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Roberto Carlos: ‘Temos de melhorar, mas sem imitar ninguém’

Roberto Carlos - Sivasspor (Foto: Divulgação)
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A aposentadoria dos campos levaria Roberto Carlos a seguir no futebol como assistente técnico. A função acumulada ainda quando atuava pelo Anzhi (RUS) havia sido a primeira experiência. Um conselho, porém, mudou os planos do ex-lateral-esquerdo da Seleção Brasileira. José Mourinho, atual comandante do Chelsea (ING), o persuadiu e aconselhou a seguir a carreira como técnico.

Pouco mais de um ano após efetivamente iniciar as novas atividades do banco de reservas, o dono da camisa 6 do Brasil em três Copas do Mundo comemora os primeiros feitos na Turquia, que será palco do amistoso do time de Dunga, quarta-feira, contra os donos da casa.

Em Sivas, cidade que fica a 700 quilômetros de Istambul, Roberto Carlos comanda o Sivasspor. A escolha pelo país para exercer a nova função, apesar de convites de clubes da China e da Espanha, tem um motivo especial:

- Já conhecia o futebol turco, onde joguei por três anos pelo Fenerbahce. Convivi com três técnicos diferentes e conheci muito o sistema de jogo. Preferi aqui por isso.

Mesmo longe dos principais centros europeus, o ex-jogador projeta um futuro em equipes de pontas com uma filosofia peculiar. No melhor estilo boleiro, Roberto Carlos procura estar sempre próximo dos comandados e garante ter um método de trabalho inovador.

O projeto a médio e longo prazo não descarta o Brasil, onde ele vê a necessidade de se ter a velocidade do jogo europeu. Diferentemente da posição que fomentou as críticas ao futebol nacional no pós goleada para Alemanha, o técnico ainda acredita que o Brasil é a melhor escola, mas carece de evolução.

Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Por que escolheu a Turquia para começar a carreira como técnico?

Quando ainda estava no Anzhi, entrei em contato com meu amigo tradutor dos tempos do Fenerbahce e disse que estava pensando em ser técnico. Ele buscou alguns clubes por lá. Depois, o presidente ( do Sivasspor) foi até a Rússia e conversamos. Na Turquia, o brasileiro é referência, independentemente se ganhou ou perdeu (lembrando da Copa do Mundo). Eles assistem muito Campeonato Brasileiro. Então, quando você chega a adaptação é muito rápida. O ambiente do futebol na Turquia é muito parecido com o do Brasil.

O futebol brasileiro está dentro dos seus planos para o futuro?

Um dia penso em voltar e pode ser até dentro de um curto prazo. Mas tenho um bom contrato aqui e o trabalho que está sendo feito é muito bom. E meu staff técnico ajuda muito. Antes da nossa chegada, ficaram em 12°. Neste primeiro ano que chegamos, ficaram em quinto.

Qual é a imagem do técnico brasileiro na Europa? Por que não conseguimos exportar esse profissional para as grandes ligas?

O técnico brasileiro não é muito falado pelos europeus, que são mais caseiros. A não ser Felipão que esteve no Chelsea e o (Vanderlei) Luxemburgo no Real Madrid, não existe técnico do país na Europa. Zico é muito respeito na Turquia quando treinou o Fenerbahce e, pelo que escuto, é o que conseguiu ter uma visão maior, até mesmo pela maneira de ele ser e pelo o que fez como jogador. O técnico brasileiro tem um estilo completamente diferente. Pode ser que isso atrapalhe.

O que você traz no seu trabalho para fugir desse "estilo diferente" do treinador brasileiro?

Venho do futebol com 18 anos de Europa. Já conheço o estilo de treinamento, mas trago um trabalho moderno. Pego um pouco de cada técnico com quem já trabalhei. Meu treino tem intensidade e o jogador trabalha feliz, até mesmo a parte física. Tudo envolve velocidade e força. Fazemos a planificação de que tudo o que será feito durante a semana, quando trabalhamos de segunda a sábado. Eles se surpreenderam com o que apresentamos aqui.

Pode dar mais detalhes do que faz?

Somos novos no mercado. Temos de criar uma maneira nova e ser uma referência. São muitos técnicos jovens buscando espaço. Peguei um pouco de tudo que vi. O que fazia na Seleção, a pré-temporada antes das competições... Hoje é diferente de quando eu jogava. Antes havia o bobinho e o coletivo. Agora, temos muitas coisas boas. Fazemos aqui uma hora e quinze de intensidade. No recreativo, por exemplo, treinamos uma jogada ensaiada ou de bola parada ofensiva e defensiva. E há também, claro, a preocupação com a recuperação e a alimentação.

Você disse que adotou um estilo mais boleiro para lidar com o jogador. Por que isso?

Peguei muito do Vicente Del Bosque essa maneira de trabalhar com o jogador, de ser amigo, treinador e professor. Tudo ao mesmo tempo. A parte psicológica na relação com o atleta é muito importante. Em certos momentos do treinamento e dos jogos você precisa trabalhar isso para que o jogador não se perca.

Com quem você conversou antes de tomar a decisão para ser técnico?

Conversei muito com Zico antes e ouvi vários conselhos. Falei também com Mourinho, Felipão. Queria ser assistente, segundo técnico, como foi no Anzhi. Mas Mourinho disse que pela carreira que tive e pelo estudo não teria que ser assistente. Então foi importante falar com essas pessoas, que deram força e orientações. Tive muitos técnicos. Claro que posso falar do Luxemburgo, Zagallo, Felipão, Zico, Fabio Capello, Vicente Del Bosque.

Desde a derrota para a Alemanha, discute-se no Brasil a crise técnica e de formação que atinge nosso futebol. Você concorda que o nível do jogo praticado aqui caiu?

O problema é que no Brasil temos muitos jogadores jovens. OS clubes lançam esses meninos com 17, 18 anos. Quando jogava, você tinha sete, oito jogadores de nível de Seleção ao lado. Não é que o nível tenha caído, mas os europeus igualaram. Usamos o exemplo da Alemanha, mas fizeram um trabalho durante oito anos. Temos de melhorar, mas não imitar ninguém. Precisa melhorar a escola, a formação e, ao mesmo tempo, usar a velocidade do jogo europeu.

E quanto ao trabalho de formação?

Quando comecei no União São João, você não tinha muito suporte a base para que os jovens possam crescer e desenvolver. Temos de criar escolas em cada parte do país e colocar técnicos para peneirar, escolher qualidade.

Dunga tem condições efetivas de liderar a reformulação da Seleção até a Copa de 2018?

Dunga está fazendo o que precisa ser feito, buscando o que outros sempre tiveram oportunidade. Aos poucos, o time conseguirá um padrão e ficará forte. É difícil ser técnico de Seleção. As cobranças vão existir sempre. Espero que encontrem a melhor Seleção. Precisamos a voltar a fazaer história dentro de campo.

No ano passado, você apostava em Marcelo como seu sucessor no Brasil. Com Dunga, ele não tido muitas chances. O técnico tem optado por laterais com perfil mais defensivo. Esta realmente é a melhor solução neste momento?

Não sei o que Dunga pensa sobre isso. Hoje mudou um pouco isso, desse lateral bem ofensivo como tinha eu e Cafu. Talvez, ele está optando por isso para primeiramente arrumar e, assim, está se organizando defensivamente. Mas na minha opinião Marcelo é o número um do mundo. Tem uma maneira diferente de jogar, sobe a boa. Gosto do lateral ofensivo. Os meus aqui são até demais.