O ex-presidente do Paraná, Rubens Ferreira Silva, o Rubão, tem 10% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube. O documento, obtido pelo Lance!, mostra a divisão entre o dirigente e o Tricolor, que possui os 90% restantes e tem negociação para vender.

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Rubão comandou o Paraná de outubro de 2021 a fevereiro de 2024, quando pediu afastamento por motivos de saúde. Nesse período, o clube constituiu a sociedade anônima em 2022, e o mandatário ficou com uma parcela.

- O percentual de 10% (para o presidente) foi uma garantia de que nunca venderiam 100%. Não há somente comprometimento, e sim um documento (para devolver), que está no clube. Foi apresentado em reunião do Conselho Deliberativo e consta em ata de reunião - justificou Rubão.

A Lei da SAF, de fato, permite que um clube venda 100% das ações para investidores, mas a prática não foi adotada por nenhum clube brasileiro até aqui, assim como constituir uma SAF com percentual ao presidente. Os times costumam criar a SAF com 100% das ações para depois manter, ao menos, 10% na venda para a associação ter o poder de vetar, principalmente, as alterações do nome, do escudo e/ou das cores.

Conselhos divergem sobre devolução de 10% da SAF

O presidente do Conselho Deliberativo, Eduardo Ombrellino, garantiu a existência do documento que devolve os 10% do ex-presidente ao Paraná e que foi apresentado em reunião. Ele também afirmou que qualquer conselheiro pode solicitar, embora nem ele e nem o ex-presidente tenham apresentado à reportagem.

- O documento existe e foi apresentado em reunião. Os conselheiros que solicitaram e tiveram acesso se darem por satisfeitos. Esse assunto era para estar superado - afirmou Ombrellino.

A medida adotada há três anos, contudo, gerou desconfiança por parte de conselheiros ouvidos pela reportagem. Esses paranistas alegam que foi falado do documento em reunião, mas nunca apresentado, e temem a possibilidade de Rubão vender os 10% da SAF.

O Conselho Fiscal, representado por Emerson Vieira, também solicitou a apresentação da documentação em três oportunidades e não foi atendido pelo Deliberativo. Ele ainda comentou que tal documentação não está anexada nas atas das reuniões e, mesmo que exista, o contrato de gaveta do ex-presidente "não se sobrepõe ao contrato da SAF registrado na junta comercial".

Outra dúvida é em relação à operação para vender as ações, já que Rubão e Ombrellino não souberam explicar o procedimento da divisão. Em edital recente, o Paraná colocou a venda de 90% da SAF por, no mínimo, R$ 212 milhões.

- A operação será conduzida de forma a atender os interesses do Paraná Clube e de todos os envolvidos, credores e investidores. Nossa torcida estará atendida - se limitou o presidente do Deliberativo, Ombrellino.

Apesar da promessa, a condução da possível venda da SAF não teve nenhuma transparência ao torcedor geral. Em 20 de outubro, os conselheiros vão avaliar a proposta da Nextplay, mesmo que ainda haja um leilão da SAF em andamento, com outros investidores podendo se habilitar.

Essa votação no Conselho Deliberativo também ocorre antes da Assembleia Geral dos Credores, marcada para 24 de outubro, que será decidida a aprovação ou reprovação do novo plano de pagamento da Recuperação Judicial (RJ). A aceitação é determinante para a venda da SAF ser concluída até o final deste ano.

Rubão deixou Paraná Clube sem calendário nacional

Rubão assumiu o Paraná na metade do segundo semestre de 2021, quando o clube lutava contra o rebaixamento na Série C e não conseguiu escapar. Logo na sequência, ele fez uma declaração famosa: "Tem que ser muito incompetente e ruim para deixar o Paraná numa situação pior do que se encontra”.

O presidente, contudo, conseguiu piorar o cenário paranista. Em 2022, o Tricolor foi rebaixado no Campeonato Paranaense, caiu na primeira fase da Copa do Brasil para o Pouso Alegre, que depois também o eliminou nas oitavas de final da Série D.

Assim, pela primeira vez na história, o Paraná não teve calendário nacional em 2023. No ano seguinte, Rubão se afastou, e o vice-presidente Ailton Barboza de Souza assumiu.

O Tricolor conseguiu o acesso no Paranaense, e Ailton Barboza se elegeu presidente em outubro de 2024 por aclamação. De volta à elite do futebol paranaense, o Paraná foi rebaixado novamente em 2025.

Assim, o clube chegará ao quarto ano seguido sem disputar um torneio fora do Estado. A única possibilidade é em 2027, caso conquiste a Taça FPF de 2026, que dá direito a escolher entre a Série D e a Copa do Brasil.

Os detalhes do edital da SAF do Paraná Clube

  1. valor mínimo: R$ 212 milhões
  2. R$ 42 milhões para dívidas com a Receita Federal do Brasil e o Banco Central do Brasil (Bacen)
  3. R$ 10 milhões para a construção de Centro de Treinamento na sub-sede do Boqueirão (até 2028)
  4. R$ 60 milhões para a Vila Capanema
  5. R$ 10 milhões anuais para o futebol (sem divisão)
  6. R$ 21,9 milhões (Série D)
  7. R$ 28 milhões (Série C)
  8. R$ 46,8 milhões (Série B)
  9. R$ 85 milhões (Série A)

Esses valores mínimos, vale destacar, serão feitos pela SAF vencedora se as receitas próprias não forem suficientes para cobrir as respectivas despesas e custos de investimentos.

SAF do Paraná Clube tem um favorito

A corrida pela SAF paranista, inclusive, tem um favorito para os próximos 10 anos: Nextplay Capital, que está em tratativa desde março. O grupo de emprésarios brasileiros e estrangeiros, liderado por Pedro Weber, que seria o futuro CEO, conseguiu o direito de preferência e tem até três dias úteis para cobrir a oferta concorrente.

Essa manobra é denominada 'stalking horse bidder', quando a empresa (Paraná) busca um interessado (investidor) para estabelecer um lance mínimo na venda dos ativos e que não veja por um valor muito abaixo do mercado. A estratégia é ter uma negociação prévia em que a primeira proposta condicionará os valores para eventuais investidores.

As quantias do edital, basicamente, foram feitas pela Nextplay para nortear o processo. Os demais interessados, por exemplo, precisam fazer uma proposta 10% superior para poder concorrer na compra da SAF. Caso essa empresa não seja a escolhida na venda da SAF, o investidor que comprar o clube tem que pagar R$ 2 milhões à Nextplay por ter iniciado a operação.

No final de agosto, o Paraná chegou a receber uma proposta vinculante de R$ 250 milhões. O empresário envolvido, contudo, não deve entrar na disputa aberta por entender que a diretoria já escolheu para quem quer vender a SAF.

Paraná Clube desiste de torneio por falta de dinheiro

Em julho, o Paraná desistiu de disputar a Taça FPF por falta de dinheiro. A competição dá vaga para a Copa do Brasil de 2026.

O torneio, que não acontecia desde 2019 e iniciou na metade de setembro, era um pedido recorrente do próprio Paraná por estar sem calendário nacional. O clube jogou a Série D pela última vez em 2022 e caiu novamente para a Segundona do Campeonato Paranaeste nesta temporada.

Para justificar a desistência, o Tricolor citou a "inviabilidade econômica e estrutural do torneio" e lamentou que a Taça FPF dará vaga para a Copa do Brasil e não para o Brasileirão. A retomada da competição, vale lembrar, estava programada no calendário da Federação Paranaense de Futebol (FPF) desde novembro do ano passado.

Além disso, o Paraná cita que está "em tratativas envolvendo a venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF)".

Paraná Clube tem prejuízo de R$ 8,4 milhões em 2024

De acordo com o balanço financeiro, o Paraná teve prejuízo de R$ 8,4 milhões no ano passado. O clube disputou apenas a Segundona do Campeonato Paranaense, competição vai jogar novamente em 2026 após a queda neste ano.

Já a dívida total subiu de R$ 162,7 milhões para R$ 171,6 milhões.

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