Improvisação, projeto social e brigas de rua levaram Robson até o boxe

Baiano se recorda de dificuldades até ingressar na nobre arte e se encontrar no esporte

Robson Conceição - Boxe
(Foto: Ari Ferreira/Lancepress!)

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Quem viu Robson Conceição elevando o boxe brasileiro ao posto mais alto do esporte com o ouro olímpico na Rio-2016 talvez não faça ideia de que antes de se tornar lutador o baiano era um legítimo "brigão de rua". Nascido em Salvador, ele cresceu no bairro Boa Vista de São Caetano, Salvador (BA), e só conheceu o boxe aos 13 anos.

O primeiro ídolo de Robson foi seu tio, mas não pelos motivos corretos. O lutador tinha o parente como referência devido ao estilo "brigão" que ele desempenhava nas ruas de Boa Vista de São Caetano.  

- Tenho um tio Roberto que brigava muito no carnaval, lá no nosso bairro. Ele era famoso por brigas de rua, e eu queria seguir o exemplo dele. Eu brigava muito na rua, todo dia, procurava briga na rua e por tudo eu brigava - lembra o pugilista brasileiro.

 
Imerso na rotina de "brigador de rua", o lutador começou a se interessar por luta, mas faltava dinheiro para pagar aulas de boxe. Robson então teve a ajuda do amigo Luiz Alberto, que treinava em uma academia e depois passava os ensinamentos nos fundos de sua casa. A improvisação para as sessões de treino não foram capazes de fazer com que o baiano desistisse de seu sonho.

- Ele treinava na academia e o que ele aprendia na aula ele me ensinava na casa dele, usando sandália havaiana para simular a manopla. Para a  bandagem, eu fingia que estava com o braço machucado, passava no posto médico, pedia para imobilizar o braço e ia treinar. Graças a isso sou campeão olímpico - reflete o medalha de ouro na categoria até 60kg.

A dificuldade foi amenizada quando o lutador completou 13 anos. Um projeto social em seu bairro oferecia aulas de boxe grátis a jovens de 13 a 16 anos. Mesmo diante da resistência da avó, Dona Neuza, o baiano insistiu e abandonou de vez as brigas na rua.

- Implorei para a minha vó Ana Neuza pata entrar. De início ela não quis, achava violento, mas a partir do momento que ela me inscreveu no projeto nunca mais briguei na rua - explica. 

Com o crescimento no esporte, Robson Conceição passou a ter nas ruas o apoio dos amigos e da vizinhança.

- Boa Vista de São caetano é o bairro do meu coração. Povo guerreiro, perdendo ou ganhando era sempre festa na rua, com trio, tambor, bomba... Agradeço muito a comunidade e graças ao incentivo deles hoje ganhamos uma medalha - recordou.

Se na juventude a mudança de postura foi necessária para que Robson seguisse alcançando seus objetivos o mesmo aconteceu em sua carreira olímpica. Depois de participar de duas edições do maior evento esportivo do mundo, em Pequim-2008 e Londres-2012, onde acabou eliminado na primeira fase nas duas ocasiões, Robson entendeu que precisava se focar. E ele conseguiu fazer isso logo na chance mais difícil, quando lutou no Brasil, em casa e diante de tantas distrações. 

- Sempre tive o sonho de chegar na Olimpíada. Cheguei novo, esperançoso com tudo e ficava feliz. Participei de duas. Mas só agora foi diferente, me desliguei de redes sociais, tudo. Nem os "pins" (broches temáticos famosos em olimpíadas) recebi para trocar na Vila Olímpica e até hoje não peguei um "pin". A medalha foi o resultado do meu foco e da minha vontade - concluiu.

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