Tenho como ídolos, muitos escritores e jornalistas latino-americanos, todos grandes cronistas esportivos. Mas dois deles, me encantavam por tê-los também como estupendos literatos. Eram, o uruguaio Eduardo Galeano, e o argentino mais parisiense que já existiu, Júlio Cortázar.

Cortázar, o mais antigo, era apaixonado por boxe, e escrevia coluna bissexta nos jornais argentinos, e incluía a "nobre arte" em diversos contos e até romances. Não esqueço quando ele tentou explicar as metáforas existentes entre o boxe e o ato de escrever. Dizia ele, com a voz grave dos que tem muito a dizer: o romance é uma vitória por pontos, enquanto o conto deve ser uma vitória por nocaute! Um bom conto deve ser incisivo e preciso, deixando o leitor "nocauteado", como um golpe certeiro. Já, o romance, deveria ser uma dura vitória por pontos, "round a round", crescendo a cada assalto.

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E matreiro, aconselhava aos menos criativos: sempre lance mão de uma luta (contra a "seca de criatividade) de vários rounds, troque golpes variados, mova as pernas como dedos, ao teclar a máquina, afinal, use todos os rounds, para mostrar como se baila num Luna Park* lotado. Para a plateia, quanto mais rounds, melhor!

Já Galeano, era o mestre das crônicas do futebol. Inspirado pelo "Maracanazzo" de 1950, que ouviu com seu avô (que lhe contava as vitórias olímpicas da "celeste"*, de 1924 e 1928) numa tarde fria de julho, e acabou se tornando um dos maiores cronistas esportivos do mundo. E "el brujo" ensinava a quem lhe perguntasse sobre suas crônicas: eu queria apenas contar uma história, mas me vinham infernizar sempre, uma dúzia de tão boas memórias, que só conseguia aplacar minha sede, com 5 ou 6 botellas bem bebidas.

A América é brasileira (de novo)

Então, vamos nós, para alguns rounds (não posso chamar de "assaltos", pois vivo no Rio de Janeiro, seria imprudente!) recém paridos. Pequenas histórias de um cotidiano esportivo profícuo:

- A AMÉRICA SERÁ NOSSA, DE NOVO: já está perdendo a graça, mais uma vez, dois times brasileiros chegam à final da Libertadores. Mais uma vez, Flamengo e Palmeiras lutam pela soberania do continente, numa longa lista de campeões, onde nos últimos (já podemos contabilizar 2025) 7 anos, apenas times brasileiros venceram. Lembrando que, no ano passado, Botafogo e Atlético Mineiro fizeram a final.

E por onde andam os platenses (argentinos e uruguaios), que tanto nos espancavam (algumas vezes, de forma literal)? E os "cavalos paraguaios", continuam paraguaiando? Chile, Equador, que, além de não fazerem fronteira com a gente - e não estarem jogando bulhufas -, tratem de se aprumar à sobra dos Andes! Colômbia, que além de bom café, também nos mostrava ótimos camisas 10 e ciclistas espetaculares, voltem! Queremos uma Libertadores plural, multicolorida. Uma verdadeira Avenida das Américas, onde possa transitar, novamente, o melhor futebol do mundo!

Bruno Fuchs comemora seu gol em Palmeiras x LDU pela semifinal da Libertadores (Foto: Nelson ALMEIDA / AFP)

O Taekwondo vai se tornando brasileiro

- ABRAM OS OLHOS ASIÁTICOS, O TAEKWONDO TUPINIQUIM BRILHA E PEDE PASSAGEM: e foi na China, em Wuxi, onde aconteceu o último Campeonato Mundial da modalidade, terminado neste domingo. E o Brasil, com 2 ouros e 2 pratas, ficou em 3º lugar geral, perdendo apenas para os inventores da luta, coreanos, e a maior potência atual deste esporte, a Turquia.

Sim, os jovens, Henrique Marques, na categoria até 80kg, de 21 anos e Maria Clara Pacheco, de 22 anos, na categoria até 57kg, conquistaram as medalhas de ouro, mostrando que temos um caminho bem pavimentado até Los Angeles 2028. Afinal, campeões mundiais tornam-se favoritos imediatos ao título olímpico, uma sequência quase natural! Que venha L.A.28!

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Henrique Marques é campeão mundial de taekwondo 2025 (Foto: World Taekwondo)

Jogo sujo

- UM FREIO (OU UM TOMBO) NA ESCALADA DE CHEPNGETICH RUMO AO TOPO:  pense neste momento na melhor marca da maratona MASCULINA no ano de 2024? Te ajudo: foi 2h12'14", do maratonista Johnatas Cruz, ok?

Agora, busquemos a melhor marca do mundo feminina, também em 2024: chegamos ao atual recorde mundial feminino na maratona: 2h09'56", batido por Chepngetich, em outubro de 2024, na Maratona de Chicago (vencida por ela 3 vezes: 2021, 2022 e 2024). Uma marca emblemática, que muitos estudiosos teimavam ser impossível bater (nenhuma maratonista mulher conseguiria baixar das 2 horas e 10 minutos! Ruth conseguiu. Portanto, numa suposta participação da resistente Ruth em alguma maratona em nosso solo tropical, acabaria gerando o desconforto de TODOS os homens amadores ou profissionais, chegarem atrás de Ruth, certo?

Talvez! A moça foi flagrada este ano, em julho, num teste surpresa de controle de dopagem, com traços de Hidroclorotiazida, uma substância diurética de uso proibido para atletas. Uau! Em outubro sua suspensão provisória foi referendada pela Unidade de Integridade do Atletismo (AIU) e ela foi suspensa de maneira definitiva das competições por três anos. Mas suas vitórias, inclusive o título mundial em Doha, em 2019, anteriores ao teste positivo que a flagrou, foram mantidos, até uma segunda ordem! Maratonista do Brasil, relaxem, ela é realmente espetacular, mas não jogou limpo. E, por 3 anos, não nos importunará.

Brincadeiras à parte, confesso que fiquei frustrado, duplamente: por ela ter trapaceado e por não poder vê-la triturar recordes em maratonas!

Com 1h04m02s, a queniana Ruth Chepngetich vence a Meia Maratona N Kolay, em Instambul, com direito a recorde mundial. (Divulgação)

Expectativa para a Maratona de NY

- 50 MIL CORAÇÕES ACELERADOS EM MANHATTAN NESTE DOMINGO:  o mundo da maratona, enfim, toma Nova Iorque, invade ruas, praças e parques. Todos os olhares convergem para o Central Park, local da chegada da maratona mais charmosa e cosmopolita do mundo! Sim, o mundo que corre, pousa (mesmo que apenas acompanhar, à distância, a bela prova) em NY.

A multidão se aconchegando lá na Staten Island na madrugada fria, o discurso do prefeito ao som de New York, New York, a largada e a travessia da Ponte Verrazzano, rumo a Manhattan. E o encontro com quase 1 milhão de pessoas aplaudindo no mergulho na 1st Ave. E o que dizer sobre a visita inesquecível à todos os distritos de NY. Tudo isso, sonhando acordado com a última entrada no Central Park, já quase vendo o grande pórtico de chegada! E, ao cruzar a linha de chegada, ao lado da estátua de Fred Lebow, o criador deste sonho de consumo de todo corredor que se preze, se sentir como o vencedor. Ser tratado como tal, por toda a população de NY, não tem preço.

Portanto, você, um dos milhares de brasileiros que embarcaram neste sonho, não esqueça, não tire sua medalha do peito. Você será cumprimentado por eles, que cederão seus lugares pra você, no metrô, no McDonald's, no banco da praça... sempre com o mesmo brilho nos olhos, sempre com a mesma frase sorridente: "congratulations!!" A cidade que nunca para, neste domingo, irá parar e aplaudir você! Aproveite o seu dia de rei em NY.

Ah, a ESPN detém os direitos de transmissão e fará valer este direito!

Fim do último "round", um justo empate, entre Galeano e Cortázar. Que falta fazem novos livros seus!

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Lauter Nogueira escreve sua coluna no Lance! todas as terças e sextas. Confira outras postagens do colunista:

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