Aos 40 anos, a camisa 10 do Corinthians, Gabi Zanotti, brilhou no jogo de ida da final do Brasileirão Feminino no último domingo (7). Artilheira da equipe na temporada, ela marcou no empate contra o Cruzeiro e arrancou elogios da torcida e da imprensa por ser a jogadora mais experiente a balançar as redes na competição.
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A cena não é exceção: o Brasileirão Feminino A1 de 2025 reúne jogadoras veteranas com grandes exibições e regularidade, mostrando que idade não é barreira para o alto desempenho.
Para a reportagem, o Lance! conversou com a atleta Cacau, do Fluminense, e a médica do esporte, Dr.ª Flávia Magalhães, com dicas sobre longevidade do esporte.
Veteranas no Brasileirão
Segundo levantamento da plataforma Sofascore, entre as atletas mais experientes desta edição estão Gabi Zanotti e Cristiane, do Flamengo, ambas com 40 anos. Na sequência aparecem Bruna Benites, do Internacional, Monique Peçanha, do 3B, e Cacau, do Fluminense, com 39 anos.
Algumas equipes se destacam pela média de idade mais alta: 3B da Amazônia com 30,4 anos, Fluminense com 29,7 e Real Brasília com 29,0 anos. Esses números refletem a experiência presente no campeonato, reforçando a importância de cuidados específicos para prolongar a carreira.
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Com 37 anos, a zagueira Érika, do Corinthians, também falou sobre o tem durante entrevista coletiva.
— Nós (Érika, Tamires e Zanotti, todas do Corinthians), estamos bem focadas. Todos os dias, para mim, é um desafio, pelas quatro lesões. Eu levo isso para elas: 'não vamos reclamar não, muito pelo contrário'. Eu não quero que as meninas novas passem o que passei, quero que valorizem o que tem hoje — disse ela.
— A vontade de querer, de estar todos os dias, é isso que quero levar para elas (atletas mais jovens). Às vezes nos tiram por controle de carga, por idade, por condições físicas... E a gente não quer sair, brincamos: 'estou bem'. Para jogar no Corinthians, tem que querer todos os dias — destacou a zagueira, após a classificação contra o Bahia, nas quartas de final.
Atacante do Fluminense fala sobre ajuste de rotina após os 30
Cacau, do Fluminense, comentou sobre os ajustes que permitiram sua longevidade no futebol profissional. Na profissão desde 2006, ela tem passagens por clubes do futebol brasileiro e estrangeiro.
— Eu tive altos e baixos aqui no Fluminense. Uma das coisas que nos ajuda, depois dos 30, é não ter lesões. Hoje, graças a Deus, não sofri nenhuma lesão. Sou uma atleta que raramente pisa na fisioterapia, só por algum desconforto. Mas como me cuido bastante, é difícil ter algo — conta ela.
Cacau explicou que a rotina após os 30 anos exigiu mais atenção a aspectos físicos e estruturais, incluindo academia, alimentação e acompanhamento profissional.
—Antes, quando comecei no futebol, não havia base nem estrutura adequada. Treinávamos por conta, corríamos em volta do campo, fazíamos físico de uma hora. Hoje tudo é mais simplificado, com foco no corpo da mulher — compara a atacante.
Ela lembrou, também, que sua fase mais produtiva começou depois dos 30, quando passou por Corinthians, São Paulo e Ferroviária, aproveitando a evolução da estrutura do futebol feminino. Sobre o controle de carga e acompanhamento, Cacau comentou que não possui staff fixo, mas mantém cuidados preventivos durante férias com um personal especializado.
—No clube faço os treinos normalmente, igual a todas, mas fora das atividades, treino com um amigo que corrige desequilíbrios e me ajuda a manter o corpo bem—, afirma. Cacau reconhece a inspiração das colegas mais experientes.
—Sempre brinquei com a Zanotti sobre chegar aos 40. Ela já completou, a Cris também. Admiro demais essas jogadoras, assim como a Grazi quando jogava. Elas me inspiraram a cuidar mais do corpo e buscar longevidade no esporte — disse ela.
Ela também compartilha planos para o pós-carreira, que incluem comunicação, podcasts e participação em projetos extracampo.
—Sempre pensei em parar aos 40, mas se surgirem oportunidades de jogar ou atuar na comunicação, posso conciliar. Parar 100%? Difícil — disse ela, que vê um futuro próximo do jornalismo esportivo e já acumula experiências com produção de conteúdo.
Há 'segredo' para a longevidade?
A médica do esporte e nutricionista Dr.ª Flávia Magalhães tem experiências com grandes competições como Jogos Olímpicos, Copa América e Copa do Mundo. A especialista reforça que a longevidade depende de acompanhamento multidisciplinar. Segundo ela, nutrição, fisioterapia, monitoramento hormonal e recuperação são fundamentais para manter atletas em alto rendimento.
—A carreira feminina enfrenta desigualdade de estrutura em relação ao masculino. Enquanto jogadores têm equipes completas de apoio, muitas atletas contam com recursos limitados. É essencial prevenção de lesões, equilíbrio físico e mental, e planejamento de carreira — explicou.
Sócia da clínica PontoSer, em São Paulo (SP), Dr.ª Flávia aompanha atletas em atividade há anos e destaca, ainda, o impacto hormonal, que pode afetar desempenho e saúde óssea, além da importância de preparação para o pós-carreira.
—Longevidade no futebol feminino depende de metas claras, suporte integral e consciência da atleta. Mais do que talento, é preciso disciplina, acompanhamento e visão estratégica — listou a médica. Ela cita como exemplo jogadoras como Formiga (hoje atleta de Fut7), Marta e Tamires (em atividade).
Dicas e cuidados para o alto nível
Confira dicas de Dr.ª Flávia Magalhães.
- Nutrição adequada: alimentação balanceada e suplementação quando necessário.
- Prevenção de lesões: acompanhamento fisioterápico e exercícios de força e flexibilidade.
- Controle de carga: monitoramento de treinos e períodos de recuperação.
- Apoio multidisciplinar: equipe de médicos, nutricionistas, preparadores físicos e psicólogos.
- Planejamento de carreira: considerar pós-carreira, capacitação e objetivos pessoais.