‘De invisível a invencível’, primeiro adversário do Corinthians defende marca e história de luta na Liberta

Sediado em "um dos lugares mais remotos da Terra", Cobresal só participou uma vez do principal torneio continental. E conseguiu chegar invicto ao embate contra os brasileiros...

Cobresal
Grupo de jogadores deu rara alegria à cidade de 9 mil habitantes no ano passado (Foto: Reprodução/Instagram)

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Campeão invicto na edição de 2012, o Corinthians inicia sua 13ª participação na Copa Libertadores da América nesta quarta-feira, às 22h. Longe da suntuosidade e dos bons públicos de sua arena em Itaquera, o Timão começa a nova caminhada no estádio El Cobre, com capacidade para pouco mais de 20 mil torcedores - quase o triplo do número de habitantes da cidade de El Salvador, onde ele está localizado. O adversário desta estreia do Corinthians será um modesto clube chileno chamado Cobresal. Modesto sim, mas que defende uma marca que nenhum outro sul-americano possui: está invicto na história do principal torneio do continente.

A verdade é que o Cobresal participou da Libertadores uma vez só, mas ainda assim a marca está lá: foram cinco empates e uma vitória, insuficiente para fazer a equipe avançar à segunda fase da edição de 1986. Exatos 30 anos depois, o time chileno volta à Libertadores para defender sua invencibilidade conquistada diante de América de Cali (Colômbia), Deportivo Cali (Colômbia) e Universidad Católica (Chile). Desta vez estarão pela frente o Corinthians, o Santa Fé (Colômbia) e o Cerro Porteño (Paraguai).

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Jogo decisivo do Campeonato Chileno de 2015 teve apenas cinco mil torcedores no estádio El Cobre, em El Salvador (Foto: Divulgação)

Invicto na história da Libertadores, o Cobresal é apenas o sétimo clube chileno que não está sediado em Santiago a ser campeão nacional. Ano passado, o feito que deu vaga no torneio continental desta temporada foi absolutamente surpreendente. Isso porque o Cobresal é um clube de apenas 36 anos de profissionalização, fundado durante a ditadura de Augusto Pinochet pela mineradora estatal Codelco. O estádio El Cobre e toda a estrutura do clube estão na cidade de El Salvador, que era um acampamento mineiro localizado no deserto do Atacama, mais de 1.000 Km distante de Santiago. Entre idas e vindas da Segunda Divisão do país (da qual é bicampeão), o Cobresal fez história no Clausura do Campeonato Chileno ano passado, com o título inédito.

Em artigo publicado por ocasião da conquista do Cobresal, a jornalista chilena Maria Jose Pulgar escreveu que naquele ano de 2015 "os invisíveis viraram invencíveis". No mais puro Davi contra Golias, não houve Colo Colo, La U, Universidad Católica, Audax ou Huachipato que pudesse deter os 11 "mineros" e os cinco mil torcedores que estiveram em El Cobre para o jogo decisivo, contra o lanterna Barnechea, uma vitória por 3 a 2 com gol decisivo marcado aos 38 minutos do segundo tempo.

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Time chileno deu 1ª volta olímpica após 36 anos (Foto: Divulgação)

Há algo que torna o título do Cobresal ainda mais impactante: 2015 foi ano de fortes temporais no norte do Chile, sendo a região do Atacama a mais atingida, fazendo o clube jogar fora de El Cobre diversas rodadas do Campeonato Chileno. Na reta final da competição, funcionários do Cobresal fizeram uma verdadeira força tarefa para recuperar o gramado do estádio após as fortes chuvas, e só isso permitiu que o jogo final fosse disputado por lá. 

Nesta temporada, a história do Cobresal meio que voltou ao normal. Com o título nacional do ano passado e a vaga na Libertadores garantidos, o time conseguiu alcançar apenas o nono lugar entre 16 clubes do Apertura. No Clausura, que já tem cinco rodadas, a equipe está na oitava posição, ainda longe da líder Universidad Católica. O cenário é complicado mesmo... Em todo o ano de 2016, o Cobresal venceu só um jogo, justamente a última partida antes de pegar o Corinthians, contra o Universidad de Concepción, por 1 a 0. Antes disso, a última vitória havia sido em 5 de dezembro de 2015, antecedendo um jejum de quatro partidas.

Mas se o panorama é ruim hoje, é claro que pode piorar. Como dito, o Cobresal foi fundado em um acampamento mineiro, e obviamente as 8.600 pessoas da cidade dependem do funcionamento da mina por seu sustento. Pois em 2005, a estatal Codelco decidiu fechar a mina de El Salvador porque o dinheiro investido para retirada de minerais não tinha retorno, não valia mais a pena gastar. A previsão era de que até 2011 a empresa fechasse de vez as portas, desempregando milhares de mineradores e funcionários que vivem em torno daquilo. Obviamente, não haveria sentido o clube de futebol dos mineiros seguir em atividade... A decisão da Codelco fez diversas pessoas abandonarem El Salvador, e a diretoria do clube até negociou com outras equipes da região a possibilidade de fusão. 

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Cobresal tem grandes desafios nesta temporada (Foto: Divulgação)

As conversas estavam caminhando, até que em 2010, um ano antes do fechamento definitivo da Codelco na cidade, a presidente Michelle Bachelet emitiu um comunicado dando conta de que novos estudos permitiam prolongar a vida útil da mina de El Salvador por mais alguns anos. Assim, foi assinado um novo contrato de exploração até o ano de 2021, o que significa mais cinco anos de história para o Cobresal.

O que será depois de 2021? Ninguém sabe dizer. Mas em 2016 a ideia do Cobresal é tentar manter sua invencibilidade na Libertadores. E dar trabalho ao Corinthians. Como Davi contra Golias.

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