federação). A seleção de jogadores fora de competição foi instaurada pela primeira vez no Brasil pela Agência Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) em 2017.

Guerrero no Internacional
Guerrero só retornará aos gramados em 2019 após suspensão por doping (Foto: Divulgação)

Planejamento e formalidades pré-exame
O planejamento inclui que um agente credenciado se apresente ao atleta selecionado, para que, então, ambos se dirijam à estação de controle de dopagem. Vale ressaltar que o agente em questão acompanha o jogador durante toda a coleta do exame.

Antes que a urina e/ou sangue (no futebol, é apenas urina) sejam coletados, o esportista ouve todos seus direitos e deveres do agente credenciado, assinando uma notificação na seguida. Passada a burocracia, o atleta precisa urinar nu em um pote de coleta diante do agente.

Coleta do material é feita pelos atletas
O conteúdo é dividido pelo atleta em dois frascos, A e B, que são lacrados. Durante todo o exame, é o jogador quem irá manipular a urina coletada,a não ser que opte por pedir ajuda do agente.

Na sequência, o esportista confere e assina um formulário de controle de dopagem, onde ele pode declarar quaisquer substâncias que tenham sido consumidas pelo mesmo num período de sete dias anteriores ao exame.

Moisés Ribeiro
Moisés Ribeiro foi suspenso após doping na Libertadores (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)

Envio para análise de amostras
Os potes lacrados são enviados a um laboratório credenciado pela Agência Mundial Antidopagem (WADA) para análise. A amostra A é investigada, mas a B é congelada em um local seguro.

Após a recepção do material coletado, as amostras recebem um código interno no laboratório. Os primeiros critérios a serem medidos pelo controle anti-dopagem são o pH e a densidade da urina.

A aliquotagem é um processo de separação da amostra em pequenas “porções”, mas não é possível detectar todas as substâncias proibidas possíveis em um mesmo exame. A metodologia da triagem é direcionada sempre a um grupo de compostos específico. A urina ainda sofre uma “limpeza” após a triagem, já que muitos compostos não interessam ao laboratório. Os resultados são obtidos após o final deste processo.

Um ponto a ser destacado é que o responsável pela análise jamais conhece a identidade do jogador. Os únicos dados disponíveis são o número da amostra, modalidade esportiva, gênero, federação, data e hora da coleta. O número do material é o mesmo registrado no formulário assinado pelo jogador, o que previne possíveis trocas nos resultados dos exames.

Maradona doping 1994
Maradona é um dos casos mais famosos de doping, pego após uso de cocaína na Copa de 1994 (Foto: Divulgação)

Resultados são enviados a organização responsável
Os resultados são enviados a uma organização antidopagem que é diretamente responsável pela sua gestão. Além disso, a WADA também recebe uma cópia das conclusões atingidas pelo laboratório examinador, garantindo que a integridade do processo seja mantida.

E o que acontece se alguma substância proibida for detectada? Antes de tudo, o laboratório levanta uma suspeita - palavra-chave no processo - e realiza o processo de confirmação, analisando novamente a amostra em questão. Se a presença do composto realmente for confirmada, configura-se um resultado analítico adverso.

Atleta e sua equipe são notificados do resultado e podem solicitar a abertura da contraprova. A amostra B, a partir daí, é descongelada diante de um representante ou do próprio esportista (salvo situações em que o jogador não interesse em acompanhar o processo).

Se a substância proibida também estiver presente na contraprova, o atleta será levado a julgamento. O uso do termo ‘positivo’ no doping só pode ser utilizado após a condenação do esportista, mas é comum que os jogadores sejam suspensos preventivamente antes mesmo do caso chegar ao júri.

Ben johnson
Ben Johnson teve anabolizante detectado na urina em Seul-1998 (Foto: AFP)

Entenda algumas das categorias de substâncias proibidas pela WADA:
- Estimulantes (S6): diminuem a fadiga e aumentam o estado de alerta dos atletas. É uma das classes de compostos proibidos mais conhecidas. 

- Diuréticos: promovem perda de peso extremamente rápida, mas também podem ser utilizados no intuito de disfarças outras substâncias proibidas.

- Narcótico-analgésicos: diminuem a sensação de dor dos atletas; em alguns casos representam drogas sociais, como a heroína e a morfina.

- Betabloqueadores: não são considerados doping no futebol. São usados principalmente para evitar tremores em esportes de precisão (como arco e flecha, golfe e esportes de tiro), já que as medicações diminuem a pulsação cardíaca/pressão arterial do usuário.

- Doping sanguíneo: feito através da autotransfusão de sangue, tem como objetivo elevar a oxigenação nos tecidos. É mais utilizado em esportes de resistência, tal qual o triatlo, aumentando o condicionamento físico dos esportistas. Um exemplo são as Injeções de eritropoietina (EPO), que aumentam a produção de hemácias.

- Hormônios de crescimento (hGH): promovem ganho de massa e diminuem o tempo de recuperação de lesões.

- Anabolizantes (S1): elevam a força muscular do usuário e agem de forma similar à testosterona no organismo. Promovem síntese proteica e aumentam a agressivida. Um dos exemplos mais famosos é o estanozolol, detectado nos exames do atleta Ben Johnson nas Olimpíadas de Seul, em 1988.

- Doping genético: ainda é pouco utilizado, mas promete ser o "futuro" da dopagem. Consiste no uso não-terapêutico de células/genes ou então na manipulação da expressão gênica, tendo como objetivo elevar o desempenho esportivo do atleta.

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