A batalha de Bia: quando parar é, na verdade, seguir em frente!

Você já parou para pensar no que significa jogar em casa quando todo mundo espera que você vença? A última vez que escrevi aqui foi logo após o US Open, bem no início do SP Open, aquele WTA 250 que trouxe de volta a São Paulo o tênis feminino do mais alto nível. Era mais do que uma semana especial, era uma oportunidade gigante para todas as brasileiras, principalmente para a Bia.

Pense bem: jogando em casa, sendo a grande favorita, com a chance perfeita de ganhar mais confiança, somar 250 pontos no ranking e aliviar aquela pressão dos torneios pela Ásia onde teria que defender pontos. Parecia o cenário ideal, certo?

O ambiente do torneio estava simplesmente fantástico! O público prestigiando todas as brasileiras, a Bia em especial. Casa cheia todos os dias, a expectativa de todos era clara: ela levantaria o troféu no final da semana. Mas aqui está a questão: isso é um privilégio enorme ou uma pressão descomunal? Spoiler: é os dois ao mesmo tempo.

Se fora da quadra tudo estava perfeitamente desenhado, dentro das quatro linhas a história foi completamente diferente. E olha, a Bia é uma guerreira, muito profissional, aplicada, dedicada ao seu tênis. Dava para ver nos olhos dela o quanto queria performar e vencer na sua cidade natal. Mas sabe aqueles dias em que você está se esforçando tanto que parece que o resultado fica cada vez mais distante? Pois é, o jogo dela simplesmente não estava fluindo.

Era nítido, e quando digo nítido, quero dizer evidente, que o esforço para jogar era enorme. Mesmo com todas as condições a favorecendo, ela não conseguiu deslanchar e jogar solta. A derrota veio nas quartas de final para uma jogadora aplicada e super sólida, sim, mas que em outros momentos a Bia não tomaria conhecimento e passaria por cima. Ponto final.

Fico imaginando o quanto deve ter sido difícil dormir naquela noite... Se é que ela chegou a dormir, porque em seguida já estava no avião a caminho da Ásia para mais um giro de torneios. Vida de tenista profissional é isso aí, se às vezes não dá nem para curtir a vitória, imagina processar uma derrota dessas... Arghhhh...

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Mas aqui é onde a história fica séria. Em Seul ficou nítido e claro que a situação não estava legal e estava tomando um rumo perigoso. Foi preocupante, e uso essa palavra com todo o peso que ela tem, ver a Bia naquele estado dentro da quadra. Dava para ver que a brasileira estava sofrendo demais para jogar. Parecia uma panela de pressão prestes a explodir.

E vamos combinar uma coisa: todo tenista está sujeito a isso. A demanda física e emocional/mental do Tour é enorme, indiferente do nível em que se joga. Muitas vezes é o próprio tenista que segue inconscientemente alimentando esse quadro sem se dar conta de que está fazendo mal a si mesmo.

Conheço vários casos, vários mesmo, de jogadores que seguiram jogando e tentando superar na marra essa situação e que no final acabaram pirando, nunca mais voltando a jogar um tênis de alto nível e qualidade. É triste, é real, e é mais comum do que se imagina.

Aqui vai uma verdade que todo jogador de tênis precisa entender: você deve conhecer bem a sua válvula de escape e, mais importante ainda, ter muita coragem e sabedoria para saber acioná-la no momento certo.

Encerrar a temporada antes do seu término ou tirar um tempo off do Tour não é uma decisão fácil. Na verdade, é uma das decisões mais difíceis que um atleta pode tomar. Requer sabedoria para entender o momento e coragem para ir em frente, porque essa escolha afeta muitas coisas: o ranking, a premiação, os patrocinadores, o corpo técnico... para citar apenas algumas.

Quer um exemplo? Olha o caso da americana Amanda Anisimova, que optou por ficar vários meses fora do circuito e este ano voltou a jogar um tênis de altíssimo nível, fazendo 2 finais de Grand Slam. Mais recentemente tivemos anúncios de outras duas jogadoras do nível da Bia,  Daria Kasatkina e Elina Svitolina, antecipando o fim da temporada com o mesmo raciocínio e propósito.

Então, quando a Bia anunciou que iria dar um tempo e encerrar ali em Seoul a temporada de 2025, sabe o que eu senti? Fiquei aliviado e feliz. Isso mesmo que você leu. Acho que foi a decisão certa, porque pela minha vivência de Tour tenho certeza, e quando digo certeza, é certeza absoluta de que se ela continuasse a forçar a barra jogando daquela maneira, e com aquele astral, algo mais complicado iria acontecer. Não tem como evitar.

Acredito que este período fora do Tour será muito importante para a brasileira. Vai ser um momento para recarregar as energias, curtir a família e amigos, andar com o pé descalço e relaxar um pouco no seu dia a dia sem ter a pressão de competir semana após semana. Quando foi a última vez que ela pôde fazer isso?

Creio também que vai ser um excelente momento de reflexão, de olhar para dentro e para trás e valorizar tudo que ela já conquistou. Porque às vezes a gente se esquece disso, não é? Será um período para olhar mais a fundo o seu tênis como um todo, onde ela já chegou e o que precisará fazer para voltar ainda mais forte e ir mais longe.

Fico pensando..... Quantos jogadores e jogadoras não gostariam de ter feito algo assim no decorrer de suas carreiras?? Faltou visão? Faltou coragem? Esta parada dará à Bia a oportunidade de fazer um "reset" e voltar mais forte e mais completa. Tenho certeza de que a fará mais leve, o que certamente a levará com alegria à quadra. E tênis jogado com alegria? Esse é imbatível.

Estamos todos na torcida, Bia! Curta e desfrute o seu "time off", você merece!!

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Bia Haddad saca na partida contra a americana Amanda Anisimova no US Open (Foto: Al BelloAFP )

João Fonseca: Copa Davis, Laver Cup e os torneios de quadra coberta na Europa!

A Copa Davis mudou de formato, já não é mais a mesma de anos atrás. Concordo que perdeu um pouco do seu charme tradicional. Mesmo assim, jogar e representar o Brasil nesta competição é algo único, que normalmente traz emoções e vivências em quadra que são bem diferentes do que quando se joga o circuito.

Muitos jogadores abraçam a energia da competição e crescem, viram gigantes. Outros sucumbem à pressão e ficam pequenos, se apagam. É a natureza da maior competição por equipes na qual você representa o seu país, a sua bandeira.

Ganhar do Tsitsipas na Grécia diz muito sobre o João! Vamos contextualizar isso: aos 19 anos entrar em quadra e dar conta do recado para o Brasil jogando como visitante contra um Top Player é para poucos! Mostra outro perfil que o brasileiro tem e que o diferencia de muuuuitos. Mais um evento que na minha visão alavanca positivamente a carreira do brasileiro.

E a experiência de se jogar uma Laver Cup? Para mim foi mais um episódio que acelera o seu processo para se tornar um jogador Top. Ter ganho do Cobolli foi ótimo e talvez tenha nos dado um gostinho de como o João poderá jogar em quadras cobertas lentas... Mas sabe o que acho ainda mais valioso? Estar com Andre Agassi e Pat Rafter ao seu lado como treinadores. 

Pense nisso por um segundo: Andre Agassi e Pat Rafter! Estou certo de que tudo que foi feito e dito nesta semana em São Francisco foi extremamente valioso para o brasileiro. Estar com outros jogadores de destaque no seu banco, torcendo por ele, também conta muito ponto a favor quando você retorna ao Tour. São experiências que não têm preço e que formam não só o jogador, mas o profissional completo.

Fiquei feliz em ver que o calendário do João excluiu Shanghai, priorizou três semanas de recuperação e treino antes dos torneios em quadra coberta na Europa. Foi uma escolha inteligente, e quando digo inteligente quero dizer muito inteligente, não só pensando no término deste ano, como também como planejamento de carreira. Boa Gui!

O brasileiro certamente teve tempo de fazer ajustes que devem ter sido identificados no giro de torneios do US Open e vai chegar super bem preparado, bem descansado, principalmente se comparado a todos os outros jogadores que fizeram o giro de torneios pela Ásia. Essa vantagem é enorme e pode fazer toda a diferença para finalizar o ano com chave de ouro.

Olha, jogar na Europa em quadra coberta tem os seus desafios e peculiaridades. O dia a dia é diferente, os jogos começam mais tarde, é um tênis distinto. A bola fica muito redonda na raquete de todo mundo, as trocas são mais rápidas e o reflexo e a leitura antecipada fazem ainda mais diferença. Mas acredito que o João tem toda a condição de ser competitivo e um padrão de jogo que pode se encaixar como uma luva nessas condições.

E se ele pegar confiança? Poderá surpreender bastante. Tenho um bom pressentimento sobre isso. Veremos em breve!

Vai com tudo João! Na dúvida acelera!!!

Fico por aqui desejando o melhor para a Bia nesse merecido descanso e toda a sorte do mundo para o João na reta final da temporada. Pau na Bola!

Pardal.

João Fonseca, do Time Mundo, comemora após derrotar Flavio Cobolli, do Time Europa, no primeiro dia da Laver Cup 2025 (Foto: EZRA SHAW / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

Ace do Acioly no Lance!:

Ricardo Acioly escreve mensalmente no Lance! abordando o tênis. Leia mais publicações do colunista:

➡️ Ace do Acioly: Por que Bia e João vivem realidades opostas no circuito
➡️ João Fonseca e o xadrez do circuito: aprendizados, atalhos e armadilhas
➡️ Wimbledon: Game, Set, Match! Acabou a temporada de grama!

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