Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 15/09/2025
21:49
Atualizado há 14 minutos
Compartilhar

Faz algumas décadas que se criou a tese que no Brasil temos 13 clubes grandes: os quatro de São Paulo, a dupla mineira, os quatro do Rio, o Bahia e a dupla GreNal. Enquanto Flamengo e Palmeiras navegam tranquilos como favoritos tanto para ganhar a Libertadores quanto para ganhar o Brasileirão, os outros 11 clubes se debatem no que parecer ser "o paradoxo do clube grande no Brasil".

Antes de explicar o que seria essa tese, vamos alinhar o que faz desses os 13 grandes clubes brasileiros: todos já ganharam títulos importantes nacionais e internacionais, são donos de torcidas imensas e apaixonadas, e movimentam milhões de reais ao seu redor. São clubes com tradição e história.

A Espanha não é aqui

Se usarmos esses mesmos critérios para um país como a Espanha, teremos apenas três ou quatro clubes que encaixariam: Barcelona e Real Madrid, Atleti e talvez, o Sevilla. Mas o fato é que só Barça e Real disputam os títulos anualmente. Ambos estão milhas e milhas distantes dos outros dois, nem falar do restantes dos clubes. Esse fato tira dos outros clubes a obrigação de ganharem títulos todos os anos.

Na Alemanha, em Portugal, na França, é mais ou menos a mesma coisa. Vocês sabem como funciona. Times que podem ser considerados “grandes” dentro dessa classificação, como o Sporting Lisboa, o Dortmund e o Leverkusen, o Olympique de Marseille, entram nas competições leves, com o único objetivo de jogar bem e ganhar jogos. Se um título vier, ótimo. Mas se o Bayern de Munique ou o PSG ganharem tudo, não tem problema. Já era esperado.

A obrigação de ganhar sempre

No Brasil, funciona diferente. Aqui os “clubes grandes” supostamente precisam disputar todos os títulos todos os anos. Se não for assim, a imprensa local já calibra nas críticas, os torcedores invadem CT, aeroporto, xingam os jogadores nas redes sociais. A violência fica permitida, pois o time "não correspondeu" à sua grandeza. Pelo menos, há os campeonatos estaduais, onde os grandes passeiam em relação aos outros, e ganhar não é mais que a obrigação. Mas, novamente, só um pode ser campeão.

Willian no Grêmio: contratação de time grande ou refugo? (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

Aqui nasce "o paradoxo do clube grande no Brasil". Veja bem, o torcedor do clube grande não aceita ficar em 4o lugar, ou ocupar o meio da tabela no Brasileirão, ou ser eliminado nas oitavas da Copa do Brasil. Existe a cultura de que ou o time dele é líder isolado ou a casa vai cair. E, por causa disso, nenhum treinador consegue realizar um trabalho decente no Brasil. As categorias de base não conseguem formar jogadores e colocá-los no mercado de forma saudável. As arrecadações caem, pois o torcedor de clube grande só vai ao estádio se seu time está onde ele supostamente deveria estar pelo seu tamanho. 

Mas o dirigente do glube grande, que geralmente também é torcedor, gasta o dinheiro que não tem para satisfazer essa demanda urgente da sua torcida. Pois se ele não o fizer, não irá corresponder ao “tamanho” do clube. A Real Sociedad ou o Wolfsburg jogam com casa cheia todas as rodadas. Mesmo sabendo que seus times não têm chance alguma de título, ou que seus elencos não estão recheados de craques. Raramente um treinador é demitido com cinco rodadas nas grandes ligas europeias. Acontece, mas é muito raro. 

O nosso paradoxo está em que, essa mentalidade autofágica, é o tutano que mantém a idealização de tamanho dos clubes nas cabeças das torcidas. Mudar isso seria “diminuir” o tamanho da instituição. O que parece ser o maior medo do torcedor do clube grande. Então, ele prefere sofrer e se autoenganar a aceitar a realidade que seu clube já não é mais tão grande quanto ele pensa.

Pitaco do Guffo - leia mais colunas

Gustavo Fogaça escreve sua coluna no Lance! nas noites de segunda e quinta-feira. Leia outras publicações do colunista nos links abaixo:

➡️Quem leva a Copa do Brasil?
➡️A Seleção Brasileira dos sonhos
➡️Quem sofre menos gols que o esperado?


Siga o Lance! no Google News