COLÚMBIA (EUA) — Arroz e feijão, planos individualizados e comidas afetivas. É assim que a coordenadora de nutrição do Fluminense, Renata Faro, tem exercido seu papel na adaptação dos jogadores nos Estados Unidos para o Mundial de Clubes. Nesta sexta-feira (13), o clube completa uma semana no país cuja cultura de alimentação é bem diferente da do Brasil.
Em conversa exclusiva com o Lance!, a profissional explicou mais detalhes da sua função, contando sobre a importância da alimentação para a recuperação dos jogadores e prevenção de lesões. Além disso, destacou a necessidade de um plano individualizado que abarque o lado afetivo dos alimentos.
➡️ Quem vai ser campeão? Veja os duelos e simule os resultados do Mundial de Clubes
Arroz e feijão na mala do Fluminense para Mundial
— Estava lendo sobre isso, porque houve uma classificação pela faculdade de Harvard dizendo que a alimentação do dia-a-dia do brasileiro é considerada excelente em termos nutricionais. O arroz e o feijão são alimentos que contém uma quantidade adequada de fibras, energia e ferro, então é muito rico. — iniciou a explicação.
A combinação típica do Brasil forma uma proteína completa e possui carboidratos e fibras, necessitando apenas de vitaminas e minerais - como saladas e legumes. Por isso, o Fluminense fez questão de incluir o clássico brasileiro na bagagem para os Estados Unidos. No Mundial de 2023, na Arábia Saudita, fizeram o mesmo.
➡️ Tudo sobre o Tricolor agora no WhatsApp. Siga o nosso novo canal Lance! Fluminense
O cardápio dos atletas é montado meticulosamente pensando no período de estadia. Para isso, leva-se em conta os hábitos dos jogadores e a maneira como cada prato é preparado. Este ponto foi um desafio, pois o Flu conta com um cozinheiro jamaicano, diferente do que ocorreu em Jeddah, em que a delegação tinha um brasileiro à disposição. Assim, o trabalho de Renata envolveu também explicar o preparo dos alimentos, provar as comidas e ajustar o necessário.
A entrevista aconteceu em uma sala fechada do hotel em que o Tricolor está hospedado. No entanto, o ambiente é cercado por portas e painéis de vidro escuro, mas com transparência suficiente para identificar dois jogadores que interromperam a profissional para uma declaração:
— Beijo, tia Rê. Te amo! I love you! — declarou Samuel Xavier, acompanhado por Nonato, na volta do jantar.
Aproveitando a deixa, a nutricionista explicou a importância de atender ao lado emocional e afetivo dos jogadores por meio das refeições, especialmente em viagens longas como a do Mundial de Clubes. O Fluminense chegou nos Estados Unidos em 7 de junho e faz o último jogo da fase de grupos no dia 25, podendo estender a estadia em cerca de uma semana se avançar para as oitavas de final.
— Eles olham para a nutricionista e tem esse lado afetivo. Você nutre a pessoa de várias maneiras, também fazendo com que ela se sinta um pouco em casa. Assim, fica mais a vontade para treinar, descansar e se recuperar. Esse também é um papel da nutrição, trazer afeto.
— Não é a casa deles. Quando chegamos, teve um frango ensopado com batata e um atleta me chamou para falar que lembrou ele das comidas que a mãe fazia. Isso é muito legal de ouvir.
Como a nutrição atua no esporte?
O trabalho é multidisciplinar. Todo atleta que chega ao clube passa por uma análise coordenada de diversos setores, como o departamento médico, fisiologia e fisioterapia. Dessa forma, os dados obtidos se unem à avaliação nutricional para fazer uma prescrição individual. A partir disso, o departamento foca na alimentação adequada para cada jogador.
Para além da manutenção de peso e índices de gordura corporal, a nutrição atua também na prevenção e tratamento de lesões, e na recuperação muscular após os jogos e treinos. Germán Cano, por exemplo, já afirmou em entrevista que, durante o período em de tratamento de sua contusão no ligamento do joelho, fez uma dieta especial para acelerar a cicatrização.
— Aí entra a parte de suplementação. Cada um tem requerimentos diferentes de acordo com peso, idade e trabalhos individuais da preparação física, fazendo com que tenham necessidades diferentes. Por isso, temos pré, intra e pós-treinos individualizados. — explicou.
Aqui em Colúmbia, Renata é a única integrante do departamento, mas contou com o auxílio da nutricionista Jamilce Moreira e da técnica dietética Ana Maria na preparação antes de sair do Brasil. Essa organização consistiu em separar toda a suplementação dos atletas para os 32 treinos calculados, dividindo em garrafinhas de pré e pós treino, e multiplicando pelos 31 atletas (afinal Soteldo não estava neste plano).
Sobre a individualização, a nutricionista mostrou uma dessas garrafas que contém whey protein (suplementação de proteína), de determinado atleta. Ela explicou que este, em específico, faz uso do suplemento três vezes ao dia, no pós treino, à tarde e antes de dormir, enquanto a maioria faz apenas no pós treino.
Entretanto, a rotina vai além destas precrições. Contou que o trabalho envolve um trabalho de supervisão de preparo e qualidade, além de ministrar a suplementação de cada período do dia. No café da manhã, chega antes dos jogadores para conferir se o preparo foi o adequado, se o cardápio foi cumprido e se os alimentos estão na validade.
Então, distribui o pré e, quando necessário, o intra-treino, que ocorre quando os atletas ficam com fome durante as atividades. Na sequência, entrega o pós e volta para o hotel para supervisionar o almoço, assim como no lanche da tarde, jantar e ceia.
Restrições e equilíbrio
Renata frisou que presa pelo equilíbrio, mas que há alimentos que ela não permite que sejam consumidos ao longo da semana, apenas em ocasiões especiais.
— Não é que seja proibido, não gosto de colocar assim, mas não faz parte de uma alimentação de excelência, que é o que eles precisam. Como eles têm um desgaste diário, precisam de uma recuperação à contento e esses ditos alimentos vão prejudicar a nutrição em vez de auxiliar.
Um item citado foram os refrigerantes, especialmente os de cola, pois possuem elementos que dificultam a absorção de nutrientes. No entanto, em momentos de descontração, como um pós jogo, uma folga ou um momento em que tenham mais tempo de recuperação, esses alimentos são liberados.
Trajetória de Renata no Fluminense
Nutricionista graduada e pós-graduada em fisiologia do esforço. Começou na base do Fluminense há 27 anos, como uma Menina de Xerém. Sua ligação com o futebol vem de casa, uma vez que seu irmão mais velho, Fábio Augusto, foi jogador, que inclusive teve uma passagem pelas categorias de base do Flu.
Em 1998, convidada por Claudia Néri, então nutricionista do Flu, tornou-se a primeira profissional da área a trabalhar em Xerém. Um ano depois, foi "promovida" para o time principal, onde permanece até hoje. Em 2002, ganhou a parceria de Jamilce Moreira e, mais tarde, o departamento foi ainda mais reforçado com foco na base.
Mais notícias do Fluminense no Mundial
➡️ Treinos do Fluminense no Mundial têm clima de descontração e calor carioca
➡️ Fluminense fecha lista de inscritos no Mundial com 32 jogadores
➡️ Jogos do Fluminense no Mundial de Clubes 2025; veja datas, horários e onde assistir
➡️ Jogadores de Columbia se empolgam com craques do Fluminense na universidade