‘Parece piada antiga. Segurança no futebol segue a repetir erros’

Sociólogo Mauricio Murad aponta descaso e desorganização desde a entrada do Maracanã ao conflito entre torcedores do Corinthians e PMs

Torcedores do Corinthians retidos no Maracanã (Foto: Igor Siqueira)
Torcedores do Corinthians ficaram retidos no Maracanã após o jogo (Foto: Igor Siqueira)

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Sim, parece aquela piada antiga, onde o motorista pediu a um amigo para ver por fora do carro, se o pisca-alerta estava funcionando, enquanto ele acionava o sistema de dentro do veículo e o amigo diz “funcionou”, “não funcionou”, “funcionou”, “não funcionou”. E acabaram queimando as luzes, de tanto insistir no teste equivocado.

1) Cerca de dez mil ingressos não foram postos à venda, no jogo Flamengo x Corinthians, para abrir áreas livres no Maracanã e assim facilitar a segurança... Funcionou!

2) Mas, se nessas áreas não havia policiamento ostensivo e ao lado da cerca divisória, de início, só foi visto um policial e depois quatro... Não funcionou!

3) Contato anterior com as duas maiores torcidas do Brasil, para assinatura de um TAC, Termo de Ajustamento de Conduta, medida preventiva... Funcionou!

4) Planejamento, ocupação dos espaços do estádio e treinamento da tropa, fundamentais para o cumprimento das medidas preventivas... Não funcionou!

O sistema de segurança pública no futebol do Brasil repete os mesmos erros há muito tempo e com isso só faz afastar dos campos o torcedor do bem. Desde a entrada no Maracanã houve descaso e desorganização, com uma multidão forçando as roletas, o que facilita vários delitos, e o policiamento já demonstrava ser insuficiente.

Era um jogo com muita promoção, de grande impacto e importância esportiva, que exigia mais policiamento, em quantidade e preparação estratégica e tática, especialmente nos lugares do estádio, que dividiam as torcidas, o que não aconteceu e daí as cenas de barbárie que invadiram as nossas casas.

Se o protocolo, que é do conhecimento de todos, fosse seguido, os vândalos corintianos seriam identificados e presos, antes mesmo de agredir covardemente policias, o que evitaria as lamentáveis imagens de campo de concentração, que vimos por quase três horas, no mítico Maraca, misturando o joio e o trigo.

O Corinthians soltou uma nota oficial criticando a polícia, mas nada disse sobre a gangue delinquente infiltrada entre seus torcedores. O Gepe da PM-RJ disse que tudo foi feito corretamente e o STJD já se pronunciou e ameaça punir os dois clubes, com perdas de mando de campo. Infelizmente, já vimos esse filme antes e sabemos do final: a segurança no futebol acontece (quando acontece) somente na repressão; prevenção e reeducação são termos que não fazem parte dos dicionários de nossas autoridades. Além dos grosseiros erros da arbitragem, será que vamos continuar convivendo com a impunidade brasileira?

*Mauricio Murad é sociólogo da Universo, Especialista em Violência da Academia LANCE! e autor do livro Para Entender a Violência no Futebol

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