‘Com seriedade, dá para transformar o legado olímpico em algo palpável’, diz gestor do Parque Olímpico

Presidente da AGLO, Paulo Márcio Dias Mello comemora os resultados alcançados após a entrega do legado da Rio-2016 à população e prevê resultados melhores em 2018

Paulo Márcio Dias Mello, presidente da AGLO (Foto: Francisco Medeiros/ME)
Paulo Márcio Dias Mello, presidente da AGLO (Foto: Francisco Medeiros/ME)

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Responsável pela AGLO (Autoridade de Governança do Legado Olímpico), autarquia criada pelo Ministério do Esporte para administrar boa parte das arenas construídas para a Olimpíada e Paralimpíada Rio-2016, Paulo Márcio Dias Mello dá risada quando alguém lhe diz que ele é o "prefeito" do legado olímpico. Não é exagero, pois a complexidade de manter em funcionamento e em perfeitas condições equipamentos na Barra da Tijuca e em Deodoro não são pequenas. Um orçamento de R$ 80 milhões está reservado para cobrir os gastos dos dois polos esportivos, mas que segundo ele, "uma previsão que não será realizada em todo este valor".

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Mello fala como foi o primeiro ano diante da responsabilidade de administrar o legado da Rio-2016, comenta dos planos de tornar o local um centro do esporte olímpico brasileiro e como estão sendo programados os eventos para o ano que vem.

LANCE! - Vocês estão encerrando o primeiro ano de gestão da AGLO, após o encerramento da APO (Autoridade Pública Olímpica). Qual a avaliação que fazem deste período?

Paulo Márcio Dias Mello - Na verdade houve uma transformação. A APO tinha prazo para terminar ao término das Olimpíadas e o Ministério do Esporte resolveu assumir quatro arenas em virtude de não ter tido da PPP (parceria público-provado) da prefeitura do Rio. O ministro [do Esporte] Leonardo Picciani, preocupado com esta situação, por conta de falta de recursos, do município não conseguir arcar completamente com os custos de manutenção destes equipamentos, montou-se um janeiro um grupo de coordenação, quando ele entendeu que o ideal seria montar uma autarquia federal que tivesse autonomia administrativa e financeira para cuidar de todo o Parque Olímpico. Daí surgiu a ideia da criação da AGLO. A APO tinha uma natureza jurídica diferente, pois não tínhamos as mesmas atribuições, que tinha como finalidade cuidar dos gastos da Olimpíada. Assumimos em março.

De março para cá, de modo geral, em que estado vocês pegaram o Parque Olímpico e como avaliam que ele se encontra? Ele não estava abandonado?

É importante ressaltar que o Parque nunca esteve abandonado. Na realidade, havia um período de desmontagem de todos os equipamentos. A Paralimpíada terminou em setembro de 2016 e iniciava-se o processo de desmontagem de equipamentos na área externa e na área interna do Parque Olímpico. Já havia o plano de desmontagem. Na Arena 1, por exemplo, eu tinha 15 mil lugares e hoje tenho 6,5 mil. Na Arena 2, tinha 10 mil lugares e hoje não tenho mais nenhum, pois a previsão era de retirada de todo este equipamento. No Velódromo, tinha 5,5 mil lugares e hoje tenho 2,5 mil. No tênis, tinha 10 mil lugares e agora tenho 7 mil. Tudo isso precisava ser desmontado. Aquelas fotos que mostravam cadeiras empilhadas, na verdade aquele material estava esperando para ser transportado.  Acompanhei todo esse processo de perto, Em fevereiro, quando a Arena 3, que hoje está com a prefeitura, foi desmontada, a partir daí fizemos um planejamento de ocupação do legado olímpico. A AGLO apresentou um plano de legado em audiência pública e começamos a colocá-lo em prática. Temos atingido as metas esperadas. É verdade que não é fácil administrar instalações de esportes que nós temos e com as necessidades de adequação mas todos os objetivos de diversos eventos nos finais de semana estão sendo alcançados. E nossa agenda tem sido cheia e com eventos de grande porte.

Nestes eventos que estão sendo feitos, qual é o custo disso? Quem paga é somente o organizador do evento que usa a instalação ou você precisa entrar com algum valor?

Eu não entro com nenhum dinheiro. O que a gente faz é ceder a instalações olímpicas, Arena 1, Arena 2, Velódromo e Centro de Tênis, que são meus, cedo para a realização de determinados eventos. Todos são cobrados? Não, não dá para cobrar todos. Por exemplo, a federação de tênis de mesa do Rio, que fará agora um torneio deles, não tem condições de me pagar pelo espaço. Mas não seria justo que eu evitasse que uma federação fizesse um campeonato que não tem condições de pagar. Agora, por exemplo a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) fez dois eventos no Parque Olímpico e como tinha condições de entrar com recursos financeiros, entrou não com dinheiro para o caixa da AGLO, mas com benfeitorias. As necessidades que eu teria de retirar dinheiro público para fazer as adequações das arenas, esse valor que seria cobrado é transformado em benfeitorias. É o caso da nova quadra externa de areia, ao lado do Centro Olímpico de Tênis. Tivemos um evento da Igreja Presbiteriana, ela pagou pela locação do espaço. Tivemos um evento da Kyra Gracie de jiu-jitsu, pagou pelo espaço, o XP Games, pagou pelo espaço.

Já criou-se uma fila de interessados para utilização das arenas? Como vocês estão administrando estes pedidos?

Já tenho vários pedidos até 2018. Já tenho o Campeonato Mundial de Ciclismo, tenho solicitado um campeonato nacional de badminton, o XP Games já solicitou as arenas para 2018... A CBDU já solicitou e vai trazer para cá o Mundial de Desporto Universitário, enfim, são vários eventos. Os de menor porte eu não garanto ainda a agenda porque a procura tem sido tão grande para a realização de eventos no Parque Olímpico, que se eu fechar a agenda acabo inviabilizando a realização destes eventos. Estes de menor porte só libero com dois meses de antecedência, até que meu calendário de eventos nacionais e internacionais de grande porte estejam preenchidos. Mas é importante destacar que todos estes eventos, de alguma forma beneficiam projetos de inclusão social. Em dezembro quero fazer uma espécie de colônia de férias, para tirar todas as crianças daquelas comunidades da Cidade de Deus e do entorno, e levá-las ao Parque Olímpico para participar de diversas modalidades. Em dezembro, vamos inaugurar nosso centro de treinamento, na Arena 2, que vai ampliar de projetos de inclusão social como também a ocupação do Parque Olímpico durante a semana de algumas confederações.

Você acha que a tendência é que o Parque Olímpico acabe se tornando o ponto de convergência do esporte olímpico brasileiro?

Com certeza, não poderia ser diferente. Se tiver seriedade, boa intenção, boa vontade e força de trabalho, consegue transformar um legado olímpico em algo realmente palpável. Londres demorou dois anos para entregar o legado olímpico deles à população. Nós conseguimos entregar o nosso legado, ainda que não tenha sido da forma ideal, de uma forma recorde. Nenhum legado foi entregue à população com tanta rapidez quanto o Brasil está fazendo, em menos de um ano. Está sendo entregue à população com bons projetos e boas perspectivas. Estamos também levando para o Parque Olímpico o Museu Nacional do Esporte, dentro do Velódromo. Estamos no caminho certo.

Qual o orçamento que você tem para administrar tudo isso, incluindo o Parque da Barra e o de Deodoro?

Fizemos uma previsão orçamentária, que não será realizada, de R$ 45 milhões para o Parque da Barra e R$ 35 milhões para Deodoro, para este ano. Evidente que não realizamos e não iremos realizar todo este valor. Ainda não tenho os números exatos que serão fechados, mas tivemos uma significativa redução, por exemplo, de energia elétrica. Em janeiro, as quatro arenas instalações tinham um custo de energia de R$ 600 mil. Hoje, mesmo fazendo evento e tudo, eu pago R$ 200 mil, uma redução bem significativa. Para o ano que vem, teremos uma previsão de redução de orçamento. Ainda estamos estudando qual será esta redução, a que valor iremos chegar.

Como está a situação do Velódromo?

Quando aquele balão caiu [no dia 30 de julho deste ano], estávamos com o Velódromo tomado de eventos e treinamento de atletas. Mas vamos reinaugurar agora no dia 17, com a realização do campeonato estadual de caratê, após a colocação do telhado, não definitivo, um emergencial, para não causar mais danos. A pista está sendo totalmente reparada, mas sou houve um dano estético, nada que impossibilite a realização de campeonatos. Tudo está sendo acompanhando pelo próprio construtor da pista, nada foi realizado sem a orientação dele.

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