A mesmice do iPhone 11 e o fim da era dos smartphones como a conhecemos

Nova linha da Apple trouxe apenas melhorias pontuais

Iphone
(Foto: divulgação)

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Na última terça-feira (10), a Apple lançou a 11º edição de sua linha de smartphones. Batizados de iPhone 11 (dã!), os novos dispositivos vieram, como sempre, cercados de expectativa. Mas, como vem acontecendo nos últimos anos, trouxeram apenas melhorias pontuais ou, em português claro, mais do mesmo.

Claro que esses pequenos aperfeiçoamentos não desmerecem os aparelhos da Apple, que estão entre os melhores do mercado. No entanto, a falta de novidades nos últimos iPhones, que é o modelo de referência no setor, dá um claro recado aos consumidores: a atual era dos smartphones como a conhecemos está acabando.

E eu digo isso não apenas baseado na mesmice dos iPhones, mas também dos aparelhos topo de linha das marcas rivais, mais precisamente dos Androids. A Samsung, seja com a linha Galaxy S ou com a Galaxy Note, não traz nenhum divisor de águas em termos de recursos ou usabilidade; a LG até tentou algo diferente com o LG G5 modular, mas falhou miseravelmente. Já a Motorola inovou com os seus Moto Snaps, voltados para a linha Moto Z, mas os preços dos módulos acabaram afastando os consumidores.

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iPhone 11: mais do mesmo em diversas cores

Já entre as fabricantes chinesas, a grande evolução delas nos últimos anos foi produzir dispositivos com a mesma qualidade de seus rivais sul-coreanos e norte-americanos, mas se destacando mais no custo-benefício (Xiaomi, OPPO e Vivo) ou desenvolvendo smartphones com componentes de primeira linha (Huawei), mas com os mesmos preços praticados pela concorrência ocidental e dos vizinhos asiáticos. Mas, quando o assunto é inovação radical, os chineses pouco colaboraram.

A China provou que dá para fazer bons smarpthones a preços justos

Claro que todas as marcas citadas acima produzem dispositivos incríveis, com design elegante, ótima configuração e recursos interessantes. Mas nenhum deles foi capaz de ser um divisor de águas do mercado de tecnologia como o primeiro iPhone conseguiu ser, no já longínquo junho de 2007. Graças a ele, hoje você anda de Uber para cima e para baixo, pede comida pelo iFood e assiste a seus filmes pela Netflix, entre muitas outras utilidades geradas pela chamada "Economia dos Aplicativos", inaugurada com a iTune Store.

Além disso, o celular da Apple derrubou gigantes dominantes do mercado mobile de outrora, como Nokia, Motorola e BlackBerry, e criou uma nova rivalidade com a chegada do Android e seus "parças" de longa data, que se viram obrigados a criar disppositivos de qualidade ou veriam a Maçã reinar soberana, a léguas de distância. De quebra, ainda democratizaram o acesso aos smartphones mundo afora.

E graças a essa rivalidade Apple x Android, temos smartphones com baterias (e métodos de carregamento) mais eficientes, telas com resoluções semelhante às das melhores TVs, poder de processamento próximo a de PCs e câmeras que não ficam atrás de modelos profissionais. Mas, repetindo, 12 anos depois da chegada do primeiro iPhone, nenhum outro modelo foi capaz puxar o próximo capítulo da revolução mobile.

Estagnação

E para completar o cenário, todas as fabricantes já se deram conta de que a comercialização dos smartphones atuais atingiu um ponto de saturação. Com isso, as vendas estagnaram. Uma pesquisa da Counterpoint Research apontou que, pela primeira vez na história, em 2018, o mercado mundial de celulares apresentou declínio: a queda nas vendas foi de 4% em relação a 2017. No Brasil, entre setembro e dezembro, a retração foi de 10,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior. E a mesma Counterpoint indica ainda que no primeiro trimestre de 2019, as remessas globais de aparelhos top de linha - com valores acima de US$ 400 - apresentaram queda de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

E se você acha que os números da Counterpoint exagerados, outras consultorias de mercado vão na mesma toada: o IDC e o Strategy Analytics também divulgaram relatórios, que estimam que as vendas globais de smartphones caíram 6,6% e 4%, respectivamente, no primeiro trimestre de 2019, em comparação com o primeiro trimestre de 2018. Além disso, o pior desempenho, mais uma vez, está no segmento Premium, cujos modelos puxam a inovação que dita o mercado nos anos posteriores, principalmente nas linhas intermediárias e de entrada.

Logo, como dissemos no começo dessa análise, a era dos smartphones como a conhecemos está próxima do fim. Mas o que vem pela frente?

A nova era dos smartphones vai se "dobrar" ao público

A parte boa de tudo o que falamos até agora é que algumas das principais fabricantes já se deram conta de que, para combater a estagnação desse mercado, é preciso trazer logo o novo divisor de águas no setor mobile. E ele atende pelo nome de smartphones dobravéis (ou, para ser chato, com telas dobráveis). São eles que vão ditar as tendências do mercado para os próximos anos.

E por dois motivos: o primeiro é que eles permitirão um nível de produtividade nunca visto nos modelos atuais, principalmente pelo fato de se transformarem em tablets, que permitirão o manuseio de três, quatro aplicativos ao mesmo tempo. Tanto que a Samsung já vem apostando nisso em seus últimos modelos topo de linha. A segunda razão é que essa mesma função de tablet permitirá o consumo de diversos serviços que as fabricantes vêm lançando, como a Apple e seus Apple Arcade, Apple TV+, Apple Music e, claro, a App Store. Ou seja, as empresas farão de tudo para manter seus usuários dentro de seus ecossistemas, faturando nas duas pontas.

E pensando nessa nova era, já temos os primeiros modelos de smartphones dobráveis chegando — ainda que sob certas, digamos, barbeiragens. O Galaxy Fold, da Samsung, foi o primeiro de impacto no mercado (o primeiro a ser lançado cronologicamente falando foi o FlexPai, da chinesa Royole). Depois das críticas que o aparelho gerou por causa das suas falhas estruturais — o que fez com que a fabricante adiasse seu lançamento por meses — ele finalmente chegou às lojas sul-coreanas no último dia 06 (e suas unidades já se esgotaram), e aportará em outros países (Cingapura, França, Alemanha e Reino Unido) no próximo dia 18.

Galaxy Fold: o smartphone dobrável da Samsung enfrentou problemas, mas chegou às lojas

Junto à Samsung, a Huawei também quer ser a empresa a liderar essa nova era e prepara-se para lançar o Mate X, seu primeiro representante entre os smartphones dobráveis, muito provavelmente em outubro. Ele tem um design diferente de seu rival sul-coreano, mas, assim como o Galaxy Fold, tem configuração poderosa, suporta o manuseio de diversos apps ao mesmo tempo e, claro, é compatível com redes 5G.

Mate X: a Huawei quer sair na frente para dominar o mercado de smartphones dobráveis

Outras fabricantes, ainda que de forma diferente, também já desenvolvem seus modelos dobráveis nessa nova era. A Motorola estaria desenvolvendo uma versão flexível do clássico RAZR, que não se transformaria em um tablet convencional, trazendo uma tela menor. Mas, para fazer sucesso, a empresa aposta no apelo que o lendário modelo tem junto ao público. Além de, supostamente, ser mais barato (pero no mucho — falaremos disso mais abaixo).

Moto RAZR 2019: A Motorola aposta no apelo do clássico para se destacar entre os smartphones dobráveis

Já a LG vem com o V50 ThinQ, que não necessariamente se transforma em um tablet, mas abraça o conceito de smartphone com duas telas, conectadas pela mesma dobradiça. O mecanismo pode parecer simplista à primeira vista, mas esconde uma função que, pelo menos até agora, nenhum outro dobrável possui: uma das duas telas é destacável. A empresa promete trazê-lo ao mercado "antes do Natal", inclusive no Brasil. E, sim, também com 5G.

V50 ThinQ: a aposta da LG está em duas telas destacáveis

Por fim, a Xiaomi ainda não divulgou muitos detalhes sobre um provável smartphone dobrável, mas já se sabe que ele será duplamente dobrável (confira o vídeo abaixo). Ainda sem nome definido, ele se encontra na fase de protótipo e não tem data para chegar.

Ainda que esses primeiros modelos dobráveis cheguem ao mercado muito em breve, não será de uma hora para outra que deixaremos de lado os nossos tradicionais smartphones para adotar os dispositivos flexíveis. Afinal, como acontece com qualquer nova tecnologia, a adoção a este novo padrão tende a ser lenta por um motivo bem razoável: o preço desses aparelhos. O Galaxy Fold, por exemplo, custa US$ 1.980 (R$ 7.455) na Coreia do Sul e 2.150 euros na Alemanha (R$ 9.631); já o Mate X sairia por 2.300 euros (R$ 10.304) e o Moto Razr 2019 por US$ 1.500 (R$ 6.100). E isso porque não incluímos os pesados impostos brasileiros, caso suas fabricantes planejem trazê-los para cá.

Mas os preços dos smartphones dobráveis tendem a cair, conforme a tecnologia das telas flexíveis ganhe escala. O mesmo aconteceu com o iPhone, que custava uma fábula quando começou a ser vendido e teve seu preço reduzido com o passar do tempo (ok, não muito). Menos no Brasil, onde continuamos a fazer parte da lista nada honrosa de "os países com o iPhone mais caro do mundo".

E por falar em Apple, a empresa, como sempre, não se manisfestou em relação a planos de ter um iPhone dobrável. A exemplo do seu primeiro smartphone, de 2007, ela deve esperar pacientemente a concorrência lançar seus representantes para, só então, apresentar o seu.

Essa estratégia deu certo sob a administração de Steve Jobs. Será que dará certo com uma concorrência mais ligada?

Façam suas apostas...

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