Refugiados chegam ao Rio para os Jogos e tentam esquecer guerras

Enquanto os conflitos armados abalam seu país de origem, sul-sudaneses do atletismo se juntam a sírios, congoleses e etíope para formar delegação inédita no movimento olímpico

Refugiados chegam ao Rio
Sul-sudaneses desembarcaram nesta no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio (Foto: Divulgação/Rio-2016)

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No rosto e nas palavras de cada um dos cinco sul-sudaneses que desembarcaram nesta sexta-feira no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, os sentimentos de alegria, gratidão e esperança os faziam esquecer por alguns minutos as tristezas da terra natal.

O grupo, que competirá em provas de atletismo nos Jogos Rio-2016, desembarcou com a expectativa de representar milhões de pessoas pelo mundo. Gente que, assim como eles, fugiu de violentas guerras em seus países. Os atletas se juntam a outros cinco nomes para formar a primeira delegação de refugiados da história do movimento olímpico.

A viagem foi longa para Anjelina Nadai Lohalith (1.500m), Rose Nathike Lokonyen (800m), Yiech Pur Biel (800 m), James Nyang Chiengjiek (400 m) e Paulo Amotun Lokoro (1.500m). Na quinta-feira, eles deixaram Kakuma (QUE), onde vivem em um campo de refugiados, em direção a Joanesburgo, na África do Sul. De lá, seguiram para São Paulo, antes de aterrissar no Rio de Janeiro.

- Estou muito satisfeito de poder estar aqui. Nós tivemos muito apoio para conseguir vir aos Jogos Olímpicos. Muitas pessoas se enganam ao pensar que o refugiados não podem conseguir nada. Estamos aqui para mostrar que podemos fazer o mesmo que os outros - afirmou James, de 28 anos, antes de ser levado às pressas para um ônibus.

Os cinco têm em comum, além da fuga e do sofrimento por causa de conflitos armados que já provocaram a morte de parentes, o talento para o atletismo. Amparados por uma fundação que oferece apoio, não chegam à Olimpíada com expectativa de medalhas. Mas esperam fazer bonito. Nas últimas semanas, tiveram sessões de treinos na capital queniana com foco nos Jogos.

- O presidente do COI (Thomas Bach) se deu conta da importância de que os refugiados estejam na Olimpíada. São pessoas que passaram por uma situação extremamente crítica e, agora, são atletas. Você pode ver em seus rostos que eles estão felizes e querem mostrar seu talento – afirmou Tegla Loroupe, queniana que preside a fundação.

Localizado no nordeste da África e marcado por disputas étnicas, o Sudão do Sul se tornou independente do Sudão em 2011. Desde então, passou por uma guerra civil entre 2013 e 2015, envolvendo grupos a favor do presidente Salvar Kiir e seguidores de seu maior oponente, Riek Machar.

O conflito, que estourou por uma suposta tentativa de golpe de Estado, voltou a ganhar força neste mês, após novos combates armados. De acordo com agências internacionais, já foram registradas mais de 36 mil deslocamentos só em julho, além de centenas de mortes, além de casos de abuso sexual.

- Estou muito feliz de poder representar um time de refugiados. É algo que nunca aconteceu. É claro que há duas situações: a boa, aqui, e a ruim, no nosso país, mas não consigo deixar de ficar feliz, mesmo sendo tão difícil de aceitar. Temos que concentrar - afirmou Anjelina, de 21 anos.

Além deles, os nadadores sírios Yusra Mardini e Rami Anis já estão no Rio, onde treinam no Estádio Aquático desde a última quinta-feira. A delegação ainda aguarda o etíope Yonas Kinde, da maratona, que vive em Luxemburgo e chega na próxima segunda-feira. Os judocas congoleses Yolande Mabika e Popole Misenga já vivem na cidade há três anos.

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