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Velejador cubano quer resgatar o esporte no país após morte de Fidel

Campeão mundial com o brasileiro Bruno Prada, Augie Diaz deixou Cuba rumo aos Estados Unidos por não ter ‘liberdade’. Falecimento do líder é visto como abertura para mudanças

Augie Diaz, acima, conquistou o Mundial de Star em Miami este ano, ao lado de Bruno Prada (Foto: Marc Rouiller)
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O velejador Augie Diaz não desistiu de Cuba, ainda que suas opiniões sobre o local sejam as piores diante de um passado de perdas da família, em meio à consolidação do regime comunista. O esporte ainda mantém uma aproximação entre ele e a ilha caribenha.

Campeão mundial de Star em 2016, ao lado do brasileiro Bruno Prada, o cubano naturalizado americano cresceu em Miami, após o pai, o ex-iatista Gonzalo Diaz, deixar o país, insatisfeito com o que o atleta chama de falta de liberdade.

Com a morte de Fidel Castro, Augie viu uma oportunidade de resgatar a prática da vela, considerada um esporte de elite, no solo onde nasceu. Ele negocia com o governo um plano de recuperação da marina de Matanzas, ao Leste de Havana, bem como a doação de barcos para não deixar a modalidade acabar.

– A vela era um esporte tradicional em Cuba. Está é uma história triste. Há muita água, mas, com a decadência econômica por lá, o dinheiro parou de chegar. Há muitos bons velejadores, mas eles não têm recursos, e a marina está um desastre – disse Augie ao LANCE!, durante a Star Sailors League Finals.

Aos 62 anos, o atleta é uma referência no mundo da vela. Mesmo tendo terminado a competição em Nassau (BAH) em 11º lugar, ao lado do americano Arnis Baltings, Diaz foi um dos nomes mais reverenciados durante a cerimônia de premiação, aplaudido de pé pelos colegas.

Dono de outros seis títulos mundiais de Snipe, bem como de um bronze no Pan de Toronto (CAN) e uma prata no Pan de Guadalajara (MEX) na mesma classe, Augie conta só ter retornado a Cuba duas vezes após a mudança da família.

A última visita aconteceu em novembro, e as conversas com o governo o deixaram otimista. Ele conta que, no passado, já doou embarcações a Cuba, mas elas acabaram desviadas para o município de Caibarién, contra a sua vontade.

– Meu interesse não é ganhar dinheiro. Só quero que as pessoas tenham melhores condições. Hoje, a população é muito pobre. Não celebro a morte de ninguém, mas vejo a ida de Fidel como um novo começo para Cuba – declarou o velejador, formado em engenharia mecânica pela Universidade de Tulane, nos EUA.

Técnica e clima amistoso dos brasileiros são inspiração

Desde quando começou a ter os primeiros contatos com o Brasil, graças a seu pai, Augie Diaz sentiu que algo o inspirava nos velejadores daquele país. Com o tempo, o atleta fez parceiros e amigos, em especial Bruno Prada e Henry Boening, o Maguila.

– Os velejadores brasileiros têm um nível técnico alto, e isto é só um primeiro aspecto. Há um clima de amizade muito grande, que pude conhecer especialmente com o Bruno Prada e Henry. Foi sempre muito divertido velejar com eles. Sempre conciliam muita intensidade com diversão ao velejar. Para mim, vela é diversão. Também sempre velejei de forma intensa, buscando me equiparar aos melhores. Então, sinto-me grato por ter me tornado amigo destes caras – disse o cubano naturalizado.

Se amigo é quem está presente nos bons e nos maus momentos, Augie também dá provas de amizade. No último dia da Star Sailors League, sábado, o filho mais velho do bicampeão olímpico Robert Scheidt, Erik, de sete anos, acordou com febre.

Fora das regatas decisivas, o cubano ofereceu uma carona e levou a esposa do brasileiro, a lituana Gintare Scheidt, ao médico com o menino.

BATE-BOLA
Augie Diaz Velejador, ao LANCE!

‘É triste como Cuba continua sem liberdade’

Como aconteceu a mudança de sua família para os Estados Unidos, e quais foram as razões?

Em 1964, nós nos mudamos de Cuba para Miami, onde pudemos ter uma vida mais estável. Passamos a viver como americanos. Meu pai não queria o regime comunista. Ele perdeu tudo o que tinha em Havana e desejava morar em um país livre. Quando pisou em solo americano, foi o dia mais feliz de sua vida. Para ele, aquilo significou a liberdade. O governo totalitário não deixava você se expressar, e ainda é assim. É triste como Cuba continua desta maneira. Não é um país livre.

Nunca se interessou em voltar?
Voltei a Cuba duas vezes: em novembro do ano passado e agora, em novembro deste ano. Infelizmente, por mais que seja um país lindo, não é livre. A população vive em condições muito ruins. Em 1959, era o terceiro melhor lugar para se viver na América, atrás dos Estados Unidos e do Canadá. Agora, é uma nação de Terceiro Mundo. As pessoas são muito pobres. O governo comunista concentra muito bem todo o dinheiro, e o povo não tem acesso à maior parte dos recursos.

Com a retomada do diálogo dos EUA com Cuba, acredita que este cenário que você diz melhorará?
Sou otimista por um lado, pois acho que o regime comunista está se quebrando. Mas ainda há controles muito fortes sobre a população. Minha esperança é que, no período pós-Raul Castro, inicie um tempo de mudanças.

Qual foi a importância de seu pai, ex-velejador, na sua carreira?
Ele começou em Cuba, nos anos 1940 e foi vice-campeão do Mundial de Snipe, em Porto Alegre, em 1959. Foi quando comecei a ter boas lembranças do Brasil. Naquele ano, também disputou o Pan em Chicago (EUA). Ele não é apenas meu melhor amigo, mas alguém a quem sou grato por ter me apresentado este esporte.