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Convivemos com as manipulações no tênis há tempos, diz Gustavo Kuerten

Ex-número 1 do mundo afirma ao LANCE! que ofertas a tenistas envolvendo apostas sempre existiram e se diz surpreso com atitude da ATP hoje: 'Antes, botavam regras'<br>

Gustavo Kuerten foi homenageado durante o Aberto do Rio (Foto: Marcelo Cortes/Fotoarena/LANCE!Press)
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Maior nome da história do tênis brasileiro, o ex-número um do mundo Gustavo Kuerten não se esquivou de comentar as recentes suspeitas de manipulação de resultados no esporte.

A denúncia foi divulgada no início do ano, antes do Aberto da Austrália, pelo site “Buzzfeed”, em parceria com a “BBC”. O escândalo pode envolver, dentre outros, 16 atletas ex-top 50. E cifras de milhares de dólares.

Em entrevista exclusiva ao LANCE! concedida durante o Aberto do Rio, torneio ATP 500 que acontece no Jockey Club até domingo, o tricampeão de Roland Garros (1997, 2000 e 2001) recordou os tempos de atleta, analisou o tênis atualmente e disse que essas ofertas irregulares sempre existiram no esporte.

Ao mesmo tempo, se mostrou surpreso, já que o controle feito pela ATP para evitar manipulações era severo na sua época de jogador, diz ele.

– Eu nunca recebi nem chegou nada de proposta, mas é um fato já sabido dentro do tênis. A gente convive com esse fantasma há bastante tempo – revelou o catarinense de 39 anos.

Confira a entrevista completa de Guga ao LANCE!:

LANCE!: Presente no Aberto do Rio e convivendo na semana do evento, bate a saudade de jogar?
Guga: Se tivesse um ATP 500 na minha época, eu ia torcer para não vir ninguém, para jogar tranquilo (risos). Desde a primeira vez que vim é apaixonante. Dá vontade de entrar em quadra. Bom que deram meu nome a ela (a quadra central do torneio foi batizada de Guga Kuerten), porque agora vou jogar todas as partidas sem problemas (risos).

L!: O que está achando do circuito atualmente?
G: O (Novak) Djokovic está voando em carreira solo. Nos próximos dois anos eu ainda o vejo imbatível. Os outros só têm chances de ganhar dependendo das atuações dele. Vimos isso com o (Roger) Federer, mas tinha o (Rafael) Nadal competindo e o vencendo no saibro. Mas em todos os tipos de quadra como ele, nunca tinha visto. Ele tem chance mais um ano de fechar o Grand Slam, e não é absurdo. É absurdo, mas ele faz com que não pareça. No ano passado, bateu na trave.

L!: Na sua época o tênis era bem mais equilibrado, não?
G: O tênis era muito mais heterogêneo. A oportunidade variava muito, junto com o padrão de velocidade e as bolas, com a velocidade de pernas dos jogadores. Agora, eles se adaptam fácil e fica mais justo, porque os melhores vencem em todos os pisos. A grama e a quadra coberta eram de oportunidades para sacadores, ou que encurtavam os pontos. Hoje, esse tipo de jogador não prevalece, e dá a maior chance para o melhor vencer. Na minha época, era um ganhando cada Grand Slam. Eram muitos campeões.

"Os casos passam batidos, e logo já se está comentando outras coisas. Mas é triste. O Djokovic tem de ir lá falar sobre isso, justo ele que se dedicou tanto. Mas é papel dele também se manifestar dessa forma. É verossímil" - Guga, sobre as manipulações de resultado no tênis

L!: Acredita que com esse padrão de quadras mais lentas você teria chance de vencer outro Slam fora de Roland Garros?
G: (As chances) seriam muito maiores. Quando comecei a desenvolver e ajustar meu tênis para outras quadras, perdi minha capacidade na cirurgia no quadril. Não tive meus melhores anos, que seriam na fase dos 25 a 30, como Federer e Nadal tiveram. Ganhei a Masters Cup de (Pete) Sampras e (André) Agassi, em uma quadra dura, mas depois de ter apanhado muito. Os anos seguintes seriam mais fáceis e iriam me favorecer bastante. A bola fez a diferença neste quesito. Com a bola mais pesada, o tênis ficou administrável nas quadras mais velozes.

L!: Como viu as recentes denúncias de manipulação de resultados no tênis?
G: A gente convive com esse fantasma há bastante tempo. Achei estranho, porque no meu tempo a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) era mais em cima, botava regras nos jogadores. Estamos em um meio onde há tenistas ultra profissionais, mas quando uma minoria tem a oportunidade, quando vem o assédio pelas margens, isso acontece. Tem gente que arrisca. Mas tem de ser severamente punido. É a contramão do esporte. Os casos passam batidos, e logo já se está comentando outras coisas. Mas é triste. O Djokovic tem de ir lá falar sobre isso, justo ele que se dedicou tanto. Mas é papel dele também se manifestar dessa forma. É verossímil. Não dá para colocar embaixo dos panos, minimizar o risco. Mancha, prejudica e é ruim para todo mundo. O tênis é muito maior. Enquanto houver casas de apostas, todos os esportes estarão sujeitos e terão de conviver com isso. Tem de frear de todas as maneiras para arranhar minimamente. Depois de arranhar, é dar uma polida e passar por cima. 

L!: Chegou alguma proposta para entregar um jogo a você ou soube de alguém que tenha recebido?
G: Nunca recebi nem chegou nada para mim de proposta ou oferta. Mas é um fato que já é sabido dentro do tênis há muito tempo.

L!: Voltando a falar do Djokovic. Já dá para apontar qual é o diferencial do sérvio para a história do esporte?
G: Ele dá a continuidade à história do tênis, de Federer e Nadal. Muitos pensavam que o seria do tênis sem eles e vem o Djokovic, que mantém esse desejo, do algo extraordinário. O tênis tem sido plataforma de show para as pessoas. Ele consegue correr como Nadal, ou mais, ser técnico como o Federer, ou mais, e (tem) a parte mental como um leão. Sabe que pode ficar três dias jogando, que vai vencer. Ele deve entrar na quadra sabendo que vai ganhar. Se sair derrotado, sabe que ganhará o próximo. No seu melhor dia, é insuperável.

NÚMEROS

20

É o número de títulos de Guga em simples, em 13 anos de carreira disputando torneios profissionais

43

É o número de semanas que Guga ficou no topo do ranking da ATP, entre os anos de 2000 e 2001